postado em 02/07/2010 07:51
O Distrito Federal tem todos os motivos para estar alerta aos perigos da hantavirose. Segundo o Núcleo de Controle de Endemias da Secretaria de Saúde, só neste ano, já foram registrados 13 casos, sendo nove nas áreas rurais de Sobradinho, Taguatinga, Paranoá, São Sebastião e Brazlândia, além de três residentes de Goiás que foram encaminhados a hospitais da capital do país. Dos 13 infectados, nove morreram, resultando em uma taxa de 69,2% de mortalidade. A estatística do primeiro semestre deste ano já supera o total de 2009, quando nove brasilienses contraíram o vírus e quatro morreram. As chances de contaminação aumentam com a chegada da seca, quando o rato transmissor sai da toca em busca de comida e espalha fezes e urina que contêm o vírus.Por isso, entre maio e agosto, a Secretaria de Saúde intensifica a campanha contra a hantavirose, dando orientações sobre sintomas e a importância de procurar cuidados médicos o mais rapidamente possível. Apesar dos esforços, parece haver muitas dúvidas sobre como prevenir e combater a enfermidade. É o caso, por exemplo, da babá Roseane Oliveira Costa, 27 anos. Ela mora há oito anos em São Sebastião, onde surgiram os primeiros casos no DF, em 2004. ;Sei que é uma doença séria, mas não conheço os detalhes;, conta. Ela não sabia, por exemplo, que a contaminação se dá por meio da inalação de poeira de lugares onde o rato selvagem Necromys lasiurus, vetor do vírus, deixou fezes ou urina. Roseane toma precauções básicas como limpar a casa, que fica em frente a um matagal, com pano úmido e manter o lixo bem lacrado e a uma distância segura. Ela também vigia onde o filho Matheus, 2 anos, brinca. ;Ele está sempre calçado e nunca entra no mato;, garante.
Diferenças
Um dos principais enganos é sobre qual rato é o portador do vírus, que no DF é do tipo Araraquara. ;Muita gente acha que a ratazana e o camundongo, que são ratos urbanos, transmitem a hantavirose, o que está errado;, explica Maria Isabel Rao Bofill, veterinária da Vigilância Ambiental. Conhecido como ratinho do cerrado ou pixuna, o lasiurus não habita espaços urbanos. Ele vive em zonas rurais e perirrurais típicas de cerrado e caatinga. ;É um roedor que pouca gente vê;, diz o chefe do Núcleo de Controle de Endemias, o infectologista Dalcy Albuquerque. Como os sintomas da hantavirose são semelhantes aos de uma gripe ; febre alta, dor no corpo, mal-estar ;, Albuquerque ressalta a importância de avaliar se a alteração aconteceu após visita a uma área rural nos últimos 60 dias, como fazendas, chácaras etc. ;Essa informação é crucial no diagnóstico e é preciso procurar uma orientação médica o mais rápido possível;, instrui. O tratamento consiste em medicação para aliviar os sintomas e observação médica. A hantavirose ataca principalmente os pulmões e pode matar em muito pouco tempo.
A demora em buscar atendimento custou a vida de um familiar da doméstica Rosário Alves Santos, 33 anos. O garoto tinha 15 anos. ;Ele foi limpar um terreno onde havia muito mato. Depois de um tempo, ficou doente. Morreu depois de passar três dias internado;, conta. Apesar da perda, até hoje ela não sabe direito o que é hantavirose. ;Como tanta gente, eu achava que isso não ia acontecer comigo ou com alguém próximo.; ;Temos dado suporte técnico para que a informação seja objetiva e direta. É dever do Estado promover a conscientização, mas a população tem que ter todos os cuidados para que a chance de contaminação seja menor;, pede Laurício Monteiro Cruz, diretor da Vigilância Ambiental.
Contágio
A pessoa contrai hantavirose:
Por contato ; quando põe as mãos em superfícies contaminadas com fezes, urina e saliva de rato infectado e depois as leva aos
olhos, à boca, ao nariz ou ao ouvido.
Por inalação ; quando aspira a poeira vinda de ambientes
infectados, como ao varrer um terreno ou ao se deitar
diretamente sobre a vegetação (as fezes e a urina contaminadas ressecam e acabam virando pó).
Previna-se
Em um ambiente rural, sempre use sapatos fechados. Ao executar tarefas como recolher lixo e trabalhar em colheitas, use luvas.
Mantenha a casa sempre arejada.
Não deite sobre o capim nem no chão de celeiros ou galpões.
Jamais toque em ratos, mesmo se estiverem mortos
Não use o mato para fazer necessidades e jamais utilize vegetação para se limpar.
Antes de entrar em locais fechados e sem ventilação, abra a porta e espere 30 minutos. Depois abra as janelas e espere mais meia hora.
Não coma ou toque em frutos caídos no chão.
Evite varrer, isso levanta a poeira que pode estar contaminada.
Limpe o chão e os móveis com uma parte de água sanitária para nove partes de água.
Prefira armadilhas e ratoeiras a raticidas.