Cidades

Depois de reduzir a mortalidade das MPEs, o objetivo passa a ser o crescimento

Caiu de 50%, em 2003, para 18,5%, em 2007, a taxa de fechamento das micro e pequenas empresas no DF. A mudança na legislação e a oferta de crédito facilitaram a abertura e a sobrevivência dos negócios

postado em 24/07/2010 07:13

O tecnólogo em redes Alex Aires Fortes, 34 anos, decidiu abrir o próprio negócio em 2001. Cauteloso, tratou de fazer antes um curso que dava noções de como administrar uma empresa. Teve dificuldades para obter capital de giro, já que nenhuma instituição bancária quis financiá-lo. Não desanimou: vendeu um veículo, pediu dinheiro emprestado à família. Em 2002, sua empresa, a Fortes Network, começou a funcionar em sua casa, em Ceilândia. Hoje, o escritório fica no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), tem dois funcionários e proporciona renda líquida de R$ 20 mil. A história do engenheiro civil Anderson Carvalho, 39, é semelhante. Ex-trabalhador assalariado, atuou como gerente de obras para empreiteiras da cidade. Quando quis virar patrão, também não encontrou crédito e investiu do próprio bolso. O período difícil passou e este ano sua empresa, a Novaplan Engenharia, completa dez anos de funcionamento com uma boa carteira de clientes.

Alex Forte se preocupa hoje em divulgar o negócioAlex e Anderson conseguiram atravessar os dois primeiros anos no mercado, período que costuma ser fatal aos micro e pequenos empresários. Segundo dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no DF (Sebrae-DF), de 2003 a 2005, 50% do total de empreendimentos iniciados pereceram. No Brasil, a média foi de 35,9% em igual período. Nos anos mais recentes, graças a melhorias (1)no arcabouço legal, programas específicos de crédito e menos burocracia, a mortalidade para negócios recém-nascidos caiu no DF e no país. A última pesquisa do Sebrae-DF mostra que, entre 2005 e 2007, 18,5% das empresas de pequeno porte fecharam as portas. O indicador fica abaixo da média nacional, que é de 22% para o mesmo período.

Novo foco
Embora ainda haja muito o que avançar no suporte às empresas-bebês, há um consenso de que o foco do desafio está mudando de direção pouco a pouco. Cada vez mais, manter-se no mercado passada a instabilidade inicial passa a ser o objetivo e a dificuldade maior dentro do universo dos pequenos negócios no Brasil. ;Quem enfrentou altos e baixos, resolveu as questões básicas do início, encontra um mercado altamente competitivo. Abrir filial, crescer e inovar são os novos obstáculos;, afirma Adriana Cerqueira Susarte, gerente de capacitação do Sebrae-DF.

Adriana conta que, detectando a nova demanda, o Sebrae deu início neste ano a um programa de capacitação de tipo inédito para os seus padrões. O Empresas Avançadas tem cursos direcionados exclusivamente ao público cujos empreendimentos estão há mais de dois anos no mercado. ;Passamos muitos anos focados naqueles que querem abrir uma empresa, querem se formalizar. Agora, temos essa política voltada para quem já passou pelo caminho das pedras e quer saber qual o próximo passo;, diz.

De acordo com ela, por enquanto o pacote de cursos está concentrado em três frentes: estratégia empresarial, gestão financeira e gestão de inovação. ;Todos eles dão ênfase na expansão e oferecem consultoria personalizada. São alunos que não podem nem querem passar tanto tempo em sala de aula. Os empresários querem resultados rápidos e práticos;, relata ela.

Segundo Adriana, até o fim do ano a previsão é de que 25 turmas devem capacitar representantes de mais de 300 empresas locais. A capacitação para empresas com mais tempo de mercado tem custo, embora seja subsidiada. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 0800 570 0800.

1 - Ajuda legal
Entre mudanças que facilitaram a vida dos microempreendedores, estão a Lei n; 126/06, conhecida como Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que criou a redução da carga tributária, desoneração da folha de pagamento e maior participação em licitações públicas. Mais facilidades vieram com a Lei n; 128/08, que cria a figura do empreendedor individual, destinada a autônomos com renda de até R$ 36 mil por ano. No DF, há créditos específicos para microempreeendimentos, como o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) e o Banco do Povo.

Capacitação permanente

O tecnólogo Alex Aires procurou o programa Empresas Avançadas do Sebrae com interesse no curso de estratégia empresarial. Com o crescimento do número de clientes em busca dos serviços de tecnologia de redes e segurança eletrônica que sua empresa oferece, ele precisou se equipar para atender à demanda. Decidiu que a solução mais viável era terceirizar os trabalhos que não conseguisse realizar com a sua equipe reduzida, formada por ele e mais dois funcionários. ;Como essa procura ainda vem de uma forma esporádica, é mais fácil contratar prestadores de serviços, pelo menos por enquanto;, pondera.

Alex tem interesse em investir na imagem de sua empresa. Ele mira no curso de gestão de inovação do Sebrae, e de outros em técnicas de marketing. ;Quero também fazer uma pós-graduação na área de gestão de negócios. Tomei consciência de que, além de técnico em redes, tenho que encarnar o papel do gestor. Sinto-me mais seguro. Agora, é seguir em frente e continuar me informando;, diz.

Anderson Carvalho conta que também aposta na capacitação contínua para encarar o desafio de se manter no mercado. Ele procurou o módulo estratégia empresarial do programa Empresas Avançadas. Seu próximo objetivo são cursos que ajudem sua empreiteira a adotar procedimentos que garantam certificações de excelência no ramo da construção. ;Tanto o Sebrae quanto o Sinduscon-DF (Sindicato das Indústrias da Construção Civil do DF) oferecem opções. Isso garante mais projeção no mercado.;

Mortalidade
Comparativo nos dois primeiros anos no DF (em %)

2003/2005 - 50
2005/2007 - 18,5

Ranking nacional da nos primeiros dois anos (em %)*

  1. Roraima - 50,7
  2. Acre - 39,7
  3. Amapá - 37,8
  4. Tocantins - 28,3
  5. Mato Grosso - 25,5
  6. Paraná - 25,2
  7. Amazonas - 24,2
  8. Santa Catarina - 24,1
  9. Pernambuco - 22,7
  10. Rio Grande do Sul - 22,5
  11. Maranhão - 22,4
  12. Ceará - 22
  13. Mato Grosso do Sul - 21,3
  14. Goiás - 21,3
  15. Rondônia - 20,3
  16. Paraíba - 19,2
  17. Rio de Janeiro - 18,7
  18. Alagoas - 18,7
  19. Distrito Federal - 18,5
  20. Bahia - 17,6
  21. Pará - 17,5
  22. São Paulo - 17,1
Média do Brasil - 22

*Dados do período 2005/2007

Fontes: Sebrae-DF e IBGE

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