Cidades

Ponto a ponto, costurando o sonho

Ceilândia, com duas escolas para formação básica em moda, tornou-se local de encontro de mulheres de várias cidades do DF que desejam mergulhar no universo fashion e dele emergir como estilistas

postado em 06/07/2010 07:00
O universo fashion fascina. É um delírio: o glamour das modelos elegantes indo e vindo com suas pernas esguias na passarela, a rotina de badalação dos criadores das grandes marcas. Tudo isso atrai os sonhos de centenas de homens e mulheres que querem fazer parte desse mundo de fantasias. Mas a impressão que fica é a de que as portas só estão abertas para um grupo seleto. Em meio à multidão, há quem almeje, em segredo ou não, ser chamado de estilista. Em Ceilândia, estudantes, donas de casa, microempresárias, desempregadas, enfim, toda sorte de pessoas vindas dali e de outras regiões encontra espaços onde pode se aproximar um pouco mais da atmosfera da moda. Elas quebram preconceitos e cultivam a fé em si mesmas.

Para mulheres de diferentes profissões, a passarela com modelos elegantes já não está tão distante. Nos cursos, elas começam a se identificar com os variados estilos e muitas pensam em lançar a sua marca no mercado

Pelo menos três instituições oferecem aulas gratuitas, ou a preços simbólicos, para os que planejam entrar no mercado da moda, mas têm limitações financeiras. Na Escola Técnica de Ceilândia (ETC) há cursos de designer de moda e estilismo e modelagem, desde 2009. É cobrada taxa única de R$ 50 para compra de materiais, manutenção do espaço, entre outras despesas. O valor é irrisório se comparado à mensalidade de uma faculdade particular de moda, que pode passar de R$ 1 mil. Em breve, os cursos básicos de dois meses, três vezes por semana, oferecidos pela ETC devem se transformar em cursos técnicos, com a inclusão do visagismo ; serviço que cuida da imagem pessoal por completo.

Mulheres dos 16 aos 60 anos se divertem enquanto aprendem uma profissão e viajam longe, sonham alto. Há entre 15 e 20 alunas em cada uma das quatro turmas comandadas pela professora Marciana de Souza. Elas aprendem a desenhar, têm noções de história da moda, estilo, de qual é a roupa adequada para cada tipo de corpo e, por fim, desenvolvem uma coleção. A desse bimestre tem como tema as formas geométricas, tudo com um toque de patchwork, técnica que privilegia o aproveitamento de retalhos.

A professora Marciana garante que qualquer um pode ser estilista, %u201Cdesde que goste, tenha persistência e estude muito%u201D

Uma das estudantes, Marlene Alves, 44 anos, moradora de Samambaia Sul, já pensa em montar a própria grife. ;Tenho até um nome: Nazareno. Vai ser para pessoas que vestem tamanhos maiores. É difícil achar roupas bonitas que caibam. Por isso, vim me qualificar;, explicou Marlene. Ela sempre costurou, gosta de idealizar um modelo, desenhar e vê-lo sair do papel. Mas não imaginava poder viver disso. Agora, exibe vaidosa as peças que produziu.

Dinheiro
A atividade, além de diversão, pode garantir uma boa renda a quem acreditar no próprio talento. As amigas Luciana de Freitas, 30 anos, e Rosenalda Gonzaga, 35, saem do Núcleo Bandeirante rumo a Ceilândia três vezes por semana para aprender tudo que precisam saber a fim de montar uma loja com marca desenvolvida pela dupla: a Diva Rosa, de moda praia e fitness. ;Moda não é só se vestir bonitinho. Tem toda uma história, uma função e jeito de funcionar dentro da sociedade;, ensina Luciana, que cursa designer de moda e pretende se matricular nas aulas de modelagem (nas quais se aprende a fazer os moldes de uma roupa) em seguida. ;Desde pequena eu mexia na máquina de costura da minha mãe. É um gosto natural;, explicou Rosenalda.

Marciana, a responsável por expandir os horizontes dessas mulheres, vê a moda com seriedade, mas também como uma terapia. ;Moda é um sonho e o desfile é como um show. Qualquer um pode ser estilista, desde que goste, tenha persistência e estude muito.; A professora ainda enxerga esse aprendizado com um viés econômico. ;Queremos colocar Ceilândia no circuito da moda. Gerar empregos. Brasília ainda é carente de estilistas, costureiros e principalmente modelistas. A procura pelo curso de design de moda ainda é pequena. As pessoas precisam acreditar mais nessa área como forma de ganhar dinheiro e se realizar, não importa a classe social;, afirmou Marciana, que cursou faculdade de moda e está no mercado há 20 anos.

Aprendizado
Na Associação Cultural Menino de Ceilândia, dezenas de alunas também já aprenderam, sem pagar nada, noções básicas de estilismo: como montar um visual, fazer desenhos de moda, combinar cores e tecidos, entre muitas outras etapas. Dois estilistas profissionais comandam as lições. Uma das aprendizes, Carla Cristina de Almeida, 31 anos, moradora de Vicente Pires, se dedica a construir a própria marca de bolsas. ;Já comecei a trabalhar. Antes eu fazia as bolsas em vários materiais, mas depois do curso melhorou muito. Vendo em casa, no salão de beleza, para os amigos, parentes;, relatou Carla.

A moradora de Ceilândia Vilanir Cardoso da Silva Mendes, 45 anos, já tem no currículo cinco cursos relacionados a costura e estilo, todos feitos de graça. Ela começou a estudar há pouco tempo, mas sempre sonhou em montar a própria loja e ser dona de uma grife de roupas e acessórios. ;Eu tenho filhos e não tinha tempo nem acreditava que trabalhar com isso era possível;, explicou. O plano parece cada vez mais próximo de se realizar. ;Nos cursos, acompanhamos desfiles e eu vi que é uma área que promete muito no DF e está despontando, e quem se qualificar vai se dar bem;, explicou.

Portas abertas
Com as aulas, Vilanir descobriu que leva jeito para estilista. ;É algo que me dá muito prazer. É delicioso vestir bem uma pessoa, ver que ela gostou;, disse. Segundo Vilanir, as portas nesse mercado se abriram para ela depois das aulas. ;Sempre gostei dessa área. Mas não imaginava que eu daria certo nela. Pensava que estilismo era algo muito distante. Mas já estou costurando para uma loja e ganhando o meu dinheiro. Em breve, vou realizar meu sonho de ter a minha grife;, acredita. ;Dá até para trabalhar com montagem de vitrine, costuram em larga escala, algo mais personalizado, é só comprar as máquinas e escolher. As professoras da Menino de Ceilândia passam muita segurança. Incentivam a gente a se esforçar e investir;, afirmou Vilanir. ;Esses cursos não têm todo aquele glamour, aquela propaganda, acontecem em um lugar fechadinho. As pessoas não imaginam onde podem descobrir talentos;, concluiu.


Cursos
  • A Associação Cultural Menino de Ceilândia abre inscrições em julho. Informações: 3373-2741.
  • Na Escola Técnica de Ceilândia as matrículas para o próximo bimestre já estão em andamento. Informações: 3376-5217.

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