Cidades

Menos rigor ao votar do que ao consumir

Pesquisa da UnB mostra que o eleitor brasileiro busca poucas informações na hora de escolher um candidato, bem diferente do comportamento que tem ao decidir pela compra de um determinado produto

postado em 17/07/2010 07:00
Na hora de comprar um carro, o consumidor gasta tempo procurando a melhor opção. Pesquisa modelos, preços e condições de pagamento em busca da proposta ideal, que alie o benefício à economia. O raciocínio de levar um bom produto sem desperdiçar dinheiro, no entanto, não é aplicado pelo brasileiro no mercado político. Os eleitores não se interessam em obter informações para fazer a melhor escolha nas urnas e, assim, cuidar indiretamente do recurso público. Uma pesquisa do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), ao fazer paralelo entre economia e política, mostrou que o brasileiro não possui conhecimentos suficientes para definir os aspirantes a governador e a presidente do país. E o pior: que esse tipo de desinformação não o preocupa.

A dissertação de mestrado Democracia, mercado e realidade: Um estudo sobre o eleitor no Brasil, de autoria do economista José Jorge Gabriel Júnior, revelou que, no papel de consumidor, o brasileiro é mais criterioso do que no papel de eleitor. ;Analisando as eleições como um mercado político, onde o eleitor ;compra; um candidato, ele não se interessa tanto em saber os benefícios de levar esse candidato ou aquele porque isso não tem repercussão direta na vida dele como, por exemplo, ao comprar um carro;, explicou o estudioso.

Para construir a tese sobre a capacidade do brasileiro em avaliar o político, José Jorge analisou dados agregados das eleições para governador e presidente entre 1990 e 2006. Ele considerou a teoria econômica sobre o consumidor para analisar o eleitor e utilizou uma metodologia americana para avaliar o comportamento deles. Como as realidades culturais e políticas dos dois países são diferentes, o economista adaptou o teste de racionalidade do economista norte-americano Justin Wolfers ao contexto do Brasil, que está entrando em sua terceira década de democracia. O teste mostrou, depois de cálculos estatísticos, que os eleitores americanos não conseguiam diferenciar, por exemplo, se a queda na taxa de desemprego era resultado do desempenho do governado local ou federal. E por isso, poderiam recompensar com o voto um candidato que nada tem a ver com isso.

Democracia
O mesmo raciocínio foi detectado no cenário brasileiro. José Jorge testou 11 variáveis, como o Produto Interno Bruto (PIB), a taxa de homicídio, a de desemprego, entre outras, para analisar a correlação delas com os votos dos eleitores. ;Se o crescimento da economia vai bem, é muito provável de que os governadores peguem carona com a ação do governo federal porque o eleitor não tem informação suficiente poder fazer uma avaliação mais sofisticada da situação;, explicou. Segundo pesquisador, há um custo em se informar sobre o político que, diluído na quantidade de votos, não é significante para o eleitor mais desinformado. ;Ele pensa que o voto dele no meio de milhões não vai mudar a eleição e muitas vezes vota levando em conta o lado emocional, partidário ou apenas a simpatia pelo candidato;, explicou.

Após concluir a pesquisa, José Jorge acredita que o voto sem informação é prejudicial à consolidação da democracia brasileira. Além de mostrar como é perigoso colocar decisões nas mãos de políticos, que podem agir de acordo com um interesse pessoal, ele ressalta que a fiscalização da população sobre os candidatos ;desconhecidos; será frágil. ;Quanto mais informados os eleitores estiverem, teremos mais condições de escolher candidatos melhores e de aprimorar a qualidade da política pública.;

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