postado em 20/07/2010 07:00
Na próxima segunda-feira, os alunos de ensino médio do Centro Educacional Taquara, localizado no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, serão recebidos na volta às aulas com uma ;faixa quilométrica;, promete a vice-diretora da instituição, Maria Sonalli. A mensagem será um grande ;parabéns;. As felicitações se devem ao desempenho dos alunos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) em 2009, que levou à escola ao terceiro lugar na lista das melhores escolas públicas do Distrito Federal, com média de 592,64. ;Estamos nos sentindo os melhores do país;, comenta, em êxtase, Maria Sonalli. Melhores do país ainda não, mas o colégio é o melhor da rede pública do DF, já que os centros de ensino que o superaram ; Colégio Militar Dom Pedro II e Colégio Militar de Brasília ; são financiados com recursos federais. A notícia pegou a própria direção de surpresa. O espanto se justifica.Entre 2008 e 2009, o colégio saltou 113 posições no ranking. ;Até agora não consigo acreditar. Estamos maravilhados. Nossos alunos nos impressionaram;, confessa a vice-diretora.
Muitos colégios têm as médias prejudicadas pela consideração dos resultados de alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), cujas notas são normalmente mais baixas. No Taquara, a soma dos resultados das duas categorias posicionou a instituição em quarto lugar no ranking distrital das públicas. De acordo com os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação, 21 dos 53 alunos matriculados no 3; ano do segundo grau se submeteram à prova, ou seja, um índice de 40,63% de participação. Em 2008, 30 dos 62 estudantes fizeram o teste, com 48% de adesão.
Maria Sonalli acredita que o desempenho teve melhora significativa após o envolvimento de estudantes e de professores em atividades de capacitação. Um dos principais foi o projeto Letramento, que propõe intensificar a capacidade de leitura, escrita e interpretação do aluno. A professora Vanete Rocha foi a responsável pela implementação do projeto. ;Fiz um curso sobre letramento na Universidade de Brasília. Quando cheguei ao Taquara em 2007, propus uma mudança radical no ensino de qualquer matéria. A leitura é a base da compreensão, desde as áreas exatas até a comunicação;, afirma. Palestras e exercícios foram, aos poucos, ensinando os alunos a explorar o idioma. ;Acredito que foi um dos elementos da melhora. Os professores começaram a promover a interdisciplinariedade. Essa capacidade de entender o conteúdo de forma mais ampla, sem a decoreba, é a cara do Enem;, diz Vanete.
Sob nova direção
Até 2008, o programa só beneficiava as turmas vespertinas. A chance de estendê-lo ao turno matutino veio em 2009, quando uma nova direção, da qual Maria Sonalli faz parte, foi eleita pela comunidade e convidou Vanete para o desafio. Aliás, 2009 parece ser um divisor de águas para a escola. ;Quando assumimos, percebemos a falta de estímulos. Propusemos um novo modelo e precisávamos que os professores abraçassem a causa e eles o fizeram;, conta Sonalli. Dois fatores ajudaram a transformação: a criação de um laboratório de informática patrocinado por uma empresa de telefonia e o Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf), semelhante ao programa da Secretaria de Saúde que desburocratiza o acesso a recursos para compras de primeira necessidade, concedido às escolas em agosto passado. ;Esse dinheiro foi fundamental para bancar o projeto;, diz Sonalli. A verba anual do Taquara é de R$ 104 mil, ou R$ 8,6 mil mensais.
Mas o Taquara ainda têm de enfrentar os clássicos percalços do sistema público de ensino: muitas vezes há falta de professores, o que compromete a continuidade das matérias, e o Pdaf está atrasado desde janeiro. ;Não fosse isso, nosso trabalho seria ainda melhor;, garante Sonalli. A equipe do Taquara é da filosofia de que não se mexe em time que está ganhando. A meta agora é aperfeiçoar as arestas e batalhar por melhores resultados. ;Antes de me aposentar, quero ver o Taquara ser uma referência;, sonha Vanete.
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