postado em 08/07/2010 08:32
O embate entre alunos e professores da Universidade de Brasília (UnB), em desacordo com o volume do som e a agitação causada pelos happy hours dentro do câmpus, pode estar se aproximando do fim. Na última terça-feira, uma reunião entre representantes de centros acadêmicos de vários cursos e a Prefeitura da Universidade definiu os termos para melhorar a convivência entre a comunidade acadêmica. Ficou decidido que, a partir de agora, as confraternizações só poderão começar após as 22h30, quando o horário letivo é encerrado. Todas as comemorações deverão ser avisadas com 24 horas de antecedência. Em troca, os alunos conquistaram o direito de permanecer até mais tarde nos corredores da universidade. Os portões, que normalmente são fechados até 23h30, ficarão abertos até mais tarde, quando houver programação noturna.O prefeito da UnB, Paulo César Marques, disse que a universidade está fazendo um levantamento dos recursos financeiros e das regras internas que precisam ser atualizadas. ;Enquanto não há solução definitiva, decidimos dividir a preocupação com os estudantes e, assim, diminuir os conflitos;, explica. Segundo ele, os alunos concordaram com os argumentos da prefeitura e cada parte deixou a reunião com uma percepção clara das dificuldades e dos esforços feitos pelo outro lado.
;Não tem como não haver espaço de confraternização. Passamos o dia inteiro aqui, entre aulas, seminários e estágios. O espaço lúdico também tem que ser previsto dentro da universidade;, defende o coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Raul Cardoso. Para ele, a convocação da prefeitura foi o primeiro espaço de negociação aberto para se chegar a uma solução.
Dificuldades
Integrante do Centro Acadêmico de Sociologia, Wevertton Brasil, 19 anos, questiona as medidas definidas durante o encontro. Para ele, o horário de 22h30 é tardio e a dificuldade de conseguir transporte público pode impedir que muitos estudantes participem dos eventos. ;O argumento de que o som alto afeta as aulas também é relativo. À noite, há poucas salas em uso e é possível fazer eventos o mais distante possível de quem está em aula. Já andei por festas que ocorrem no subsolo e não vi alunos prejudicados pelo barulho;, garante. Ele comemora, porém, o fato de os estudantes serem ouvidos sobre a questão. ;O diálogo é essencial para agradar ambos os lados. Uma imposição da direção seria ruim para os alunos, assim como o burlar das regras prejudica a instituição;, reconhece.
O coordenador do Centro Acadêmico de Arquitetura, Luiz Eduardo Sarmento, 21 anos, destaca que os happy hours que eles organizam, considerados os maiores da universidade, já seguiam as novas regras muitos antes de elas serem estipuladas. Ou seja: nada de barulho excessivo antes de 22h30 e tudo organizado com autorização prévia do departamento. ;Queremos mesmo que as regras para comemorações sejam criadas, e também que se esclareçam todas as atividades que um Centro Acadêmico pode exercer. Sem essa definição, ficamos à mercê da autorização dos chefes de departamento;, diz.
Para Sarmento, o CA segue condutas básicas que poderiam ser adotadas por outros centros. Uma delas é contratar equipes próprias de segurança e de limpeza, para devolver as instalações em bom estado aos alunos. ;Esse é um prédio imenso, com uma comunidade muito grande. Aqui, tem gente de todo tipo, que deve ser respeitada;, afirma.
Espaços
Cardoso, do DCE, diz que a maioria das festas são para grupos pequenos e não causam qualquer transtorno à comunidade acadêmica. Para ele, o grande problema é o fato de a quantidade de alunos aumentar de forma acelerada e o planejamento que define a ocupação de espaços não acompanhar na mesma velocidade. Ele espera que a situação dos CAs seja regularizada e que esses espaços fiquem próximos das dependências do curso. Cardoso também acredita que os centros acadêmicos não podem ser tutelados pelas diretorias dos cursos e que é preciso ter autonomia para definir como serão as celebrações. ;Mas com responsabilidade e compromisso. A função principal é a academia;, esclarece. Para ele, os termos ideais seriam: venda de bebidas alcoólicas autorizada apenas durante eventos e controle do som em horários de aula.
Uma queixa frequente dos estudantes é a resolução de 2003(1), que fixa regras para festas no espaço da UnB. Para Cardoso, do DCE, a medida foi imposta sem que houvesse debate com os estudantes. ;Como construir algo se o ponto de partida já traz problemas? Essa regulamentação foi imposta. Queremos que reconheçam que ela não tem validade, para construir um novo pacto de convivência dentro da universidade;, explica. Para considerar a nova determinação legítima, os estudantes fazem questão de participar da sua elaboração.
