postado em 13/07/2010 07:00
Ao passar pela QR 410 de Samambaia Norte, é preciso muito cuidado. Há uma cratera aberta entre o comércio e a área residencial da quadra. O buraco tem em torno de 5 metros de profundidade e 20 de largura. Está ali há mais de dois anos, segundo os vizinhos. Tem causado transtornos à comunidade trazendo, por exemplo, mau cheiro com o acúmulo de animais mortos e de lixo. Atrai ainda a presença de usuários de droga e de pessoas dispostas a se esconderem nele para os mais variados fins.O buraco é uma lembrança deixada por uma obra inacabada. Ali, seria construído um prédio residencial. A construtora responsável desistiu do empreendimento, mas se ;esqueceu; de tapar a fenda. Havia tapumes ao redor da vala. Mas isso piorava a situação. ;Era o local perfeito para quem precisava se esconder. Teve muito assalto e estupro ali. Então a população se juntou para derrubar as tábuas;, contou o morador da quadra José de Oliveira Neto, 50 anos, autônomo.
De acordo com relatos da vizinhança, uma criança se machucou esta semana ao cair na cratera e uma moça foi estuprada perto do local, quando ele ainda tinha proteção. Não foi possível, entretanto, confirmar o registro dessas ocorrências na delegacia da região. Ainda assim, os problemas ocasionados pelo buraco são visíveis.
Problema crescente
Um poste que fica às margens da vala ameaça cair. A Companhia Energética de Brasília (CEB) teve de ir até o local para afastá-lo um pouco. Mas a rachadura continua a crescer e engole tudo que está à sua volta, como as árvores, por exemplo. Restos de entulho, lixo doméstico e muitas garrafas vazias de bebidas alcoólicas pioram o cenário.
O clima entre quem vive perto dali é de indignação. ;Se esse poste cair, vai dar um problema grande. Esse buraco está cedendo, abrindo cada vez mais. E quando a chuva começar? Como vai ser?;, questionou Oliveira Neto, que tem um comércio perto dali. A Associação de Moradores da Shis de Samambaia Norte recebeu inúmeras queixas. ;Isso aqui está trazendo muita dor de cabeça. A Quadra 410 é uma região central, de grande circulação de pessoas, e merecia um pouco mais de atenção. Com essa vala imensa aberta aqui, vem gente de outros lugares despejar lixo;, denunciou o presidente da associação, Domício Silva do Carmo.
Radical
À noite, a insegurança nos arredores é ainda maior. ;Minha filha volta da escola à noite e passa sempre ali. O pai tem de buscá-la antes de chegar perto do buraco, porque fica um monte de bandido reunido ali, fazendo fogueira e bebendo muito, só esperando uma chance de agir. Tinha um grupo de meninos de rua morando no buraco. Chamei a polícia, mas depois eles voltam;, relatou a vigilante Rosilda Fagundes, 44 anos. ;Os ratos que saem dali são do tamanho de gatos;, completou.
Revoltado, um grupo de moradores decidiu radicalizar. ;Todo mundo está jogando lixo ali, botando fogo no matagal para chamar a atenção dos responsáveis. A gente mesmo se ofereceu para fechar essa vala, mas o administrador da cidade pediu um prazo e nós demos;, disse a líder comunitária Francisca Sueli da Silva, 46 anos. Passaram-se mais de 24 meses e, pelo menos até ontem, as reclamações da população não haviam surtido efeito.
O administrador de Samambaia, Francisco de Assis da Silva, reconhece o problema, mas diz não saber como resolver essa demanda. ;Nós, da administração, estamos procurando o dono dessa construtora. Fomos até o cartório para saber quem ele é. Descobrimos, mas não conseguimos falar com ele;, explicou Silva. ;Fico preocupado de mandar entupir o buraco e depois ter de escavar de novo, porque não tenho autorização para tapá-lo. Mesmo assim, se o responsável não aparecer nos próximos dias, terei de tomar essa medida e assumir os riscos, porque é um problema sério para a população;, prometeu.
Justiça
A obra inacabada trouxe prejuízos ainda mais sérios para 38 pessoas que compraram apartamentos na planta para morar no prédio que seria edificado ali e não tiveram seus imóveis entregues. Sentindo-se lesadss, elas se uniram e entraram com ação na Justiça para reaver o dinheiro investido. O servidor público Júlio Ferreira, 51 anos, é um deles. ;Paguei o total de R$ 5,4 mil de entrada, mais 23 prestações de R$ 300. Peguei um empréstimo no banco para quitar minha casa própria e tive esse desgosto. Era para ficar pronto em 30 de dezembro de 2009 e hoje só tem um buraco;, lamentou. O Correio Braziliense tentou entrar em contato com a construtora responsável pela obra, mas não conseguiu falar com ninguém. O site da empresa está fora do ar e o telefone do escritório não foi atendido.