Cidades

Acusados de terem assassinado jovem de 18 anos vão a júri hoje

Mardiney de Carvalho Lopes foi confundido com integrante de gangue rival e levou dois tiros na cabeça

postado em 08/07/2010 08:15
Um ano depois de ter o filho morto por uma gangue de Samambaia, Francinilva de Carvalho Lopes, 47 anos, vai ficar frente a frente com os supostos assassinos dele. O empacotador de supermercado Mardiney de Carvalho Lopes, que à época tinha 18 anos, conversava com amigos numa lanchonete da QR 403 daquela cidade, quando acabou atingido por dois tiros na cabeça. Dois dos quatro acusados pela morte do rapaz irão a júri hoje. O julgamento de Laiuço de Brito Santos, 20, e Michael da Mata Silva, 18, está marcado para as 8h30 no Tribunal de Samambaia. Eles serão julgados por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e lesão corporal, porque feriram outras pessoas. Se condenados, podem pegar até 30 anos de prisão.

O crime ocorreu na madrugada de 6 de julho de 2009. Mardiney conversava com seis amigos e o dono da lanchonete onde estavam, na QR 403, quando foram abordados por um grupo de quatro rapazes desconhecidos. Armados, os visitantes os obrigaram a deitar no chão. Um dos agressores teria dito, segundo testemunha, a seguinte frase: ;Vocês é que gostam de matar o pessoal da 603;. Ele se referia aos moradores da quadra 603, que tinham rixa com os da QR 403, onde encontravam-se as vítimas naquele momento. Em seguida, deram coronhadas na cabeça delas. Com medo, a testemunha saiu correndo. De longe, ouviu vários disparos. Um jovem que estava deitado viu quando um dos desconhecidos aproximou a arma da cabeça de Mardiney e o atingiu com tiros. Outro jovem também recebeu um tiro na coxa esquerda. Laiuço e Michael estão presos. Os outros dois acusados continuam soltos. Valdeir Alves de Brito, 18 anos, está foragido e Felipe Gonçalves Dias responde pelo crime em liberdade.

Mais que a pena máxima aos acusados, a família espera que a justiça seja feita. Na ocasião, a imprensa divulgou que o crime teria sido um acerto de contas. Mardiney faria parte de uma gangue rival do suposto grupo autor dos disparos que o vitimaram. Mas o local onde residia o empacotador ; a QR 401 ; não tinha rixa com a gangue que o matou. Além disso, o então delegado responsável pelo caso, Edson Viana de Oliveira, da 26; Delegacia de Polícia (Samambaia), declarou para os jornalistas que todos os jovens envolvidos no episódio tinham passagem por algum tipo de crime, inclusive a vítima. Mais tarde, Viana corrigiu o equívoco que cometera em um programa de TV: ;Não foi a nossa intenção denegrir a imagem de ninguém;, lamentou o policial.

Mas as declarações dele reproduzidas pela mídia já haviam causado estragos à família de Mardiney. Constrangidos e com medo, a mãe e os irmãos da

vítima tiveram de deixar Samambaia. Eles alugaram a casa, comprada havia um ano, e se mudaram para um pequeno apartamento em outra cidade do Distrito Federal. ;Até os meus parentes, que estavam em outro estado, ficaram duvidando da inocência dele;, recorda Francinilva.

Ela e os dois filhos ; Mileidy de Carvalho, 25 anos, e Mardson Mateus de Carvalho Lopes, 13 ; prometem comparecer ao Fórum de Samambaia. ;A gente espera que sejam feitas a Justiça e a vontade de Deus;, diz Francinilva. ;O sonho do meu filho era pegar a carteira de habilitação. Ele já tinha sido aprovado nos exames;, disse a mãe. ;Como um jovem que pensava em doar os órgãos quando morresse pode ser gente ruim?;, questiona. A injustiça contra Mardiney pelo visto ainda não cessou. Que o diga o boletim do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Na nota sobre o julgamento dos dois acusados, o tribunal trata Mardiney como ;suposto rival; da gangue que tirou o que ele mais tinha de precioso: a vida.

Entrevista Francinilva Carvalho Lopes

Como a senhora define seu filho?
Um jovem trabalhador, que só gostava de fazer o bem. Nunca me respondeu. Era obediente e respeitador. Estava orgulhoso, pois morreu a duas semanas de terminar o segundo grau.

Como a senhora visualiza o encontro com os supostos assassinos?
Ainda não sei, pois estou sempre à base de calmantes. Mas não posso fugir da realidade.

O que a senhora diria para eles se tivesse oportunidade?
Que eles fizeram muito mal a minha família. Nossa vida acabou.

E para o juiz que irá julgar o caso?
Que ele faça justiça. Só isso.

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