postado em 30/06/2010 07:43
As operações do Departamento de Trânsito (Detran) referentes à lei seca deverão ser suspensas no Distrito Federal. A decisão dos agentes do Detran, tomada ontem, é um protesto em relação à prisão de um servidor da autarquia, na madrugada do último dia 19, no Gama. Na ocasião, o agente, que preferiu ter o nome preservado, fazia uma blitz de rotina, quando recebeu voz de prisão de um policial militar, que teria se recusado a mostrar os documentos de sua motocicleta. Já a versão do PM é diferente. O soldado alegou ter sido agredido e usou a prerrogativa do cargo para chamar outros colegas de farda, algemar o fiscal de trânsito e conduzi-lo à delegacia no cubículo reservado aos presos em operações contra a criminalidade. Uma assembleia será realizada hoje, às 9h, na sede do Detran, atrás do Palácio do Butiri, para referendar o ato. O caso indignou o Sindicato dos Servidores do Detran (Sindetran). Segundo o presidente da entidade, Eider Almeida, os trabalhos só voltarão ao normal quando o diretor do órgão, Geraldo Nugoli, ;tomar uma atitude enérgica;. ;Não podemos aceitar que os nossos servidores sejam humilhados e achincalhados no exercício de suas funções. Ele (policial) foi abordado como todos os outros cidadãos e nem sequer estava fardado. A reação dele foi desproporcional e a direção do Detran, até agora, não se moveu para defender um de seus servidores;, reclamou Almeida.
Em resposta, a cúpula do Detran divulgou nota condenando a atitude do policial militar e já encaminhou um documento cobrando providências à Secretaria de Segurança Pública do DF, ao Comando da PM, ao Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público do DF, e à Corregedoria do DF. O texto também cita que as operações visando o cumprimento da lei seca serão realizadas normalmente, o contrário do que afirma o sindicato. ;A Direção-geral do Detran não compactua com esse tipo de conduta adotada pelos policiais militares envolvidos na ocorrência e adotará todas as providências necessárias ao esclarecimento dos fatos e à eventual responsabilização dos envolvidos. E lamenta o episódio, visto que o incidente trouxe prejuízos incomensuráveis tanto à população do DF quanto às boas relações entre o Detran e a Polícia Militar;, diz o texto. A assessoria de imprensa da PM limitou-se a dizer que o caso está sendo acompanhado pela Corregedoria da corporação.
Uma fonte consultada pelo Correio contou que a discussão entre o agente e o policial não ocorreu por acaso. O servidor do Detran, segundo a fonte, é irmão de um policial militar que trabalha no mesmo batalhão do soldado que efetuou a prisão. Os dois policiais teriam desavenças. ;O agente tem um irmão que também é militar e que não gosta desse policial que caiu na blitz. Quando o policial parou e reconheceu o agente como o irmão do seu desafeto, resolveu armar toda aquela história de que foi agredido para prendê-lo;, contou.
Se a promessa dos agentes for concretizada, as operações da lei seca ficarão prejudicadas. Ao todo, cerca de 60 agentes deixarão de ir às ruas abordar condutores. Esse trabalho ficará apenas a cargo do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran). ;As blitzes com a finalidade de verificar a documentação dos veículos e condutores continuarão normais, mas as referentes a bafômetro estão interrompidas;, explicou Almeida.
O diretor de Segurança de Trânsito do Detran, Silvain Fonseca, teme que o episódio abale a relação entre as duas instituições. ;Foi um caso isolado. Nós não podemos generalizar nem fazer com que isso tome proporções maiores.;