postado em 27/07/2010 08:19
Esqueça o conceito de que os homens só entram em shopping centers para checar a última palavra em tecnologia e eletrônicos, ou a fim de comprar a camisa do time do coração na loja esportiva. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) mostrou que o interesse do público masculino por roupas, calçados e itens de perfumaria deu um salto nos últimos dois anos. As vendas acumuladas de 2008 a 2009 cresceram, respectivamente, 20,2%; 15,81% e 10,33% para esses segmentos. Eles puxaram uma alta média de 11,94% na comercialização de artigos para o sexo forte. O levantamento apontou ainda que rapazes e senhores responderam por metade do faturamento do setor de vestimentas no DF nos últimos dois anos. A vaidade masculina veio para ficar, e chegou a tal ponto que, recentemente, um advogado de Brasília encomendou um terno de US$ 56 mil (R$ 98, 5mil) em uma alfaiataria exclusiva, aberta há pouco tempo na cidade.O interesse do homem brasiliense pelo mercado de luxo não surpreende a Fecomércio-DF. Um dos fatores que motivaram a realização da pesquisa(1) sobre o comportamento do consumidor do sexo masculino foi justamente o bom desempenho desse filão. De acordo com o presidente da entidade, Miguel Setembrino, no início deste ano, duas lojas de alto padrão da cidade que haviam acabado de abrir as portas fizeram uma projeção de vendas para 30 dias. Alcançaram em três dias a meta traçada para um mês.
;Esse foi o motivo de termos encomendado o levantamento de dados. Mas outras coisas já estavam nos fazendo prestar atenção no comportamento dos homens;, explica Setembrino. Segundo ele, comerciantes do DF notaram, por exemplo, que de alguns anos para cá as mulheres já não vão tanto às compras para maridos e namorados. ;Eles estão escolhendo as próprias roupas e calçados. Antes, qualquer coisa eles vestiam. Agora, selecionam;, diz.
O presidente da Fecomércio-DF chama a atenção para o fato de o crescimento acumulado das vendas de roupas, calçados e perfumaria ter suplantado o registrado para produtos tradicionalmente associados ao universo masculino, como eletroeletrônicos e artigos esportivos. A comercialização destes subiu modestos 5,5% e 5,33% no período pesquisado.
Outro dado que se destaca é a importância dos homens para o faturamento dos lojistas. Eles responderam por 39,72% dos ganhos do comércio em 2008 e 2009. Tiveram presença marcante nos segmentos de materiais esportivos (69,9%), vestuário (49,8%), calçados (47,14%), perfumaria (31,33%) e lojas de departamento (28,75%). O setor de eletroeletrônicos, que vendeu 23,33% de seu estoque para o sexo masculino, ficou em último lugar.
Para Setembrino, o resultado pode ser atribuído ao fato de as compras de CDs, DVDs, MP3 players e artigos de linha branca via internet estarem ganhando força. Ele não descarta a relação dos números com a preocupação dos homens com a aparência. A tendência é de que os lojistas passem a investir maciçamente em técnicas para captação do público masculino. O levantamento da entidade aponta que 56,8% dos entrevistados já fazem marketing para esses clientes.
1 - Sondagem
Para pesquisar sobre o desempenho do mercado masculino, a Fecomércio-DF aplicou questionário a uma amostra de 81 lojistas dos seis segmentos considerados estratégicos e com capacidade de mensuração das flutuações do varejo. Do total de entrevistas realizadas, 10 foram direcionadas ao setor de vestuário, 21 ao de calçados, oito ao de lojas de departamentos, seis ao de materiais esportivos, 30 ao de perfumaria e seis ao de eletroeletrônicos.
Um terno de R$ 98 mil
Nascida há cinco anos em São Paulo, a marca Camargo Alfaiataria, especializada em ternos sob medida, atendia clientes de Brasília antes mesmo de abrir uma filial no Shopping Iguatemi. De acordo com o diretor comercial da rede, Vasco Vasconcellos, esse foi um dos fatores que estimularam a vinda da empresa para a cidade.
Ter um terno da Camargo não sai barato. A rede só trabalha com tecidos franceses, ingleses e italianos, considerados os de melhor qualidade. Se a roupa for cortada sob medida, custa a partir de R$ 3.790. Se for semipronta, podendo ser ajustada ao tamanho e à altura do cliente, sai a partir de R$ 1.190. Idealizador da empresa, o alfaiate João Camargo garante que o produto vale o preço. ;Além da qualidade do tecido, o corte valoriza o corpo masculino. Ele modela, não serve só para cobrir. Eu trouxe isso do vestuário feminino, já que meus primeiros cursos de molde foram para o público das mulheres;, afirma.
Foi na Camargo Alfaiataria de Brasília que um cliente encomendou um terno de US$ 56 mil, o equivalente a mais de R$ 98 mil. ;Ele queria algo realmente especial. Nosso importador em São Paulo teve notícia de um tecido feito de pashmina e vicunha na Inglaterra que, se virasse um terno, chegaria mais ou menos a esse preço. Estamos atrás, não somente por causa do cliente, mas porque, se algo dessa qualidade existir, queremos ter em nossa loja;, diz Vasco Vasconcellos. A pashmina é um tipo de lã, mais leve e mais nobre do que a caxemira. Enquanto a primeira é tecida a partir do pelo de todo o corpo de cabras da montanha, a segunda sai da pelagem da barriga do animal, muito mais macia. Já a vicunha é um animal de pelo macio que vive nas regiões andinas. Só existem 170 mil deles no mundo.
Embora a Camargo ainda não possua esse tecido, tem outras preciosidades para clientes que desejam produtos de alto valor agregado. Uma delas é a trama franco-inglesa Royal Qiviuk, da conhecida marca Dormeuil. Trata-se de pano com 45% de linho fio 200 e a mesma medida de linho puro, acrescidos de 10% de pelo de Qiviuk, tipo de bisão que só existe no norte do Canadá e cuja pelagem cai na primavera. Um terno feito a partir do tecido sai a R$ 35,9 mil. Outra opção é a marca inglesa Scabal, que entremeia fios de ouro 22 quilates e fragmentos de diamante em seus tecidos. Pronto, o terno-joia custa de R$ 26 mil a R$ 27 mil. (MB)
Otimismo no comércio
Os lojistas do DF estão otimistas para o Dia dos Pais. De acordo com levantamento realizado pela Fecomércio junto a 110 entrevistados, 64,55% comerciantes acreditam que as vendas serão maiores em relação à mesma data do ano passado. Já 21,82% aguardam vendas iguais e 13,64% apostam em desempenho inferior. Na média geral, a expectativa dos empresários é de crescimento de 8,33% no faturamento. O segmento de perfumaria é o mais otimista, esperando alta de 14,66%, enquanto, as lojas de celular são as mais cautelosas, estimando queda de 3,33%. Entre os pesquisados, 74,5% devem promover incrementos em estoques para a data. Lojas de material esportivo e de departamento dobrarão a quantidade de mercadorias. Em relação às estratégias de vendas, 86,4% dos empresários estão utilizando promoções para atrair o consumidor.