Juliana Boechat
postado em 23/07/2010 07:00
Dos 1,8 milhão de eleitores aptos a votar no pleito de outubro no Distrito Federal, 138.233 são filiados a partidos políticos, o equivalente a 7,5% ; há quatro anos, essa proporção estava em 6,6%. Dentro desse universo, cerca de 103 mil deverão garantir votos para os dois principais concorrentes ao Palácio do Buriti: Agnelo Queiroz (PT) e Joaquim Roriz (PSC). Apesar de o primeiro ter ao seu lado o PMDB, partido com maior número de filiados no DF, e o PT, tradicional por sua militância, é Roriz quem conseguiu reunir mais apoio de militantes.A Coligação Esperança Renovada, encabeçada pelo ex-governador do DF, conta com 73.021 eleitores filiados, ou 52,8% do total de pessoas vinculadas a partidos políticos. Já o grupo de Agnelo reúne 60.354 votos de filiados, ou 40,6%. Adesões costuradas na reta final da pré-campanha garantiram a Roriz um exército maior de militantes: ele atraiu para sua coligação o Democratas (segundo maior, com 18.782 filiados, ou 13,5% do total); o PP (terceiro, com 14.651, ou 10,6%) e o PSDB (quarto colocado, com 14.651, ou 10,4%). O levantamento foi feito com base nos números divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As estatísticas mostram ainda a migração de militantes provocada pela saída de Joaquim Roriz do PMDB e sua ida para o Partido Social Cristão (PSC) ; em outubro de 2009, o ex-governador trocou de legenda após um embate interno com Tadeu Filippelli. Presidente do PMDB no DF, Filippelli tinha planos de ser o candidato a vice na chapa de José Roberto Arruda à reeleição. Com a Caixa de Pandora e a ruína política de Arruda, o peemedebista acabou mesmo se tornando candidato a vice, mas na chapa do petista Agnelo Queiroz.
Com a filiação de Roriz, o PSC cresceu como nunca no Distrito Federal. Logo após as últimas eleições, em novembro de 2006, 1.951 pessoas dedicaram apoio político ao partido. Nos anos seguintes, a quantidade de filiados à legenda caiu para 1.699. Após setembro de 2009, com a chegada do ex-governador, mais de 8 mil pessoas se filiaram à legenda. O crescimento do quadro de apoio político chegou a 413,5% nos últimos quatro anos. Hoje, 10.019 pessoas estão ligadas ao partido cristão, o equivalente a 7,2% do total de eleitores filiados.
;Nos últimos três meses, tivemos adesão de 3 mil filiados. Esse movimento se deve à vinda de Roriz. As pessoas seguem uma pessoa não só politicamente, mas também partidariamente;, acredita Valério Neves, presidente regional do PSC. Ele sabe, no entanto, que grande parte desses fieis poderão deixá-lo para trás caso Roriz saia da legenda em um futuro próximo.
Com a barba grande, Marcus Fabius Mota de Araújo autointitula-se um socialista e anarquista. Conhecido como Marcão da Rodoviária, ajudou na eleição do então petista Cristovam Buarque ao GDF, em 1994. ;Eu era amigo do Lula, o presidente. Bebemos cachaça do mesmo copo. Mas depois me decepcionei com o PT e saí de lá;, contou. Em seguida, filiou-se ao PCdoB, para trabalhar ao lado de Agnelo. Hoje aliado do PTdoB, ajuda na campanha de Roriz, principal adversário de Agnelo nas urnas. ;É tudo questão de estratégia.;
Contramão
Na contramão, o Partido dos Trabalhadores (PT) sofre com a debandada de filiados. Segundo os dados do TSE, a legenda contava com 8.996 eleitores filiados em 2006. Este ano, são 8.545. Uma queda de 5% no número de militantes petistas ligados ao partido ao longo dos últimos quatro anos. O PT, no entanto, conta com um dos maiores quadros de filiados ; e um dos mais tradicionais do país. ;O filiado do PT participa das ações políticas. Não tem como comparar os petistas com os aliados ao PSC. Roriz filiou algumas pessoas ao partido dele, lá não existe militância. A nossa é organizada e faz política o tempo todo, e não apenas na proximidade das eleições;, defendeu Agnelo Queiroz. Ele não acredita que o preço (1)cobrado dos filiados seja um motivo de desistência por parte dos eleitores aliados.
O DEM, partido que em 2006 elegeu Arruda e desde o ano passado ficou vinculado ao escândalo do suposto pagamento de propina no DF, foi um dos que menos cresceu nos últimos anos. Há quatro anos, a legenda tinha 18.767 militantes. Hoje, são 18.782, um crescimento de apenas 0,7% ; a menor entre todas as siglas que apresentaram aumento no contingente de eleitores filiados.
A liderança no ranking das maiores militâncias continua com o PMDB ; que também tem o maior número de filiados em nível nacional. Apesar do racha com Joaquim Roriz, nos últimos quatro anos o exército de militantes do partido atingiu 26.357, um aumento de 9%. Tadeu Filipelli acredita que a permanência da militância se deve aos trabalhos sociais realizados pelo partido entre os períodos eleitorais. ;Um filiado é muito importante. Eles têm consciência e compromisso. Mesmo na dúvida, eles acabam votando na legenda que apoiam. É um voto extremamente valioso;, definiu.
Análise
O professor de ciências políticas da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer caracteriza os filiados de partidos políticos em dois tipos: o de faz de conta e o militante. ;O faz de conta é aquele que, por alguma razão, filiou-se ao partido. Mas o militante vai às ruas trabalhar em favor do candidato ou ainda colabora com algo na campanha;, explicou. Segundo ele, grande parte das pessoas que se aliam a partidos políticos espera algo em troca. A única exceção, avalia, é o PT. ;Parte dos filiados petistas seguem os candidatos por afinidade e ideologia. Mas outra parte dos outros partidos contam com pessoas com interesses diretos;, disse.
Fleischer acredita ainda que uma fatia dos filiados sentiu nessas eleições as misturas consideradas até então improváveis entre as legendas, como a união PT-PMDB. ;O problema é que o PMDB ainda tem uma conotação rorizista. O partido ainda é um arco-íris em nível nacional, que apoia um pouco de todos os partidos. O atrapalhado DEM ainda não recuperou o mensalão de Arruda. Foi muito ruim para o partido. Tudo isso é sentido pelos filiados;, explicou.
1 - No bolso
O PT cobra R$ 5 pela carteirinha de filiação. Mas em caso de o militante ser estudante ou desempregado, deve pagar uma anuidade de R$ 15. Se a pessoa recebe mais de dois salários mínimos, pode escolher em pagar 1% do salário ou escolher o valor para doar ao PT. O Correio entrou em contato com o DEM e o PMDB. Nenhum dos dois cobra pela inscrição ou qualquer tipo de mensalidade. O filiado recebe um certificado e não uma carteirinha.