Ana Maria Campos
postado em 15/07/2010 07:00
O autor da oração da propina decidiu travar uma briga na Justiça para se candidatar novamente. O ex-distrital Júnior Brunelli (PSC), um dos ícones da Operação Caixa de Pandora, deu entrada no Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) com pedido avulso de registro de sua candidatura a deputado federal. Precisa comprovar aval de sua legenda, o PSC ; a mesma do ex-governador Joaquim Roriz, que concorre ao Buriti ; para seu projeto político e ainda transpor uma outra barreira: a Lei da Ficha Limpa. Brunelli é um dos alvos de ação de impugnação proposta pelo procurador-regional eleitoral do DF, Renato Brill de Góes, porque renunciou ao mandato na Câmara Legislativa para escapar da cassação em processo por quebra de decoro parlamentar.[SAIBAMAIS]Brunelli está em situação semelhante a Roriz, que também teve a candidatura contestada pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) por ter deixado o mandato em 2007 no Senado em meio à ameaça de perda do cargo. Entre os aliados de Roriz não houve disposição de vetar a participação do ex-deputado distrital nas eleições. Isso porque Brunelli é considerado um puxador de votos. O impedimento, no entanto, partiu da cúpula do PSC. Brunelli responde a processo na Comissão de Ética avocado pela executiva nacional, preocupada com a contaminação do escândalo da Operação Caixa de Pandora em outros estados.
Dessa forma, a candidatura de Brunelli não foi aprovada em convenção regional da sigla de Roriz, realizada em 27 de junho, e também não consta da lista de 24 de candidatos à Câmara dos Deputados aprovada em ata da coligação formada pelas legendas PP, PSC, PR, DEM, PSDC, PRTB, PMN, PSDB e PT do B.
De acordo com a Resolução n; 23.221/10, candidatos podem requerer o registro em um prazo de até dois dias após a divulgação da lista dos concorrentes inscritos no TRE-DF, mas precisam ser indicados pela convenção de seus partidos.
Vídeos
Filho do missionário Doriel de Oliveira, da Casa da Benção de Taguatinga, Brunelli é considerado um candidato com potencial, apesar do envolvimento nas denúncias de que recebia mesada para apoiar o ex-governador José Roberto Arruda (sem partido). Ele foi um dos deputados filmados pelo ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa recebendo dinheiro desviado de contratos de empresas de informática. Em um dos vídeos mais polêmicos, Brunelli aparece orando pelo bem de Durval, abraçado com o ex-presidente da Câmara Leonardo Prudente (sem partido). Essa cena tem sido, inclusive, usada positivamente por Brunelli perante eleitores, fiéis seguidores da igreja criada por seu pai.
A intenção de Brunelli é fazer dobradinha com a irmã, a pastora Lilian Brunelli (PTdoB), candidata a herdar seus votos na disputa por uma vaga na Câmara Legislativa. Na última eleição, o distrital, que concorreu pelo PFL (hoje DEM), foi o mais votado do partido. Teve 23.764 votos. Antes da crise provocada pela Caixa de Pandora, o então deputado trabalhava para ser candidato ao Senado na chapa encabeçada por Joaquim Roriz.
Além de Brunelli, outros 90 políticos apresentaram requerimentos individuais de registro de candidatura no TRE-DF na última terça-feira. A maioria, no entanto, apenas usou o prazo extra para solucionar pendências verificadas no momento da inscrição pelo partido. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a petista Arlete Sampaio, que concorre a um mandato de deputada distrital, e com os candidatos do DEM.
Ex-secretário na disputa
Entre os citados no inquérito da Operação Caixa de Pandora que vão participar das eleições de outubro está o ex-secretário de Educação José Luiz Valente. Ele foi um dos alvos de busca e apreensão, em 27 de novembro, sob a suspeita de ter recebido R$ 60 mil da Info Educacional, empresa contratada para prestar serviços ao GDF. Em sua defesa, o ex-secretário de Educação alega ter sido confundido com outra pessoa, o ex-administrador de Samambaia, José Luiz Naves, também investigado.
Antes da crise, Valente pretendia fazer uma dobradinha com a então distrital Eurides Brito (PMDB), outra que tem base eleitoral entre professores e auxiliares de ensino. A peemedebista, que acabou cassada pela Câmara Legislativa porque foi filmada recebendo dinheiro das mãos de Durval, seria candidata à reeleição, enquanto Valente concorreria a um mandato de deputado federal. Agora, o ex-secretário disputará uma vaga de distrital. (AMC)
Memória
27 de novembro de 2009
A Polícia Federal deflagra a Operação Caixa de Pandora, no qual investiga o suposto esquema de propina do GDF para a base de deputados aliados, com dinheiro repassado por empresas privadas. Durval Barbosa, até então secretário de Relações Institucionais do governo Arruda, é quem denuncia do esquema à PF.
29 de novembro
Pelo menos oito dos 24 deputados e dois suplentes da Câmara Legislativa (CLDF) são citados no inquérito como beneficiários do suposto esquema de corrupção. Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC, então corregedor da CLDF) e Leonardo Prudente (DEM) aparecem em vídeo recebendo dinheiro de Durval Barbosa. O então governador Arruda também é flagrado em vídeo embolsando dinheiro de Durval. As imagens foram feitas na campanha eleitoral 2006.
30 de novembro
Os então distritais Júnior Brunelli e Leonardo Prudente aparecem em vídeo orando por Durval Barbosa. A cena fica conhecida como a oração da propina.
25 de fevereiro de 2010
A Comissão de Ética da Câmara abre processo por quebra de decoro parlamentar contra os deputados distritais Eurides Brito, Júnior Brunelli e Leonardo Prudente.
2 de março
Para escapar do processo por quebra de decoro, Júnior Brunelli renuncia ao mandato de deputado distrital. Leonardo Prudente havia renunciado na semana anterior. A única a permanecer na Casa foi Eurides Brito, que acabou tendo o mandato cassado em 22 de junho.