postado em 06/07/2010 07:00
O Distrito Federal ficou em primeiro lugar entre as unidades da federação no ranking das melhores no ensino fundamental, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - Ideb (1). O destaque entre as instituições de 1; a 4; séries foi a Escola Classe 106 Norte. Avaliada pela terceira vez, a instituição teve o melhor desempenho de todo o Centro- Oeste em 2005, com nota 6,1. No ano seguinte, perdeu apenas um décimo e caiu para a 11; posição da lista. Mas, de acordo com o resultado divulgado ontem, reconquistou a liderança na qualidade de ensino, com avaliação de 7,1. ;Desde que haja parceria entre a direção, os professores, as famílias e o governo, os índices de qualidade crescem. Se uma dessas variáveis falhar, o desempenho vai cair;, explica a diretora da escola, Isabel Miglio.Para ela, a vantagem em relação a outras unidades é composta pela tríade família, escola e governo. Um exemplo de parceria que ajudou a escola a conquistar a dianteira foi a criação de uma biblioteca e de um laboratório de informática, com 27 computadores. ;A criança que descobre a leitura se torna um bom cidadão leitor. Quem lê mais, escreve melhor e amplia o vocabulário;, ressalta Miglio. A participação das famílias é essencial no processo. Para aproximá-los, a escola passou a convocar reuniões individuais. Hoje, os parentes acompanham de perto a evolução das crianças.
Os professores também investem em assuntos da atualidade para atrair a atenção dos alunos em sala de aula. ;Eles não querem mais o feijão com arroz. Querem os ingredientes que dão sabor. Por isso, criatividade e tecnologia têm que estar associadas à caneta, ao quadro-negro, à palavra;, reflete a diretora. E os alunos concordam. ;A gente vem para a biblioteca e descobre um monte de novidades;, comemora Maria Eduarda Costa, 8 anos.
O Colégio Militar Dom Pedro II, criado e administrado pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF, também é exemplo. No ano em que completou 10 anos de existência, a escola conquistou o melhor índice entre as instituições de 5; a 8; séries, com média de 6,1. De acordo com o diretor da instituição, comandante Márcio Dantas, o segredo é conjugar a dedicação dos professores, a participação dos pais e uma estrutura adequada para o aprendizado. Ele mantém uma linha direta com todos os pais e responsáveis de alunos para receber críticas e sugestões. No endereço eletrônico, que Dantas batizou de Fale com o Comandante, todos os dias chegam comentários sobre a rotina da escola. ;Com base nessa participação, já alteramos o trânsito no horário de entrada e mudamos a regra das avaliações;, revela.
Desafios
A divulgação dos índices que avaliam as turmas de 1; a 4; série gerou também algumas insatisfações. A Secretaria de Educação do DF contesta a classificação do Caic Bernardo Sayão, em Ceilândia, como a escola menos produtiva de 1; a 4; séries ; com 1,7 de média. Segundo o órgão, o Ministério da Educação (MEC) cometeu um erro. ;Temos 968 alunos e uma boa nota na Provinha Brasil, um dos critérios usados pelo MEC para calcular o índice, tanto em português quanto em matemática. Nossa nota melhorou, como pudemos cair tanto assim no ranking? Nos anos anteriores, tínhamos mais de 4 pontos. A média da nossa escola esse ano, pelos nossos cálculos, deveria ser algo em torno de 5,7;, acredita a diretora do colégio Neuza Maria da Silva. A secretaria convocou técnicos para refazerem as contas do Ideb e pretende divulgar o resultado da análise nos próximos dias.
O penúltimo colocado entre as 330 escolas avaliadas de 1; a 4; séries foi o colégio Proem, próximo ao Parque da Cidade, com 1,9 de média. O centro de ensino fundamental é voltado, principalmente, para jovens em situação de risco. Há também adolescentes que nunca se envolveram com o crime, mas enfrentam dificuldades financeiras ou familiares. Alguns dos 150 estudantes matriculados ficam mais de um mês internados no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) e depois voltam a frequentar as aulas. A direção da escola reclama dos critérios usados para definir o ranking. ;Cumprimos todo o calendário do MEC, mas nosso jeito de trabalhar é diferente porque trabalhamos com crianças excluídas do ensino tradicional. É impossível nos avaliarem da mesma maneira que avaliam outras escolas;, explica a diretora do Proem, Maria dos Anjos Menezes.
Na avaliação de 5; a 8; séries, o pior desempenho veio do Centro Educacional 3 de Brazlândia, com média de 2,1. A diretora, Marlene Pereira, explica o porquê do fracasso. ;Faltaram professores de matemática e português no primeiro bimestre inteiro, em 2009. Além disso, recebemos muitos alunos de aceleração de aprendizado, ou seja, os que não aprenderam no ano anterior mas passaram de série por causa da idade. A falta de participação dos pais também atrapalha muito;, afirma. A escola deixou de oferecer a 8; série este ano e passou a matricular apenas estudantes do ensino médio.
Comemoração
O secretário de educação, Marcelo Aguiar, faz um balanço positivo dos números. ;O Ideb é um retrato da realidade. Temos muito o que comemorar. Estamos em primeiro lugar nacional de 1; a 4; séries. Essa melhora não ocorreu da noite para o dia. É um efeito de programas que vêm sendo aplicados como a educação integral e o projeto Ciência em foco. Também é um reflexo da maior qualificação dos nossos professores;, afirma Aguiar.
A boa classificação nas primeiras séries do ensino básico, porém, não deve ser motivo para acomodação. Afinal, o ensino médio ainda deixa muito a desejar no DF. ;O segundo grau é um problema em todo o país. Temos de adaptar a linguagem, trazer a realidade profissional para dentro de sala de aula e investir em novas tecnologias para atrair os alunos;, admite. ;Queremos melhorar e para isso a secretaria pensa em inaugurar a própria escola de ensino superior em educação, com foco na graduação, mas também no mestrado e no doutorado. Queremos suprir a deficiência que temos de professores de química e física, por exemplo.;
1 - Síntese
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007 e é divulgado a cada dois anos. Ele sintetiza os resultados de dois indicadores da qualidade da educação: o índice de aprovação e a média de desempenho dos alunos nas disciplinas de português e matemática. Esta é a terceira rodada de resultados, já que a série histórica começou em 2005, quando foram estabelecidas as metas de qualidade que deveriam ser atingidas pelo país, estados e municípios. Os dados permitem avaliar as regiões onde o ensino evoluiu e regrediu, e auxiliam na definição de políticas para elevar a qualidade das escolas.