Cidades

Em entrevista, mãe de bebê internado no HRC descreve momentos que antecederam o parto

O Hospital Regional de Ceilândia e a Polícia Civil investigam se houve demora no atendimento da comerciária que entrou em trabalho de parto na segunda. Ela falou com o Correio ontem

postado em 22/07/2010 07:43

O choro incontido da comerciária Izabel Cristina da Silva, 33 anos, revela o sofrimento de não poder segurar o filho João Pedro nos braços. O bebê nasceu na última segunda-feira, às 7h10, no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas teve de ser levado às pressas para a UTI neonatal do hospital. Ele respira com a ajuda de aparelhos.

O menino de 52 centímetros e 3,450 quilos precisou ser reanimado por um pediatra e, agora, luta pela vida. Em uma conversa, ontem, com o Correio, Izabel descreveu os momentos de desespero que antecederam a hora do parto. Para ela, o motivo de seu bebê estar entre a vida e a morte foi a ausência de um obstetra na hora do parto. ;Foi negligência;, disse. Revoltada, a família pretende denunciar o caso ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina (CRM).

Por meio de nota, a direção do Hospital Regional da Ceilândia (HRC) disse que o parto de Izabel foi assistido por um médico e que ;como há divergência de relatos entre o descrito e a informação prestada pelos familiares, foi instaurado processo de sindicância para apuração dos fatos;. A 15; Delegacia de Polícia (Ceilândia) também abriu inquérito. O delegado-chefe, Onofre de Moraes, ouve hoje os pais da criança e, na próxima segunda, os relatos de enfermeiros e médicos que cuidaram do parto, para decidir se haverá indiciamento por negligência. Leia trechos da entrevista que Izabel concedeu em sua casa, no P Sul, em Ceilândia.


Hospital
Cheguei às 4h e não tive problema algum. O procedimento foi normal. O problema foi na hora do parto.

Dor
O médico me avaliou três vezes, mas disse que ainda não estava na hora de o bebê nascer. Perguntei quanto tinha de dilatação e ele me disse: 10 centímetros. Às 6h45, ele saiu e eu logo comecei a sentir muita dor. Comecei a gritar por ajuda, mas ninguém me deu atenção no começo. Talvez pelo fato de 90% das mulheres que vão ganhar neném ficarem gritando, acharam que era brincadeira.

Socorro
Eu gritava falando que o neném estava nascendo. Não tinha mais força para nada. Perguntei para uma enfermeira onde estava o médico e ela me disse que ele tinha ido buscar material para fazer o parto, só que o estranho é que ele foi fazer isso bem na hora da troca de plantão, que é às 7h. Meu filho não conseguia sair e eu avisei ao médico que não tinha forças para continuar o parto (mesmo assim, ela não foi submetida a uma cesariana). As enfermeiras estavam desesperadas porque o bebê não podia ficar assim. Elas fizeram o meu parto.

Bebê
Meu filho nasceu às 7h10. Assim que conseguiram tirá-lo de dentro de mim, eu não pude segurá-lo. As enfermeiras já saíram correndo pelo corredor chamando um pediatra para reanimá-lo. Meu filho estava roxo, porque não respirava. Ficou muito tempo sem ar. Praticamente nasceu morto (pausa e choro). Depois disso, quem veio me assistir foi uma outra doutora. O médico que me atendeu antes eu não vi mais.

Médico
Ele chamou a mim e ao meu marido para conversar. Disse que em momento algum se ausentou do hospital e que teve de sair para atender outra paciente que já estava esperando há muito tempo, mas que tinha deixado outra médica no lugar dele.

Sentimento
Não acredito que isso aconteceu porque eu fiz todo o pré-natal direitinho. Meu filho estava saudável até a hora do parto. Uma médica disse para mim que faltou oxigênio no cérebro do meu filho e ele corre risco de morte ou de ter sequelas. Para mim, é certeza que isso tudo foi causado por negligência, porque se o médico estivesse por perto nada disso teria acontecido.

Enxoval
Eu tenho uma filha de 10 anos. Ele é o meu primeiro menino. Não só eu e meu marido, mas toda a família estava esperando ansiosamente esse bebezinho (pausa e ela abaixa a cabeça).

Berço
Não consigo chegar perto. Já é sofrimento demais.

Futuro
Tenho muita esperança de que meu filho vai voltar para casa e com saúde. Agora é só me apoiar em Deus.

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