Cidades

Clínicas de cirurgia plástica sem UTI do DF estão ameaçadas de serem fechadas

Ministério Público dará 15 dias para que as clínicas de cirurgia plástica do DF deixem de fazer procedimentos sem UTI

Naira Trindade
postado em 12/07/2010 08:11
As clínicas de cirurgia plástica sem unidade de terapia intensiva (UTI) do Distrito Federal estão sob ameaça de ter as portas fechadas caso se recusem a aceitar o pedido do Ministério Público (MPDFT) para a instalação do equipamento de emergência. Responsável pela Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Diaulas Costa Ribeiro pretende traçar uma batalha para salvar vidas de pacientes que morrem ao passar por procedimentos cirúrgicos, como a tesoureira Marinalda Araújo Neves Ribeiro, 46 anos. ;Vou determinar ao GDF (Governo do Distrito Federal) a suspensão de todos os alvarás de clínicas que fazem cirurgia plástica sem UTI se não houver um acordo até 15 os próximos dias. É uma ação de guerra. Vamos fechar uma por uma;, afirmou.

A medida de suspender o direito de funcionamento se dará por conta do número de pacientes que não sobrevivem às complicações nas salas de cirurgias, principalmente em intervenções plásticas. Somente neste ano, pelo menos quatro mulheres morreram em decorrência de problemas em operações no Distrito Federal e Goiás (leia Memória). Desde 2000, outras nove mulheres perderam a vida durante procedimentos estéticos nas duas unidades da Federação.

Obrigação
Na maioria dos casos, as vítimas sequer conseguem ser transportadas para a UTI de retaguarda (unidade hospitalar contratada pela clínica em respeito a legislação para casos de gravidade). ;A UTI remota não é solução. A distância entre a clínica e os hospitais pode ser uma complicação. Desde 1998, só se morre em clínicas. O procedimento é mais barato porque é feito em condições inseguras. Num hospital, o custo aumentaria em R$ 5 mil ou R$ 6 mil. E não temos casos de mortes em hospitais;, disse o promotor.

Um protocolo de segurança elaborado pelo Ministério Público do Distrito Federal, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), médicos e especialistas em plásticas, garante, segundo Diaulas, a instalação obrigatória de unidades de terapia intensiva em clínicas. ;O grupo de trabalho de vigilância sanitária teve mais de 15 encontros com palestras e discussões sobre a obrigatoriedade. Porém, o estudo ainda não é utilizado;, contou. ;O Conselho Regional de Medicina nem participou das discussões;, alertou.

Alto custo
O custo financeiro para a instalação e manutenção diária da UTI, no entanto, pode não ser interessante aos donos dos centros médicos. ;É inviável para uma clínica de pequeno porte manter a unidade. Os recursos com profissionais são muito altos. Numa UTI, é necessário uma equipe médica intensivista 24 horas por dia. Essa disponibilidade é cara;, explicou o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Ognev Meireles Cosac. ;Para atender a exigência, seria preciso fazer um projeto de amparo financeiro para distribuir os custos porque senão eles refletiriam nos pacientes;.

Ognev defendeu que a obrigatoriedade de uma UTI não é necessária para todas as clínicas que realizam procedimentos plásticos. ;Apesar da pressão do Ministério Público, não é a UTI que não salva a vida nesses casos. O que salva o paciente é o diagnóstico e a ação médica imediatos. Os equipamentos da clínicas são exatamente iguais aos que tem em uma UTI;, revelou.

No caso da moradora do Park Way Marinalda Araújo Neves Ribeiro, as causas da morte ainda são apuradas pela 5; Delegacia de Polícia, na área central de Brasília. O inquérito vai ser instaurado hoje, e os envolvidos serão ouvidos ao longo da semana. ;A cirurgia plástica tem a obrigação do bom resultado. As pessoas entram saudáveis na sala de cirurgia e não podem sair em um saco cadavérico;, ressaltou o delegado-chefe Laércio Rosseto, que apura o caso.

O laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) do Distrito Federal indicou que não houve perfuração nos órgãos internos durante a cirurgia plástica. Exames realizados no corpo da paciente ajudarão a desvendar o que levou a sofrer uma parada respiratória na mesa de cirurgia. Na sexta-feira, o delegado Rosseto ouviu informalmente, horas depois da morte de Marinalda, médicos da Clínica Magna, onde ocorreu a morte. Eles contaram que tudo corria bem até os batimentos da paciente desacelerarem. A tesoureira estava deitada de costas na mesa de cirurgia, quando os profissionais perceberam alteração no ritmo cardíaco. Após uma hora e meia tentando reanimá-la, eles constataram a morte da mulher.


Denúncia

; O promotor Diaulas Ribeiro denunciará nesta semana à Justiça o médico Dagmar João Maester, responsável pela cirurgia que terminou com a morte da secretária Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos, em abril deste ano. No início da investigação, o promotor afirmou não ter dúvidas de que houve crime. Ele esperava, no entanto, mais informações para decidir se enquadrava o caso como homicídio culposo (sem intenção de matar) ou doloso (por ter assumido o risco de provocar a morte da vítima). Como o Correio divulgou, Dagmar responde a inquérito em Goiânia por conta de outros dois possíveis erros fatais e de mutilações ocorridas durante intervenções estéticas. Em 2003, o médico acabou suspenso por uma suspeita de falha praticada por ele em outra operação. Naquele caso, não houve condenação.


Memória
Mortes em 2010
25 de janeiro
A jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos, perdeu a vida durante lipoaspiração realizada em hospital da 715/915 Sul. Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público concluíram que houve erro do médico Haeckel Cabral Moraes, que acabou indiciado e denunciado por homicídio qualificado pela morte da jovem. A autópsia revelou que houve perfuração da veia renal direita de Lanusse.

6 de março
A brasiliense Lana Elisa Gomes, 35 anos, morreu em Anápolis (GO), após passar por uma cirurgia plástica. Ela morava com o marido na Espanha havia três anos, mas estava no Brasil desde janeiro para realizar os exames médicos. Após sentir-se mal, foi transferida para um hospital, mas não resistiu. Lana sofreu parada cardiorrespiratória.

2 de abril
A assessora Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos, morreu sete dias depois de lipoescultura realizada em clínica localizada no Setor Universitário da capital goiana. Laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) aponta para morte em decorrência de pneumonia e embolia pulmonar. O Ministério Público do Distrito Federal e a 23; Delegacia de Polícia (P Sul) investigam o caso.

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