postado em 25/07/2010 07:50
Transformar o turista de negócios em turista de lazer e convencê-lo a passar mais tempo na cidade é o grande desafio de Brasília. Dados do livro Impacto do turismo na economia do DF mostram que quem conhece a capital do país não tem do que reclamar em relação ao serviço de hotelaria e à gastronomia. São muitas as atrações cívicas, culturais, religiosas e de aventura a serem exploradas. Basta, na opinião de especialistas ouvidos pelo Correio, começar a implantar ações básicas, como a instalação de um posto de informações turísticas no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.Para a subsecretária de Turismo do DF, Jackeyline Mapurunga, no cargo há três meses, os visitantes de Brasília têm dinheiro no bolso e interesse em conhecer a cidade. ;Precisamos apenas nos posicionar como capital e assumir as qualidades que temos. Brasília é contemporânea, charmosa, tem cultura e opções de lazer;, comenta. A Secretaria de Turismo trabalha para, antes da troca do governo, concluir um levantamento completo das atrações turísticas da região. Outras medidas para estimular o setor estão em andamento. O restaurante da Torre de TV, por exemplo, deve ser reinaugurado em agosto.
Criar pacotes em que o acompanhante do turista de negócios ganhe desconto é a sugestão do presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens do DF (Abav), Carlos Alberto de Sá. Com o benefício, acredita ele, os executivos poderiam trazer a família e esticar a estadia em Brasília. ;Para isso, teríamos de incluir no pacote boas opções do que fazer nas horas vagas: teatro, shows, passeios pelo Lago Paranoá ou mesmo idas a cidades como Pirenópolis;, enumera. ;Mas o governo precisa fazer a parte dele e ajudar com a divulgação;, pondera.
Copa
A tendência é que, com a Copa do Mundo de 2014 a caminho, o turismo em Brasília ganhe outro ritmo. ;Temos muitos atrativos. Ocorre que o visitante de negócios vem com um foco muito bem definido. Se não apresentarmos as alternativas, ele não vai saber;, diz o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no DF (Abih), Plínio Rabello. Um dos problemas do setor, na avaliação dele, são ;monumentos de costas para o turismo;. ;Como vamos divulgar lugares que não passam nem por manutenção periódica?;, provoca.
A Praça dos Três Poderes e a Catedral estão com as reformas quase concluídas. Em relação à gastronomia, quem vem a Brasília não pode mais reclamar da falta de bons restaurantes. Há opções para todos os bolsos e paladares, dos mais simples aos mais sofisticados. ;Estamos preparados para receber os turistas porque o público daqui é exigente;, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do DF (Abrasel), Sérgio Zulato. ;Precisamos ter mais orgulho da cidade para acabar com esse estigma pejorativo de capital administrativa;, acrescenta Rabello.
Potencial
Nestas férias de julho, a servidora pública Eline Fialho, 29 anos, não quis saber de praia. Preferiu apreciar o concreto e o verde de Brasília durante seis dias. Fez o tour completo, com direito a caminhada pelo Parque da Cidade. ;O potencial turístico daqui é incrível. Não vim só por causa dos parentes, Brasília é linda;, comenta a residente de Palmeiras de Goiás, a 72km de Goiânia. ;Turismo gera emprego e renda. Mas o visitante precisa ficar mais tempo;, avalia a professora Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, uma das organizadoras do livro que traz o perfil do turista de Brasília.
O amazonense Daniel Almeida, 53 anos, visitou a capital federal pela décima vez na semana passada, para participar de um encontro promovido pelo Ministério da Saúde. ;Em nenhuma delas vim a lazer. Nunca ouvi ninguém dizer que passou férias inesquecíveis aqui. Potencial existe, mas ele tem que ser mais bem explorado;, diz. ;Temos que conquistar o turista antes de ele chegar a Brasília. Aqui, fica impossível, porque ele já vem com a passagem de volta comprada;, sustenta o presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar), Clayton Machado.
As principais queixas dos turistas que não pretendem voltar a Brasília estão associadas ao custo de vida da cidade ; considerado alto ;, às poucas opções de lazer durante a noite e à dificuldade de locomoção por meio de transporte público. Outros entrevistados pelos pesquisadores reclamam ainda da acolhida na cidade. ;Como o turista fica pouco tempo, ele não se envolve com a população como deveria. Essa impressão de ;frieza; vai mudar quando ele deixar de ser homem de negócios e virar turista de lazer;, acredita a professora Maria de Lourdes.