Segundo o prefeito do câmpus, o documento já está em fase final de elaboração. Além de estabelecer as regras para festas, o texto irá tratar de locais específicos para atividades, trotes e venda de bebida alcoólica.;Falta definir apenas a localização de alguns CAs e questões relacionadas a espaço físico. Podemos, inclusive, propor a construção de locais provisórios, como tendas, até que tenhamos lugares definitivos para as celebrações;, revela. A expectativa é apresentar a proposta aos alunos até o fim de julho, para pequenos ajustes. Em seguida, a regulamentação será enviada à Câmara de Assuntos Comunitários e ao Conselho de Administração da universidade, para aprovação.
1 - Revisão
A Universidade aprovou em 2003 uma resolução que trata da realização de eventos nas dependências. Uma das regras define que bebidas alcoólicas e venda de ingressos são restritas a eventos realizados no Centro Comunitário Athos Bulcão. Semanas acadêmicas, recepções de calouros e confraternizações, seja no espaço interno ou no externo, devem ser autorizadas pelos decanatos e pelos diretores de unidades acadêmicas. Os eventos devem ocorrer entre 8h e 22h30. As exceções devem ser autorizadas pelo diretor da unidade responsável. A UnB reconhece que o texto é ultrapassado e pretende revisar o documento.
ASSALTO EM CANTEIRO DE OBRA
; Dois homens realizaram um assalto, ontem de manhã, no canteiro de obras do prédio que abriga a Faculdade de Economia, Administração e Ciência da Informação (Face) da UnB. Eles se identificaram pelo interfone como funcionários da empresa EngeMix, que fornece concreto para a obra. Assim que tiveram a entrada liberada, os dois homens invadiram o setor administrativo e obrigaram os funcionários a deitar no chão, para que suas mãos fossam atadas com fita plástica. Os bandidos levaram seis telefones celulares, quatro cartões de crédito, três notebooks, documentos pessoais e aproximadamente R$ 160 em espécie. A 2; Delegacia de Polícia, responsável pela Asa Norte, investiga o caso e afirma que irá rastrear os aparelhos celulares.
Alunos falam
As regras para comemorações dentro do câmpus da UnB devem ser revistas?
;As festas às vezes extrapolam. Uma vez, um Centro Acadêmico trouxe um porco ao câmpus, para fazer trote com os estudantes. Por isso, é preciso regulamentar sim. Dependendo do horário da festa, atrapalha. Mas não deveria ser necessário avisar com antecedência.
O estudante deve ter a opção de celebrar quando quiser.;
Bruna Ribeiro, 19 anos, estudante de pedagogia, moradora da Asa Norte
;Na minha opinião, os happy hours da UnB não passam dos limites, mas em alguns CAs há festa todo dia e o som alto acaba atrapalhando um pouco. Não sei se uma nova regulamentação vai funcionar, mas os alunos devem participar das decisões. Afinal, as festas são para eles.;
Yann Krieger, 21 anos, estudante de agronomia, morador da Asa Norte
;As festas são no período da noite e uma boa saída é fazer um acordo sobre o volume do som. Proibir não é o caminho. As festas fazem parte da cultura da universidade. Estipular o horário de 22h30 como início das festas é uma boa medida, desde que os portões fiquem abertos até mais tarde mesmo. Normalmente, eles são fechados às 23h30 e os alunos precisam caminhar mais, em uma região escura e perigosa, para chegar até o carro.;
Guilherme de Oliveira, 20 anos, estudante de nutrição, morador da Asa Norte
;Às vezes, os próprios alunos reclamam do barulho, por isso, criar um horário para as comemorações seria importante. O problema é que os CAs são muito próximos das salas de aula e é difícil impedir que interfiram no mundo acadêmico. O ideal seria um pavilhão com os espaços para os alunos, mas, na prática, não sei se isso funcionaria.;
Ruan Alves, 20 anos, aluno de geologia, morador da Asa Norte
;Acho as festas no câmpus tranquilas e acredito que todos têm que interagir com pessoas de outros cursos. O happy hours só faz sentido se começar cedo, com o som em um volume razoável. Por volta de 22h30, já daria para aumentar o som.;
Bárbara Ribeiro, 22 anos, estudante de serviço social, moradora de Samambaia Sul