Cidades

Algo além do pão nosso de cada dia

O DF, recentemente, foi palco de uma disputa saborosa: 18 padeiros de diferentes estados do Brasil mostraram todo o seu talento na busca por uma vaga no disputado Mundial dos Pães

Flávia Maia
postado em 17/07/2010 07:00
Um campeonato de dar água na boca e de encher os olhos tomou conta do DF. O centro da competição não era ninguém menos do que o companheiro do dia a dia das mesas de café da manhã dos brasileiros: o pãozinho(1). O famoso quentinho que envolve pelo aroma foi criado e recriado por 18 padeiros de todo o país na seletiva nacional realizada em Brasília nos últimos dias 14 e 15. Participaram padeiros do Ceará, de Alagoas, do Rio de Janeiro, de Rondônia, do Espírito Santo, do Pará, do Amazonas, do Paraná e do DF. Foram mais de 600kg de pão testados até chegar aos três vencedores que representarão o Brasil na etapa norte-americana em Las Vegas (Califórnia, EUA). Os vitoriosos da seletiva continental irão para a Europain %u2013 Copa do Mundo Louis Lesaffre, que será realizada em Paris, em 2012. Essa pode ser a oportunidade para a representação inédita do Brasil na etapa mundial. Os vencedores Aldo de Jesus, Cristiano Meirelles e Wagner Mendonça mostraram que com fermento e farinha de trigo é possível conquistar qualquer paladar. E até fazer obras de arte, como fez o alagoano Wagner Mendonça, 21 anos. O padeiro montou uma representação da biodiversidade da Mata Atlântica e esculpiu até um tucano em massa de pão. Com essa mesma peça, o ex-estudante de educação física, que trancou a universidade para se dedicar à panificação com a mãe e as irmãs, ganhou em maio deste ano a Olimpíada do Conhecimento. %u201CNa Olimpíada eu tinha seis horas para montar o pão; aqui, foram oito, e acho que isso me ajudou%u201D, contou. Categorias Os escolhidos ganharam a primeira colocação nas categorias Pães artísticos, Massa doce e folhada e Bisnaga e Pães especiais. Entre eles, nenhum é do Distrito Federal, o que reforça a necessidade do reforço da profissionalização do setor na capital. %u201CEu tenho dificuldade em encontrar gente qualificada na área de panificação aqui em Brasília. Uma perda como essa retrata que precisamos de mais profissionais%u201D, lamenta a jurada Edna Manso, dona de uma rede de panificadoras em Brasília. A competição foi organizada pela Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip) com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Sindicato das Indústrias da Alimentação (Siab), tendo o júri sido formado por empresários do setor da panificação de Brasília. Pão pequeno, pão redondo, pão de nozes, bisnaga, baguete, cachoeira de açúcar, sapo de pão, 225kg de farinha de trigo, 600kg de pão%u2026 Para conquistar o júri, os padeiros não pouparam esforços, criatividade nem ingredientes. O que não faltou foi fartura de ideias e de material. Se cada brasileiro come em média 100g de pão por dia e 33 kg por ano (no DF, este número sobe para 37), os 24 jurados teriam que devorar 25kg cada um, só ontem. Como isso, claro, não ocorreu, e considerando que tal a quantidade é suficiente para alimentar 6 mil pessoas %u2014 estimativa do presidente do Siab, José Joffre Nascimento %u2014, os pães serão doados para instituições de caridade do Guará e do Núcleo Bandeirante. 1 - Alimento milenar A literatura gastronômica registra que o pão teria surgido há aproximadamente 6 mil anos, na região da Mesopotâmia (atual Iraque), com o cultivo do trigo. Há a suposição de que, a princípio, o trigo fosse apenas mastigado. Os primeiros pães seriam feitos de farinha de trigo misturada ao fruto do carvalho %u2014 a bolota ou noz %u2014, resultando em petiscos de formato achatado, duros, secos e que não poderiam ser comidos logo depois de pronto, pois eram muito amargos. Por essa razão, possivelmente as broas daquele milênio eram lavados em água fervente antes de secar ao sol. Pães e broas eram assados sobre pedras quentes ou debaixo de cinzas.

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