postado em 09/07/2010 07:00
Isolado em meio a transportadoras de carga, locadoras e concessionárias de veículos, o Aeroporto Juscelino Kubitschek passará a oferecer hospedagem para passageiros em trânsito por Brasília. A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) lançou quarta-feira o edital de licitação para construção de um hotel na categoria econômica a pouco mais de meio quilômetro do terminal aéreo. A estrutura ficará nos limites da área gerida pela Infraero. O investimento está estimado em R$ 13,5 milhões por parte da empresa vencedora da concorrência, no modelo maior preço. Empresas tanto brasileiras quanto estrangeiras poderão apresentar propostas. Elas têm até 15 de setembro para entregá-las e, uma vez escolhida a ganhadora, o prazo é de 18 meses para o hotel ficar pronto. A estimativa inicial da Infraero é de que serão oferecidos 150 leitos.Abrindo caminho para a construção de um hotel bastante próximo ao Aeroporto JK, com foco no pernoite de passageiros, a Infraero aproxima a estrutura do terminal de Brasília daquela oferecida em outros dois grandes aeroportos internacionais do país, Guarulhos, em São Paulo, e Galeão, no Rio de Janeiro.
De acordo com o diretor comercial da Infraero, Geraldo Moreira, a enorme quantidade de conexões feitas no aeroporto local, entroncamento entre as regiões Norte e Nordeste e o Sul do país, e o índice significativo de viajantes que vêm à capital a negócios ou para fazer contatos políticos, fazem com que ele tenha crescente importância.
O outro objetivo da estatal é dar mais um passo a fim de adequar o terminal aéreo ao alto número de visitantes previstos para a Copa de 2014. A primeira ação foi o agendamento das obras de ampliação (1) do JK, que começam em setembro deste ano.
Espaço
O terreno do hotel fica a 560 metros do Aeroporto JK, no sentido oeste, próximo à concessionária Honda. A área tem cerca de 3,3 mil metros quadrados. Além do edifício com apartamentos, a empresa vencedora da licitação terá espaço para explorar atividades complementares, tais como lojas de conveniência, bancas de revista, agências de viagem e de câmbio, bares e restaurantes. Oferecer esses serviços, no entanto, ficará a critério da administradora, bem como outras comodidades, tais como traslado de ida e volta ao terminal e internet sem fio gratuitos e ainda lavanderia 24 horas.
Os extras são opcionais porque, segundo o edital, o empreendimento deve atender às normas para hotéis econômicos previstas na Resolução Normativa n; 429/2002, do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), que exige somente requisitos básicos de conforto, segurança e higiene para a categoria. A mesma resolução determina que os preços cobrados por hotéis simples e econômicos devem ser tratados com o Instituto Brasileiro de Hospedagem (IBH), responsável também por inspecioná-los.
A reportagem questionou a Infraero sobre o possível valor das diárias do hotel próximo ao Aeroporto JK. Por meio de sua assessoria de imprensa, a estatal respondeu que a empresa contratada terá poder para decidir a respeito, e admitiu que o custo poderá ser pautado pelos preços do mercado de Brasília, um pouco acima da média nacional. Os hotéis mais baratos do Setor Hoteleiro Sul e Norte, que seguem a proposta de hospedagem econômica, cobram diárias entre R$ 180 e R$ 190. Em São Paulo, é possível achar tarifas de R$ 79 para essa categoria de hospedagem.
O médico carioca Paulo Dias, 60 anos, já utilizou hotéis de trânsito em viagens ao exterior. Ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ele vem à capital federal constantemente para estadias curtas. Paulo se diz satisfeito com o serviço de hotelaria em Brasília, mas reconhece que seria confortável ter hospedagem próxima ao aeroporto para uma emergência, como atraso e cancelamento de voos. ;Pessoalmente, nunca tive problemas aqui, mas sei de colegas que passaram por situações difíceis;, comenta.
1 - Mais capacidade
As obras de reforma e ampliação do Aeroporto JK objetivam preparar o terminal para uma demanda anual de 19,9 milhões de passageiros prevista para 2014, quando Brasília será uma das cidades-sede da Copa do Mundo. Atualmente, o local comporta 10 milhões de pessoas. Também visam suprir a deficiência de espaço e estrutura do terminal aéreo constatada por especialistas. Os trabalhos serão divididos em duas etapas e, até 2015, cerca de R$ 1,3 bilhão será gasto. Os recursos virão do governo federal, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e da própria Infraero. Quando a reforma estiver definitivamente concluída, o JK terá capacidade para receber 26 milhões de usuários ao ano.
; Medo da ociosidade
Representantes do segmento hoteleiro do DF são cuidadosos ao falar não somente do futuro hotel no Aeroporto JK , mas da corrida para a oferta de mais leitos na cidade, visando a Copa de 2014. Eles temem que, findo o evento, a taxa de ocupação da capital, que já é baixa, caia ainda mais em razão do aumento do número de quartos. Brasília tem 22 mil leitos e pelo menos mais 10 mil seriam necessários para acomodar os visitantes no próximo mundial. Empreendimentos em construção devem fornecer mais 6 mil leitos à capital federal quando concluídos.
;Achamos que a ocupação, que atualmente é de 60%, vai ficar entre 25% e 30% passada a euforia da Copa. Será inevitável, a não ser que o governo tenha vontade política para investir no turismo cívico e de eventos, o que não está acontecendo;, afirma Tomaz Ikeda, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no DF (Abih-DF). O Sindicato de Restaurantes, Hotéis, Bares e Similares (Sindhobar) tem temores semelhantes. A entidade aguarda o retorno de seu presidente, Clayton Machado, da África do Sul para se pronunciar sobre a maior oferta de apartamentos. De acordo com a assessoria de comunicação do sindicato, Machado foi observar a funcionalidade dos hotéis construídos especificamente para o Mundial deste ano naquele país.