Ana Maria Campos
postado em 04/07/2010 08:17
A tradição no Distrito Federal de que suplente assume o mandato de senador virou a cabeça dos políticos nesta eleição. A disputa para compor a chapa dos principais concorrentes ; Cristovam Buarque (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB), Alberto Fraga (DEM) e Maria de Lourdes Abadia (PSDB) ; foi grande e ainda continua. Justamente por causa da vaga de substituto no mandato, o PSDB até ameaça romper a aliança com o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). O presidente regional da legenda, Márcio Machado, tinha a expectativa de ser o primeiro nome depois de Abadia. Mas acabou preterido pela escolha de Roriz pelo ex-deputado federal Osório Adriano (DEM).O imbróglio com o PSDB será decidido nesta segunda-feira, com a interferência da direção nacional que selou o acordo com Roriz depois do dilema sobre lançar ou não candidato próprio ao Executivo. Amanhã é o dia do registro das candidaturas e de uma decisão final. Machado não assinou a ata, encaminhada na última sexta-feira ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), com a indicação dos partidos que integram a coligação. A ausência de seu aval vai provocar uma diligência da Justiça. Machado, então, terá de confirmar se o partido estará ou não com Roriz. ;Não queremos romper, mas havia um acordo de que o PSDB indicaria o candidato ao Senado e os suplentes, mas esse acerto não foi cumprido;, reclama Machado, secretário de Obras do governo Arruda. A assessoria de Roriz nega o compromisso e garante interesse no diálogo.
Incomodou o presidente do PSDB-DF a negociação com o DEM. A legenda que já foi de José Roberto Arruda e Paulo Octávio só entrou na coligação de Roriz na última hora, quando os democratas perceberam que estavam mesmo isolados, sem uma composição partidária que garantisse coeficiente eleitoral na disputa aos cargos proporcionais, de deputados distrital e federal. Ao aderir à campanha de Roriz, o DEM conquistou o apoio para a candidatura de Fraga ao Senado e ainda a liberdade para escolher as suplências do ex-secretário de Transportes, além do espaço oferecido a Osório Adriano. ;Não é justo que tenhamos de abrir a chapa para outros partidos. Esse não era o acordo com o PSDB;, confirma o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB).
Fraga escolheu ainda seu segundo suplente, o empresário João Batista de Brito Machado (PMN), dono da loja Cimfel, de material de construção civil. Nem isso os tucanos puderam fazer. O segundo na chapa de Abadia será o pastor Egmar Tavares (PTdoB), uma escolha que levou em conta um apelo eleitoral entre os evangélicos.
Discussões
Na campanha de Agnelo Queiroz também há discussões. A definição pelos petistas Wilmar Lacerda e Hélio José, respectivamente primeiros suplentes de Cristovam e de Rollemberg, passou pelo diretório regional. Outros sete nomes estavam no páreo, entre os quais o ex-deputado distrital Chico Floresta e Chico Machado, que integra a corrente Movimento pela Reafirmação do Socialismo (MRS). Hélio José não era o nome da preferência dos aliados do deputado Rodrigo Rollemberg. Se a direção do PSB pudesse escolher, o substituto seria o petista Daniel Seidl, do grupo político da ex-vice-governadora Arlete Sampaio (PT), que teve papel de destaque no movimento pela aprovação da Lei da Ficha Limpa, no Congresso.
Rollemberg não entra no debate. ;Para mim, sempre foi importante que fosse alguém escolhido pelo PT;, desconversa. Na negociação para a composição da aliança partidária, a legenda de Agnelo aceitou abrir as duas vagas ao Senado para o PSB e PDT, mas os petistas fizeram questão de manter um espaço no eventual futuro mandato dos eleitos. Os segundos na lista foram cedidos às siglas aliadas. O PRB indicou seu presidente, Roberto Wagner, para a chapa de Cristovam Buarque. O PCdoB lançou o presidente do Sindicato dos Policiais Federais (Sindipol-DF), Cláudio Avelar, para a sucessão de Rollemberg.
