Cidades

Folga escolar eleva os gastos dos pais

Embora o recesso de julho seja menos perigoso para as finanças que o do fim de ano, os gastos domésticos sentem o impacto da demanda de crianças e jovens que querem aproveitar a temporada fora do colégio com mais diversão

postado em 08/07/2010 08:15
Jacqueline não consegue convencer as filhas Giovanna e Júlia a se divertirem em espaços gratuitos. O resultado é mais despesa para o bolsoChegou a hora de pais e mães colocarem a mão no bolso. A maioria das escolas da capital federal deu início ao recesso de meio de ano, e, portanto, a garotada está com tempo livre e louca para se divertir. Diferentemente de janeiro, muitos adultos não têm férias nessa época do ano e não podem viajar em família. As opções de entretenimento para crianças e adolescentes, portanto, são shoppings, cinemas, parques com brinquedos e jogos eletrônicos e colônias de férias. Julho, mês de verão na América do Norte, também é quando acontece a corrida desenfreada para a Disney, que está com seus parques aquáticos funcionando a todo vapor. Dentro ou fora da cidade, a brincadeira dos filhos sai ainda mais cara para os pais, levando-se em conta que mensalidades do colégio, de cursos de línguas, natação e afins continuam sendo pagas no período.

;As férias de julho são financeiramente menos perigosas do que as de dezembro e janeiro. Primeiro, porque são menos dias de recesso. Segundo, porque no início do ano há uma série de compromissos e impostos que comprometem a renda da família. Mas, se não houver cuidado com os gastos, as coisas podem sair do controle na metade do ano também;, alerta Rogério Boueri, professor do curso de economia da Universidade Católica de Brasília. Quem foge de alternativas que envolvem desembolso explícito, tais como colônias de férias e dispendiosas viagens ao exterior, justamente por querer manter o orçamento nas rédeas, deve ficar atento, ensina Boueri.

Valores
Basta fazer as contas. O custo de três noites básicas em família, com shopping e cinema, pode atingir facilmente valores que vão de R$ 360 a R$ 400. Um casal com dois filhos que decida assistir em uma sala 3D(1) a um dos muitos lançamentos cinematográficos da temporada, por exemplo, vai desembolsar R$ 26 a cada ingresso para adulto, ou seja, R$ 52 ao todo, e R$ 13 a cada meia entrada, totalizando de R$ 26. Com os números somados, assistir ao filme custa R$ 78. Se todos lancharem depois da atração, a um custo médio de R$ 15 a comida, os gastos serão R$ 60. O passeio custará R$ 138. Se acontecer três vezes, R$ 414 serão despendidos no mês. Em uma sala de cinema normal, com bilhete para os pais a R$ 20 e para as crianças a R$ 10, o programa fica levemente mais barato. Considerando os mesmos preços para refeições e que serão três saídas durante as férias, sai a R$ 363.

O dilema é bem conhecido da dona de casa Jacqueline Peres Marques de Oliveira, 31 anos. Ela tenta fazer as filhas Giovanna, 8, e Júlia, 6, se interessarem por passeios em parques ecológicos ou idas aos parquinhos gratuitos das quadras de Brasília. As meninas, entretanto, sempre batem o pé querendo shopping, cinema e brinquedos eletrônicos, mais sofisticados. Ela calcula que os gastos da família são acrescidos em pelo menos R$ 300 com o recesso de meio de ano. ;Isso mesmo eu mantendo um certo controle;, afirmou. O publicitário Carlos Ferreira, 49 anos, pai de João Vítor, 7, afirma que os gastos extras chegam a R$ 200 em julho, com a família buscando alternativas. ;Na próxima semana, ele vai para a casa da tia em Belo Horizonte. Lá, fica com os primos. Aqui, fica sempre cobrando. Quer comer, fazer, comprar algo;, conta ele, que trabalha pela manhã e alterna com a esposa, que dá expediente à tarde, a tarefa de cuidar do menino durante as férias de meio de ano.

1 - Tecnologia
As salas de cinema 3D são o hit do momento. Nelas, o espectador tem a sensação de que as imagens do filme ;saltam; da tela. Muitos filmes estão sendo produzidos com a nova tecnologia, especialmente aqueles que têm como público-alvo crianças e adolescentes. O infantil Toy Story 3, que está em cartaz e é sucesso de bilheteria, é um exemplo.


Programas alternativos reduzem a conta

O professor do curso de economia da UCB Rogério Boueri tem algumas dicas para pais não serem pegos na armadilha de gastar em excesso nas férias de julho. Uma delas é evitar parques de diversões e jogos de shopping, em geral caros. ;Esses são locais para as crianças se divertirem enquanto os adultos fazem compras. Se não for esse o objetivo, sugiro outros programas;, afirma. Ele cita os parques com brinquedos elétricos ao ar livre e mesmo os parquinhos gratuitos, com escorregadores, balanços e afins. Mesmo que a criança torça o nariz, deve haver um esforço de convencimento. O professor lembra, ainda, que pipoca e refrigerante encarecem o cinema, especialmente em se tratando de famílias numerosas. ;Como a maioria das salas de Brasília permite entrar com lanches, dá para levar doces comprados fora;, ensina.

Enquanto alguns pais estão com o pé no freio com relação às despesas, outros se planejaram para fazer do recesso de meio de ano um momento especial na vida dos filhos. Segundo estimativa da Associação Brasileira das Agências de Viagem no DF (Abav-DF), 2 mil pessoas, a maioria com idade entre 10 e 14 anos, embarcarão de Brasília para Orlando, nos Estados Unidos, até o fim deste mês. O destino é o complexo de parques da Disney. A procura cresceu de 80% a 90% com relação aos demais meses do ano.

;Julho é o mês da Disney, a demanda é altíssima;, declarou. Segundo Carlos Vieira, diretor da Abav-DF, os pacotes para Orlando, incluindo em média 10 dias de viagem, começam a ser vendidos em meados de março, e custam cerca de US$ 3,4 mil (R$ 6.120) por pessoa. Além dessa quantia, os viajantes são instruídos a levar US$ 800 (R$ 1.440) para gastos pessoais. O custo total atinge US$ 4,2 mil (R$ 7.560).

Babás
Algumas famílias que trabalham em julho enfrentam o problema de não ter com quem deixar as crianças no período. Fernanda Romancini, proprietária da franquia brasiliense da agência de babás Kanguruh, diz que a demanda sobe de 80 para até 130 clientes nas férias. Ela consegue atender apenas 10% da demanda emergencial. ;Poucas profissionais no nosso catálogo aceitam trabalho temporário;, explica. Uma alternativa às babás são as colônias de férias, que em geral recebem as crianças por meio período do dia. Os valores vão de R$ 180 a R$ 370, dependendo da inclusão de lanche nos serviços, ou de atividades extras com os pimpolhos.

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