postado em 28/07/2010 06:34
Imagine estar em um restaurante de uma área nobre de Brasília, jantando ou almoçando com tranquilidade, e, de repente, ser assaltado, diante de outras 50 pessoas. Ou então ser dono de uma loja e ver o dinheiro de um dia de trabalho levado por bandidos armados. Ladrões ignoram a luz do dia, câmeras de segurança e agem com liberdade. A situação parece assustadora, mas se tornou rotina em estabelecimentos comerciais do Plano Piloto.Na última segunda-feira, uma joalheria no shopping Venâncio 2000 não escapou do perigo. Teve um prejuízo de R$ 500 mil, segundo a proprietária. Os bandidos entraram de madrugada pelo buraco do ar condicionado e tiveram o cuidado de levar o computador com as imagens do circuito interno de segurança, para dificultar o trabalho da polícia.
No mesmo dia, na Cidade do Automóvel, uma empresa de informática na Quadra 14 amargou prejuízo de R$ 100 mil. Os ladrões entraram na loja pelo fosso de ventilação, também de madrugada, e levaram, além do dinheiro, computadores, inclusive com as imagens da câmera de segurança. Ainda na segunda-feira, porém à tarde, a lotérica da 711 Norte sofreu uma tentativa de assalto. Três homens armados invadiram o local e anunciaram a ação. Ao verem um carro da PM, os ladrões correram. Na noite do último domingo, um posto de gasolina na 210 Norte também se tornou alvo de bandidos. Um rapaz armado rendeu o frentista e fugiu com todo o dinheiro em caixa.
Arrastão
Na Asa Norte, este ano, a média de roubos a comércios atingiu a marca de quatro crimes por dia, segundo informações da 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte). Nos últimos 20 dias, pelo menos três assaltos ocorreram em forma de arrastão, quando muitas pessoas são roubadas de uma só vez ou no mesmo dia. Em 15 de julho, homens armados invadiram uma pizzaria, na 214 Norte, e levaram os pertences de 15 pessoas. Na semana anterior, outro restaurante, na 302 Norte, teve de entregar a renda de um dia inteiro de trabalho aos bandidos. Os clientes também foram lesados. Os assaltantes levaram mais de R$ 1,1 mil. ;Os funcionários tiveram de fazer papel de polícia e correr atrás dos bandidos. Já sofremos três roubos, um deles à tarde;, relatou a supervisora, que pediu para não ter o nome revelado.
O clima entre os donos de lojas é de revolta. ;Os bandidos são uns drogados. Isso aqui está virando a cracolândia de São Paulo. Eu já vi duas vezes o assaltante ser preso de manhã e estar rondando a quadra outra vez, à tarde, no mesmo dia. O que sobra são medo e insegurança enormes. Só tem polícia na quadra até as 17h;, reclamou o comerciante Antônio Carlos Coelho, 31 anos, dono de uma loja de produtos eletrônicos na 302 Norte. Na mesma quadra, um mercadinho foi assaltado duas vezes, a padaria, diversas outras, e nenhum restaurante escapou da violência.
De acordo com a delegada-chefe da Asa Norte, Mônica Loureiro, no último mês as polícias militar e civil uniram forças para reduzir a criminalidade nas redondezas. As duplas conhecidas como Cosme e Damião têm sido mais vistas (leia memória). O resultado foi positivo, ela diz. ;Há mais agentes e PMs nas ruas, mais viaturas e diálogo com a população. Depois disso, ficamos um fim de semana inteiro sem registrar nenhum roubo a comércio. Durante uma semana, foram cinco. Eram quatro por dia. Estamos felizes, porém nossa meta é roubo zero;, explicou a delegada.
A Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF) aponta a Asa Norte como o local mais visado pelos bandidos no Plano Piloto. ;Acredito que a própria arquitetura da Asa Norte, com blocos comerciais com quatro faces, diferentemente do que se vê na Asa Sul ou nos lagos, por exemplo, favorece a ação dos bandidos;, afirmou a presidenta da ACDF, Danielle Moreira. Postos de gasolina e casas lotéricas são alguns dos alvos preferidos. ;São lugares assim, com dinheiro garantido, que mais precisam de atenção;, explicou Danielle. ;Estamos assustados. De uns anos para cá, os bandidos perderam o medo. Sabem que podem atuar sem se preocupar com a polícia;, criticou.
Soluções
A 2; DP implantou ontem o Sistema Sentinela(1), no qual o comerciante vai até a delegacia, cadastra-se para ter acesso a um número de telefone do plantão da unidade policial e pode chamar o socorro acionando apenas uma tecla do telefone registrado. Quando o pedido de ajuda chega à tela do computador, aparece o nome de quem está ligando e o endereço. ;Queremos expandir o serviço para toda a população local e não só para os comércios. Mas, devido às circunstâncias, vamos começar com os empresários;, afirmou Mônica Loureiro. A ACDF questiona a eficácia do sentinela. ;Ligar para a polícia não é o problema. A questão é que eles demoram até 40 minutos para chegar;, criticou. ;Não quer dizer que não vai haver falha, mas estamos otimistas;, rebateu a delegada.
Redução
A Asa Sul vem logo em seguida em volume de reclamações dos empresários, como relatou a ACDF, sem levantar números exatos. Mas a polícia nega. ;O índice de roubos a comércio aqui não está alto, inclusive diminuiu. Existem alguns casos em andamento e estamos investigando;, limitou-se a dizer o delegado-chefe da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), Watson Warmling. A região tem por volta de 2,2 mil lojas e a Asa Norte, 3 mil estabelecimentos, de acordo com dados da associação. Em locais como Lago Sul e Lago Norte, a incidência de roubos a comércio é menor, segundo a ACDF e a Polícia Civil.
Em todo o DF, a Secretaria de Segurança Pública registrou 806 roubos (quando a vítima é rendida) e 1.283 furtos (sem uso de violência) a comércios de janeiro a abril deste ano. Os números da PM não batem com a realidade relatada pela população. ;De janeiro a maio de 2009 a Asa Norte teve 44 casos de roubo a comércio. No mesmo período deste ano, foram 26 casos. A diminuição é grande devido à presença das duplas de policiais, conhecidas como Cosme e Damião;, garantiu o chefe do departamento operacional da PM, coronel Alberto Pinto. ;A população deve sempre registrar a queixa, para que possamos agir;, concluiu.
1 - Agilidade
Além de ser um mecanismo de identificação de chamadas de emergência que aciona a delegacia toda vez que acontece um crime em comércio, o Sistema Sentinela também é usado em escolas e condomínios. Foi desenvolvido pela Divisão de Informática da Polícia Civil do DF (DINF) com a finalidade de propiciar maior agilidade no combate ao crime e funciona desde 2008.