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DF precisaria de 3,2 vezes mais áreas verdes para neutralizar o gás carbônico produzido

Pesquisa revela que seria necessário uma área verde 3,2 vezes maior que o DF para neutralizar as 3,2 mil toneladas de gás carbônico produzidas a cada ano pelos veículos que circulam atualmente na cidade

postado em 08/07/2010 08:07
Segundo dados levantados pelo estudo, o crescimento da frota de veículos se dá de maneira inversamente proporcional às áreas capazes de absorver os poluentes produzidosOs grandiosos congestionamentos que aumentam em Brasília a cada ano não são o único transtorno gerado pelo galopante crescimento da frota do Distrito Federal. Para neutralizar o gás carbônico emitido pelos automóveis que transitam pelas ruas da cidade seria necessário que a capital contasse com uma área verde 3,2 vezes maior que o DF. É o que revela um estudo realizado por professores da Universidade Católica de Brasília (UCB). Pelo cálculo dos pesquisadores, apenas um terço do total de carros, que somam hoje cerca de 1, 176 milhões de unidades, despeja anualmente mais de mil toneladas de CO2 na atmosfera. ;O agravante desse quadro é que enquanto aumentamos continuamente a frota (aumento de emissões), reduzimos continuamente a nossa área verde (redução da capacidade de absorção).; A avaliação consta da minuta do estudo que vai compor um trabalho ainda mais amplo sobre os riscos e as vulnerabilidades ambientais do DF. A pesquisa ainda considerou a Mata Atlântica como área verde de absorção, que é composta por uma vegetação mais densa que o cerrado, que absorve menos gás carbônico. ;O objetivo da pesquisa é fornecer subsídios para o planejamento e a implantação de medidas que visem melhorar a vida das pessoas. Estamos enfrentando uma situação global muito óbvia da nossa sustentabilidade. Se não mudarmos as nossas intervenções vamos sofrer as consequências;, alerta o coordenador do estudo, o professor Genebaldo Freire. Cálculos Na metodologia usada na pesquisa, os cientistas consideraram a composição do combustível consumido pela maioria dos automóveis, definida como gasol (uma combinação de álcool e gasolina), a quilometragem média rodada por veículo(50km/dia) e a quantidade de gás carbônico emitido por cada quilômetro percorrido (cerca de 150g). Por meio dessa equação, concluíram que seria preciso uma área florestal de 19, 2 mil km;, taxa 3,2 vezes superior ao território do DF, que é de 5.882km;. Se os 1, 176 milhões de carros fossem às ruas todos os dias, o dano ambiental seria ainda maior. A emissão de gás carbônico anual estimada seria de 3,2 mil toneladas, sendo preciso uma área verde equivalente a 9,7 DFs para neutralizar a poluição. ;Não há como se pensar em políticas de redução do efeito estufa (veja arte) sem falar em melhorar o transporte público. O sistema é precário em todo o Brasil. Brasília, especialmente, é muito dependente do transporte individual e isso faz com que a emissão per capita de gás carbônico seja muito elevada;, analisa o professor Saulo Rodrigues Filho, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB). Além de investir em transporte público, repensar o planejamento urbano da cidade é outra medida que pode amenizar o problema. ;Seria preciso criar outros centros para que as pessoas não precisem se deslocar tanto para realizar suas atividades;, analisa Joaquim Aragão, professor da UnB e especialista em trânsito. Projeções à parte, na prática, o brasiliense já sente o impacto do excesso de poluentes no ar. O vendedor Adriano Brandão de Souza, 23 anos, vende livros próximo a uma parada de ônibus no centro de Taguatinga e sente diariamente as consequências do grande volume de carros nas vias da cidade. ;Se venho trabalhar de branco, a sujeira do ar fica nítida na roupa. Quando chego em casa, vejo no espelho que meus olhos estão bastante vermelhos. Também sinto ardência ao respirar e coceira nos olhos;, queixa-se.
Qualidade do arO vendedor ambulante Adriano Brandão de Souza diz sentir na pele os efeitos das impurezas do ar Em maio, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) divulgou um estudo, feito em parceria com o Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes (Ceftru) da UnB, sobre a qualidade do ar do DF. Dos sete pontos analisados em cinco localidades, apenas dois apresentaram índice considerados bons pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O levantamento apontou que os níveis de poluição da da Fercal, da Rodoviária do Plano Piloto e do centro de Taguatinga ultrapassam o limite considerado aceitável pelo órgão ambiental, que é de 80 microgramas de partículas poluentes por metro cúbico de ar. O PESO DAS EMISSÕES 1,176 milhão Número de veículos do DF (até maio de 2010) 1.066.000 toneladas Quantidade de CO2 emitida anualmente por um terço da frota do DF Faça as contas Aprenda a calcular a quantidade de gás carbônico que o seu veículo emite por ano (o resultado será em gramas): Marque a quilometragem rodada pelo seu carro durante um dia, multiplique por 150 (quantidade de gramas de CO2 emitida por quilômetro rodado) e multiplique o resultado obtido por 365 (dias do ano) Ex: 100km X 150 X 365 = 5.475.000 gramas ou 5, 475 quilos de CO2 por ano Motorizados Quantidade de veículos per capita DF - 2,2 por habitante São Paulo - 1,6 Rio de Janeiro - 2,6 Fontes: Detrans estaduais e IBGE O verde está sumindo Em 2010, o Distrito Federal alcançou a marca de 2,2 automóveis por habitante. Em 10 anos, a frota do DF mais que dobrou. No início da década, eram 585.424 veículos registrados no Departamento de Trânsito do DF (Detran). Hoje, o número passa de 1,176 milhões ; dados de maio. Já a área verde da capital da República tem diminuído de forma assustadora. De acordo com o presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Gustavo Souto Maior, nos últimos 50 anos, cerca de 70% da cobertura vegetal do Distrito Federal foi tomada, principalmente, pela ocupação urbana e pela atividade agrícola, com destaque para a produção de soja. ;Praticamente o que restou foram as Unidades de Conservação de Proteção Integral, como o Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Águas Emendadas, o Jardim Botânico de Brasília, a Reserva Ecológica do IBGE e a fazenda Água Limpa da UnB;, relata Souto Maior. Segundo ele, a área verde preservada representa menos de 30% do total do quadrilátero. ;A cobertura vegetal serve para sequestrar o carbono emitido para a atmosfera, se isso não ocorre, estamos contribuindo para o aquecimento global;, explica o presidente do órgão ambiental. Para Souto Maior, o DF está na contramão do desenvolvimento sustentável, especialmente no que diz respeito ao transporte. ;Em vez de estar tirando os carros da rua, estamos incentivando o transporte individual. É cada vez maior a facilidade de crédito para se adquirir um veículo. É necessário duplicar pistas e construir viadutos, mas essas são soluções paliativas. O problema pode ser resolvido aparentemente, mas, depois, tudo estará engarrafado de novo.;(MS)

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