Após uma decisão da Justiça, a Fundação Athos Bulcão, localizada no Setor de Autarquias Norte, corre o risco de perder a sede. De acordo com a secretária executiva da Fundação, Valéria Cabral, a instituição foi notificada na terça-feira (29/6), por meio do secretário de Cultura, e tem o prazo de 10 dias para desocupar o local. A secretária explica que isso aconteceu porque a lei do Distrito Federal impede que instituições privadas fiquem instaladas em órgãos públicos, como entendeu o Ministério Público na ação de reintegração de posse. "A lei é dura, mas lei é lei", lamenta.
Valéria Cabral afirma que esta não foi a primeira vez. "Em 2008 fomos ameaçados com uma ordem de despejo. Naquela época, o governo nos ofereceu algumas opções de terrenos. Conseguimos um local no Setor de Difusão Cultural, que pertence à Secretaria de Cultura, mas precisamos que o processo se desenrole para nos mudarmos para o terreno que ainda será doado", explica.
Segundo a secretária executiva, a fundação ainda não se mudou porque, até hoje, a doação está em tramitação. "O ideal seria se tudo isso acontecesse em um momento em que tivéssemos desenrolado a tramitação da doação do espaço. Não temos a carta legal de doação do terreno, e sem isso não podemos pedir ao arquiteto que faça o projeto. Ainda é preciso dar entrada no Iphan, o projeto ser aprovado no Ministério da Cultura e conseguir os recursos para, finalmente, nos mudarmos", afirma.
A instituição entende o posicionamento da Justiça, mas destaca a dificuldade da situação. "Não é que não sabiamos, apenas fomos pegos de calças curtas. Não esperávamos que chegasse um documento que não permitisse recurso. Como mudamos um acervo artístico em 10 dias?", questiona.
Para Valéria Cabral, no momento, o que importa é tentar agilizar o processo do terreno. "Queremos dar ao professor Athos Bulcão o que ele merece, que é o reconhecimento da cidade. Queremos ter uma espaço, uma sede com dignidade para continuar a desenvolver o trabalho dele", afirma. Arquiteto, escultor, pintor, desenhista e mosaicista, Bulcão morreu em julho de 2008.
Segundo a funcionária, a fundação é responsável por distribuir o Jornal Radical para cerca de 90 mil alunos de escolas públicas e promover festivais de cinema que beneficiam a comunidade e mais de 300 alunos. Além disso, proporciona à sociedade palestras e exposições sobre o artista.
Sobre os rumos a tomar, Valéria diz ainda que hoje (30/6) a fundação recebeu uma intimação. "Ainda não tive tempo de ler. Nosso advogado está viajando. Mas, pelo documento, já sabemos que perdemos de 1 x 0", finaliza.
Fundação
Em 2 de julho de 2009, no dia do aniversário do artista, houve uma cerimônia de lançamento da pedra fundamental no local da possível nova sede. De acordo com a secretária executiva, o projeto deve custar em torno de R$ 4 milhões. Deve ser criado um museu permanente com galeria, auditório e salas de multiuso.
A instituição foi criada em 18 de dezembro de 1992 para preservar e divulgar a obra do artista plástico Athos Bulcão. Desde então, conta com um termo de cooperação, que virou convênio com a Secretaria de Cultura e Educação. "Fazemos as exposições e as ações. Por estarmos aqui, damos o crédito aos órgãos", explica Valéria Cabral.