Cidades

Internado no Hospital de Base, garoto espancado afirma: "Tive medo de morrer"

Luiz Calcagno
postado em 05/07/2010 07:53
Ainda internado no Hospital de Base do Distrito Federal e sem poder se levantar nem para ir ao banheiro, o adolescente de 15 anos espancado por oito jovens à luz do dia na Asa Sul, após sair do colégio onde estuda, o Centro de Ensino Fundamental Caseb, na última quinta-feira, começa a apresentar melhoras. Com metade do cabelo raspado e após passar por uma cirurgia para retirar um coágulo de sangue no cérebro, de tempos em tempos, quando está acordado, olha para a mão direita, ferida por um prego, e movimenta os dedos. ;Quando eu abro (a mão), arde, mas estou me curando bem;, diz. No fim da tarde de ontem, enfermeiros retiraram o dreno do cérebro do jovem. O Correio conversou, por telefone, com o adolescente, morador de Ceilândia, que disse não perdoar os agressores, mas admitiu que não buscará vingança. O rapaz disse que não voltará para o Caseb e que a agressão poderia ter sido evitada. O garoto e o primo da mesma idade foram atacados numa parada de ônibus, a poucos metros do colégio. O motivo da violência teria sido porque eles foram tirar satisfação com os agressores por estes terem provocado a prima, que estuda na mesma escola. Veja abaixo trechos da entrevista:

Como você está?
Eu estou bem. Às vezes, minha cabeça ainda dói. A cirurgia foi boa e rápida. Eu durmo muito. Tem horas que não fico nem 30 minutos acordado. Acordo só para almoçar. Só machuquei a cabeça. Teve um coágulo no cérebro. Eles (os médicos) botaram um dreno para tirar o sangue da minha cabeça. Minha mão ainda dói. Eles me agrediram com uma tábua que tinha um prego. Ela rasgou minha mão. Quando eu abro, arde, mas estou me curando bem. Por dentro, eu estou tranquilo.

Como você se sentiu no dia do espancamento?
Me senti injustiçado. Deus vai dar o deles de volta. Eram muitos contra dois. Eu estava na parada. As meninas que estavam comigo olharam e avisaram que eles (os agressores) estavam vindo. Eu procurei um pau, mas não achei. Chegaram e disseram que ;era a hora;. [SAIBAMAIS]Bateram no meu braço, depois bateram na minha cabeça, eu ia deitar no chão, por causa da dor, mas eles bateram no meu primo, então não cheguei a me deitar, levantei e fui defendê-lo. Aí eles me bateram mais. Disseram que segunda-feira iam matar a gente.

O que você pensou quando viu que estava cercado?
É muito ruim. Você não sabe o que vai te acontecer. Vê um monte de gente com pedaços de pau. Só sabe que vai apanhar e mais nada. É a pior sensação do mundo. Na hora, peguei meus materiais e entreguei para as meninas que estavam na parada, para eu ficar mais livre e me defender.

Você teve medo de morrer?
Fiquei com muito medo. Quando voltamos para a escola, ainda no caminho, eu vomitava e mal conseguia ficar de pé. Pensei que nunca mais ia ver minha mãe. Quando eu cheguei no colégio, o diretor me acalmou e eu lavei a cabeça no banheiro. Minha cabeça está cortada de ponta a ponta. Rasparam a metade do meu cabelo para a operação.

Você ainda vai estudar no Caseb?
Não vou mais para aquela escola. Tenho medo. Minha mãe vai me botar novamente no colégio onde estudava antes. Eu saí de lá porque minha mãe achava que o Caseb tinha um ensino melhor. Eu não quero mais. Não tenho coragem de entrar lá de novo.

Você aceitaria desculpas, se os agressores te pedissem?
Eu não sinto vontade de me vingar, mas também não aceito desculpa. Nem se fosse o pai que me pedisse. Não aceito, para que eles nunca mais façam isso novamente.

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