Jornal Correio Braziliense

Cidades

Violência escolar é praxe no DF

Dados da polícia confirmam que episódios como o que envolveu alunos do Caseb são comuns nas instituições de ensino. Mãe do garoto espancado por colegas diz que vai transferi-lo de colégio e exige punição contra os oito jovens que bateram no filho

A agressão sofrida por um aluno do Centro Educacional Caseb, localizado na 909 Sul, na última quinta-feira, não foi um caso isolado. Do total de ocorrências de brigas, ameaças, injúrias e assaltos registradas na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), 27% acontecem dentro ou nas proximidade das escolas do Distrito Federal. Os dados são do ano passado, mas a delegada-chefe da unidade, Eliana Alipaz Clemente, avalia que o quadro não se alterou muito em 2010. De acordo com a chefe da DCA, São Sebastião e Planaltina são as cidades que rotineiramente apresentam problemas dessa natureza, mas o Plano Piloto não fica atrás. ;Do total das ocorrências registradas, 27% se referem à violência escolar, seja dentro ou fora dos centros de ensino. É comum, mas apenas 1% dos casos chega ao extremo, como ocorreu agora com esse adolescente;, ressalta a delegada.

A afirmação dela é confirmada pelo presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília, Saulo Santiago. Para ele, a incidência de conflitos nas redondezas dos estabelecimentos de ensino, principalmente na região central, é culpa do estímulo à cultura da violência. ;São muitos os casos registrados nas escolas de Brasília e parece que a tendência é se tornarem cada vez mais comuns. O fenômeno que ocorre aqui no Plano é diferente das outras cidades. É a rixa com outra escola, o querer mostrar superioridade por meio da violência;, analisa Saulo Santiago.

Enquanto a polícia trabalha para concluir o triste episódio que quase tirou a vida de um estudante de 15 anos, o clima nos corredores do Caseb permanece tenso. Alunos, professores e outros funcionários lamentam que a brutalidade gratuita tenha manchado a imagem da instituição, que completou 50 anos no mês passado. ;Havia muito tempo que não tinha um caso assim na escola. A gente fica triste, pois tudo estava indo tão bem no cinquentenário do Caseb;, lamenta o professor de ciências Fabrício Alves.

Até agora, três dos agressores (todos menores) foram identificados. Em princípio, eles devem responder por lesão corporal grave, mas, com o andamento das investigações, a violência pode ser classificada como tentativa de homicídio.

Transferência
Ontem, o adolescente de 15 anos, que ainda se recupera das pancadas no Hospital de Base do Distrito Federal, recebeu da mãe a notícia de que irá concluir o ano letivo em outra escola. Ana Lúcia das Chagas Lessa pediu a transferência do filho, pois teme que ele seja novamente alvo da fúria dos oito jovens que, na última quinta-feira, espancaram o aluno até deixá-lo desacordado no ponto de ônibus da 710 Sul, que fica a cerca de 300 metros do Caseb. O primo do garoto também apanhou, mas sofreu apenas ferimentos leves. A pedido dos pais, ele também deve mudar de colégio. Assim como a prima de 12 anos, que teria sido o pivô da confusão (Leia Entenda o caso).

;Eu exijo que os agressores do meu filho sejam punidos com a expulsão da escola. No mínimo, a direção deve expulsá-los;, desabafa Ana Lúcia. Ontem, ela foi ao Caseb questionar a diretoria sobre o procedimento adotado antes do episódio trágico. ;Vim perguntar para o diretor por que ele aplicou uma punição ao meu filho e aos meus sobrinhos quando eles comunicaram que estavam sendo ameaçados. Acho que a escola não agiu corretamente. Deveriam ter me ligado e não liberá-los para correrem risco;, afirma.

Enquanto os pais das vítimas correm contra o tempo para matricular os filhos em outro estabelecimento de ensino para que o aprendizado não seja comprometido, os autores da selvageria continuam impunes. Ontem, um deles, identificado como o principal suspeito de agredir os dois garotos, assistiu à aula normalmente. Acompanhado do pai, ele não demonstrou arrependimento. De acordo com a mãe do garoto internado, o algoz do filho, ao vê-la na direção do colégio, fez um gesto ameaçador. ;Ele deu uma risada irônica e fez um gesto com a mão, como se fosse uma arma na minha direção. E o pai dele não fez nada para reprimir. O policial que estava próximo viu e o tirou do local;, conta a mãe da vítima.

A subsecretária de Educação Integral, Cidadania e Direitos Humanos, Ivanna Torres, informou que os três suspeitos serão transferidos para escolas próximas às residências. ;A direção da escola convidou os pais para discutir a questão e ficou acertado que tanto os agressores quanto os agredidos serão transferidos no próximo semestre.;

Francisca da Chagas Lessa, avó do jovem, que também foi à escola ontem, chamou a atenção por estar com os pés descalços. Ela jurou a Nossa Senhora Aparecida que, se o neto escapasse sem sequelas da cirurgia a que foi submetido para a drenagem de um coágulo no cérebro ; causado pela agressão ;, não usaria calçados até a virada do ano. ;Como tudo ocorreu bem, faça chuva ou sol, andarei descalça;, garante.

; Quatro perguntas para - Ana Lúcia das Chagas Lessa

A senhora culpa a escola por essa agressão?
Sim. A direção deveria ter me ligado quando tomou conhecimento da situação. Acho que eles agiram com negligência.

Vai transferir seu filho de escola?
Com certeza. Naquele lugar meu filho não pisa mais. Eu tirei ele de Ceilândia achando que as escolas de lá eram perigosas, mas estava enganada. Lá, ele nunca passou por uma situação dessa.

O que diria aos agressores?
Que eles reflitam sobre esse ato horrível. Se nessa idade, eles já resolvem os problemas assim, imagina quando forem mais velhos. O que farão no trânsito? No trabalho? Não tenho raiva deles, mas acho que devem pagar pelo que fizeram.

Como seu filho está física e psicologicamente?
Está mal nos dois sentidos. Graças a Deus, ele está se recuperando bem da cirurgia, mas ainda sente muitas dores e não tem previsão de alta. O psicológico dele também está muito abalado. Ele não consegue entender por que eles fizeram aquilo. Acho que vai precisar de um tratamento.