Cidades

Pacientes esperam até 17h para serem atendidos no Hran

Dezenas de pessoas enfrentaram situação semelhante à de uma auxiliar de limpeza que chegou ao Hran às 7h05 de quarta-feira e só foi atendida à 0h30 de ontem. Hospital diz que demora se deu pela falta de um dos médicos plantonistas

postado em 23/07/2010 07:10
O Hospital Regional da Asa Norte (Hran) deu mais um exemplo do descaso que toma conta da saúde pública no Distrito Federal. Na manhã de ontem, pacientes aguardavam por mais de quatro horas na sala de espera do pronto-socorro. Na quarta-feira, a jornada foi ainda mais árdua: 17 horas. Foi esse o tempo que a auxiliar de limpeza Marisa Silva dos Santos, 43 anos, esperou para ser recebida por um médico. E ela não estava sozinha. Dezenas de pessoas enfrentaram situação semelhante.

Pronto-socorro do Hran: número de médicos seria suficiente se atendimento fosse exclusivo a pacientes com quadros de urgência ou emergênciaA moradora de Samambaia Sul deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com pneumonia às 7h05 de quarta-feira e foi atendida à 0h30 de ontem. Mãe de três filhos, Marisa deixou os dois menores com uma vizinha enquanto buscava tratamento para a doença. ;Isso é um absurdo, uma falta de respeito. A gente vem para o hospital porque está precisando;, reclamou. A auxiliar de limpeza foi submetida a exames de raios x, de sangue e foi medicada. Saiu da consulta às 3h30. Esperou até as 6h para ir à Rodoviária do Plano Piloto pegar um ônibus de volta para casa.

;Essa situação é uma calamidade pública. Os hospitais estão abandonados. Se não quer atender o povo, fecha logo as portas;, revoltou-se a manicure Maria Aparecida Nunes de Souza, 38. Ela também compartilhou com Marisa a angústia de esperar por amparo médico. Com uma alergia, ainda de origem desconhecida, por todo o corpo, a moradora do P Sul aguardou mais de 12 horas por atendimento. ;Eu preciso saber o que está acontecendo comigo. Se não for ao médico, como vou fazer? Não tenho dinheiro para pagar consulta particular.;

De acordo com o chefe de equipe de plantão, Sidnei da Silva Queiroz, um dos três médicos que trabalhariam na quarta-feira estaria de atestado médico. Ausência suficiente para instalar o caos no pronto-socorro do Hran.

Repetição
No início na tarde de ontem, a situação não era diferente. Pacientes reclamavam da demora e da qualidade do atendimento no Hran. Nem mesmo o aposentado Joaquim Ferreira de Moraes, 87 anos, teve atendimento imediato. Com muita dor de cabeça e vomitando, ele, que tem reumatismo, esperou mais de duas horas para ser chamado. ;Não entregaram nenhum papel para a gente com o horário que demos entrada no hospital. O registro fica no computador. Assim é fácil fazer qualquer mudança nos dados. Antes, quando era no papel, ficava difícil;, acusou o genro de Joaquim, o motorista Raimundo Nonato Vieira da Silva, 48. ;Foi difícil convencê-lo a vir ao hospital, mas tivemos que insistir porque ele está muito mal;, relatou a cozinheira Maria Morais da Silva, 57. A família veio do Núcleo Bandeirante em busca de tratamento para Joaquim na Asa Norte. ;Sei que se procurasse o posto não resolveria o problema do meu sogro, a gente já sabe como funciona;, explicou Raimundo.

O eletricista Lucas Barbosa, 31 anos, morador de Sobradinho, não resistiu à lentidão do atendimento. Após cinco horas, solicitou um atestado de comparecimento. O documento comprovou a espera: das 7h às 13h. Mesmo doente, deixou o hospital para cumprir o resto da jornada de trabalho. ;Estou há 30 dias com uma tosse e uma dor no peito sem explicação. Quando cheguei aqui, havia 11 pessoas na minha frente, a fila só foi crescendo. Agora já são 32. Se eles não vão atender casos menos graves como o meu, então deviam avisar para que a gente não ficasse aqui perdendo tempo. É um desrespeito.;

Explicação
Em nota, a chefia de emergência do Hran informou que ;a demora no atendimento aos pacientes que recorreram ao pronto-socorro da unidade, em 21 de julho, ocorreu devido à redução da equipe de plantonistas; dos cinco escalados, dois apresentaram atestado médico.; O texto ainda salienta que o número de médicos seria suficiente para atender à demanda ;se o atendimento fosse exclusivo para pacientes com quadros de urgência ou emergência.;

"Essa situação é uma calamidade pública. Os hospitais estão abandonados. Se não quer atender o povo, fecha logo as portas"
Maria Aparecida Nunes de Souza, 38 anos, manicure, moradora do P Sul

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