Guilherme Goulart
postado em 01/07/2010 08:10
Dez meses desde o início das investigações do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul, as suspeitas em torno do crime se direcionam ainda mais contra os familiares das vítimas. A apuração, hoje sob o comando da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), entrou na fase final e reforça a linha aberta por conta da possível participação de parentes nas mortes do casal de advogados José Guilherme Villela, 73 anos, e Maria Carvalho Mendes Villela, 69. Os assassinatos ocorreram em 28 de agosto de 2009, quando também perdeu a vida a governanta Francisca Nascimento da Silva, 58. O triplo homicídio ocorreu no apartamento dos Villela, o 601/602 do Bloco C da 113 Sul.Enquanto os investigadores reúnem provas e montam o quebra-cabeça das circunstâncias dos homicídios, um novo elemento surgiu no inquérito. Trata-se de uma pequena lâmina, supostamente encontrada no apartamento da SQS 113. A existência dela foi informada à polícia logo depois de o imóvel ter sido liberado à família. Apareceu há algumas semanas, durante uma limpeza geral feita no local. Os responsáveis pela investigação souberam do objeto por meio de um familiar dos Villela, que pediu uma avaliação.
Os delegados da Corvida à frente do caso ; Luiz Julião Ribeiro e Mabel Faria ; não falam sobre o assunto. Mas fontes policiais ligadas à apuração dos assassinatos confirmaram ao Correio indícios de que a lâmina tenha sido colocada no apartamento depois das 10 perícias realizadas pela Polícia Civil do DF (leia Cronologia). Não havia sobre ela, por exemplo, sinais dos produtos químicos espalhados pelos peritos durante as buscas por vestígios de materiais biológicos dos assassinos. Os produtos especiais usados pelos investigadores, no entanto, apareciam com clareza no chão ao redor do objeto cortante.
Traços de sangue
Exames preliminares feitos pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do DF também revelaram que não havia traços de sangue na lâmina. Os ferimentos fatais provocados nas três vítimas ; o casal de advogados e a empregada receberam, ao todo, 73 facadas, segundo relatório do Instituto de Medicina Legal (IML) ; nem mesmo são compatíveis com as características do objeto recentemente encontrado no apartamento 601/602. O resultado definitivo do laudo deve ser concluído na próxima semana.
Caso a polícia comprove que a lâmina tenha sido plantada no local, não seria a primeira vez que algo estranho ocorre no inquérito dos Villela. Em 29 de abril, o Correio divulgou com exclusividade um exame do IC que desqualificou a única prova obtida até então pela polícia na primeira etapa da apuração. Em novembro, agentes da 1; DP prenderam dois homens em uma casa de Vicente Pirtes, onde encontraram uma chave que abria a porta de serviço do imóvel dos Villela. Mas os peritos acabaram descobrindo que essa chave era a mesma que havia sido recolhida pelos investigadores meses antes no local do crime. A corporação abriu investigação e apura se houve falha grosseira ou má-fé por parte dos policiais envolvidos na apreensão.
O episódio da chave culminou com a exoneração da delegada Martha Vargas da chefia da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul. Em 30 de abril, ela pediu afastamento da corporação por 30 dias. Alegou motivos médicos. Com o fim desse período, entrou com pedido de licença por tempo de serviço. Dessa forma, a sindicância aberta pela Corregedoria da Polícia Civil do DF fica parada, pois os responsáveis pela apuração não conseguem ouvir o depoimento da delegada. Quando retomados os trabalhos, a investigação interna pode render a Martha processos administrativos e criminais.
Sigilos telefônicos
A Corvida aprofunda, agora, as linhas de investigação que colocam a família dos Villela no rol dos suspeitos. Depois de colher depoimentos e cumprir mandados de busca e apreensão em imóveis de parentes das vítimas, os policiais se concentraram nas chamadas telefônicas realizadas pelos investigados. O trabalho, no entanto, esbarra em dificuldades. Há pedidos de quebra de sigilo telefônico autorizados pela Justiça do DF, mas não cumpridos por algumas operadoras de telefonia. Alguns deles passam de três meses.
A reportagem tentou contato via telefone celular com o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Pedro Gordilho, amigo e assessor jurídico dos Villela, mas não obteve resposta. Representante do escritório dele em Brasília informou que o advogado estaria em Paris. Em abril, ele enviou uma carta ao Correio na qual defendeu os filhos do casal assassinado. Revelou estranheza em relação às suspeitas da polícia por conta de uma suposta participação de familiares no triplo homicídio. ;(Eles) viveram e sofreram o imenso trauma da tragédia;, escreveu, na época.