1 - Vantagem
Os casos mais evidentes de vantagem na suplência são o de Gim Argello (PTB), que herdou sete anos e meio de mandato com a renúncia de Joaquim Roriz (hoje no PSC) e Valmir Amaral (PTB), que exerceu o cargo durante sete anos com a cassação de Luiz Estevão (PMDB). José Roberto Arruda, então no PSDB, renunciou em 2001 e seu substituto Lindberg Cury (DEM) foi senador até janeiro de 2003.
As negociações
Cristovam Buarque (PDT)
Um dos principais aliados de Cristovam no PT, o ex-presidente regional do partido Wilmar Lacerda será o primeiro suplente do candidato do PDT ao Senado. Ele foi um dos principais artífices no PT-DF da reaproximação de Cristovam com os petistas, depois de o senador ; ex-governador pelo partido ; deixar o PT e se transferir para o PDT. O segundo suplente de Cristovam será o presidente regional do PRB, Roberto Wagner. A escolha do empresário fez parte de uma negociação conduzida pelo candidato do PT ao Executivo, Agnelo Queiroz, para ter o PRB, sigla do vice-presidente da República, José Alencar, ao seu lado. Cristovam disputará a reeleição. Na atual legislatura, o primeiro suplente, Eurípedes Camargo (PT), assumiu por um ano quando ele foi ministro da Educação.
Rodrigo Rollemberg (PSB)
O petista Hélio José, líder da corrente Base Petista e Socialista, será o primeiro suplente. O nome foi indicado pelo PT num acordo segundo o qual a legenda cederia as duas vagas ao Senado desde que pudesse indicar o restante da chapa. Ele teve apoio do grupo liderado pelo deputado federal Geraldo Magela e do ex-presidente do PT-DF Wilmar Lacerda. Rollemberg sempre defendeu que seu substituto fosse alguém do PT, como forma de empolgar a militância do partido do presidente Lula. O segundo nome da chapa é o policial federal Cláudio Avelar, do PCdoB. Ele é presidente do Sindicato dos Policiais Federais do DF (Sindipol). Cogitou disputar um mandato de deputado, mas optou pela suplência.
Maria de Lourdes Abadia (PSDB)
A ex-vice-governadora terá como primeiro suplente o empresário Osório Adriano, dono do grupo Brasal. Ex-deputado federal, cargo que também assumiu com o afastamento dos titulares da coligação, ele é o presidente de honra do DEM. Na segunda suplência, o nome escolhido é o do Pastor Egmar Tavares (PTdoB), que teve quase 35 mil votos em 2006, quando concorreu a uma vaga da Câmara dos Deputados. Pastor da Igreja Assembleia de Deus, ele foi escolhido como forma de puxar votos do setor evangélico para a chapa. A escolha, no entanto, desagradou o presidente regional do PSDB, Márcio Machado, que espera ser o primeiro suplente, tendo outro tucano da executiva local, Antônio Barbosa, como segundo nome.
Alberto Fraga (DEM)
Ele terá como primeira suplente Anna Christina Kubitschek, presidenta do Memorial JK. Neta do fundador de Brasília e mulher do ex-vice-governador Paulo Octávio, ela é filiada ao DEM. Nunca disputou eleição. O segundo suplente, o empresário João Batista Machado (PMN), também não. Ele é dono da Cimfel, loja de materiais de construção no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Aliado de última hora de Joaquim Roriz, Fraga pôde indicar os dois nomes de sua chapa. O deputado federal trabalhou até o último minuto para disputar o GDF, mas não conseguiu formar uma coligação com outras legendas. Uma chapa puro-sangue significaria risco de prejuízo geral para os candidatos a deputados distrital e federal, que teriam dificuldades para fazer o coeficiente eleitoral.