Cidades

Candidatos ignoram coligações feitas em torno de Agnelo e Roriz e fazem campanhas isoladas

postado em 22/07/2010 07:00
A redistribuição do grupo político de José Roberto Arruda, órfão desde o início da Caixa de Pandora, foi bem administrada do ponto de vista formal. As coligações dos dois grupos que se consolidaram para disputar as eleições em outubro (comandados por Agnelo Queiroz, do PT, e Joaquim Roriz, do PSC) absorveram as lideranças políticas escanteadas em função das denúncias de corrupção. Muito mais do que afinidades pessoais ou ideológicas, as alianças se pautaram por critérios pragmáticos (1). Duas semanas depois do início das campanhas de rua, no entanto, está evidente que as acomodações sistematicamente calculadas não funcionam tão bem na prática. As alianças estão partidas. Dentro das duas principais forças que disputam o governo, parte dos candidatos proporcionais optou por candidaturas solo.

Considerados cabos eleitorais de peso, alguns deputados adotaram agenda própria de campanha, alheia aos compromissos dos concorrentes majoritários. Os deputados do DEM, por exemplo, quase não são vistos no palanque de Joaquim Roriz. O partido entrou na coligação do ex-governador na última hora permitida para as junções políticas. A dobradinha, no entanto, não deu liga e já produziu suas primeiras saias justas. Eliana Pedrosa, Raad Massouh e Paulo Roriz trabalham isolados. Juntos, eles somaram 43,4 mil votos em 2006. Potencial que não pode ser desprezado para 2010, mas com o qual os candidatos majoritários da coligação Esperança Renovada não podem contar.

Em suas andanças, Eliana Pedrosa pede voto para si. Não estende a reivindicação para os concorrentes ao governo nem ao Senado. O material de campanha da deputada, todo ele com referências pessoais a ela, também é um registro da disposição da política em cuidar da própria situação na campanha deste ano. Raad Massouh tem evitado o palanque de Roriz. Avalia que ganhará mais descolado do candidato, que até o ano passado era tido como um adversário político.

Nariz torcido
Paulo Roriz aceitou de nariz torcido a coligação na chapa do tio, Joaquim Roriz. Ele está rompido com o ex-governador. Nos bastidores houve até uma tentativa de reaproximação. Os termos da trégua foram apresentados pelo distrital. Ele exigiu que a prima Liliane Roriz desistisse da candidatura à Câmara Legislativa. Assim, seria o nome da família para a reeleição na Casa. Não conseguiu impor sua vontade e mantém-se afastado do palanque de Roriz. O desinteresse tem mão dupla. O troco de Joaquim Roriz para os distritais sem entusiasmo vem revestido de ironia. Durante evento no Paranoá, na noite de terça-feira, o ex-governador, em busca do quinto mandato, disse à plateia que não ia ficar citando nomes de deputados. Imediatamente abriu exceções para as duas filhas, Jaqueline e Liliane.

Mesmo quem passou por cima do próprio orgulho e resolveu vestir a camisa da coligação liderada por Roriz está enfrentando dificuldades. Candidato ao Senado no grupo do ex-governador, Alberto Fraga (DEM) está deslocado. Já foi vaiado em dois eventos ao lado de Roriz. E ameaça partir com o tempo de televisão debaixo do braço se a hostilidade continuar: ;Não vou aceitar essa violência. Nunca fui vaiado e, se precisar, seguirei sozinho;. O ultimato começou a produzir efeitos. No Riacho Fundo ontem, os dois dividiram o palco sem sobressaltos.

No grupo oficialmente constituído em torno de Roriz, o desfalque de cabos eleitorais com mandato não vem só de representantes do DEM. O deputado Bispo Rodovalho, do PP, por exemplo, caminha só. Não tem participado dos compromissos de campanha de Roriz. O presidente do partido, Benedito Domingos, que até os últimos intantes do prazo regimental para a formação das coligações não sabia se faria composição com Roriz ou Agnelo, considera natural que os candidatos a deputado cuidem das próprias campanhas. ;Se eu não correr atrás do meu prejuízo levo um tombo danado;, acredita.

1 - Minutos a mais
O tempo de televisão foi um dos argumentos colocados na ponta do lápis. Os minutos de exposição em rede de rádio e TV foram a principal moeda de troca na negociação entre integrantes do DEM e o grupo de Roriz, que com a adesão do PP somou quase sete minutos de propaganda eleitoral. Com uma coligação integrada por 11 partidos, o PT conquistou 10;44, pouco mais da metade do período reservado aos candidatos.

Exceto em Goiás, presos provisórios e adolescentes em unidades de ressocialização poderão votar este ano. Segundo o TSE, 424 estabelecimentos prisionais terão locais de votação


Trabalho solo

BISPO RODOVALHO (PP)
Um dos principais representantes do PP, partido que na última hora decidiu caminhar ao lado de Roriz, o deputado federal em busca da reeleição não tem aparecido nos eventos da coligação.

ÉRIKA KOKAY (PT)
Tem evitado os eventos em que a militância petista está misturada à do PMDB. Nessas ocasiões, manda material de campanha e representantes de seu grupo político.

ELIANA PEDROSA (DEM)
Apesar de ser um dos principais nomes do DEM e de ter alcançado votação expressiva em 2006, tornando-se importante cabo eleitoral, a distrital não participa dos eventos liderados por Joaquim Roriz.

CHICO LEITE (PT)
Posicionou-se contra a coligação com o PMDB e tem mantido sua postura na campanha. Mesmo a contragosto da direção de seu partido, não sobe no mesmo palanque que Tadeu Filippelli.

; Saias justas do outro lado

A coligação pró-Agnelo Queiroz também tem seus constrangimentos. Há concorrentes proporcionais que evitam o quanto podem aparecer ao lado de integrantes do PMDB. Representadas da ala mais à esquerda não negam o mal-estar do casamento por conveniência com o partido dono do maior tempo de televisão e com fôlego financeiro para amparar a coligação liderada pelo PT.

Segundo distrital mais bem votado do PT em 2006, com 23.109 votos, Chico Leite marcou posição em 2010 contra a aliança com o PMDB de Tadeu Filippelli, mesmo a contragosto da direção do partido. Tem evitado os eventos em que a militância petista está misturada à de peemedebistas. Da mesma forma, age Érika Kokay, que manda material e representantes de seu grupo político, mas dá prioridade aos eventos selecionados por sua coordenação de campanha.

Representante do PDT com boa performance segundo as pesquisas de opinião, José Antônio Reguffe também está descolado do grupo majoritário. Não faz restrição a Agnelo, mas com um discurso amparado na ética e nos bons costumes, tem preferido manter distância do palanque eventualmente dividido por pessoas citadas na Caixa de Pandora. Considera que a vinculação pode lhe prejudicar.

Apesar de alguns ausências, a coordenação de campanha do PT afirmou ao Correio que desconhece constrangimentos nos eventos da coligação e que se existirem são fatos pontuais e não expressam o sentimento da coletividade. Os assessores da coligação dizem que a composição entre os 11 partidos tem funcionado na prática e ganha a cada dia mais adesão. Representantes do grupo de Roriz, por sua vez, alegam que as ausências de distritais são naturais na dinâmica de uma campanha e não produzem diferença substancial no resultado das eleições.

Colaboraram Juliana Boechat e Luísa Medeiros

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