Cidades

373 escolas do DF disputam olimpíada nacional

postado em 30/07/2010 07:00
;Como começamos um texto de memórias?;, questiona a professora de português Gabriela Maria de Oliveira. Um dos alunos grita, meio brincalhão: ;Era uma vez;. Gabriela contesta, paciente: ;Mas ;era uma vez; não é muito comum?; Outro sugere: ;Naquele tempo;. A professora, então, fica satisfeita: ;Ah! Podemos começar um texto de memórias com ;naquele tempo;;. E as duas palavras mancham o branco do quadro-negro.

Júlio Jackson e Victor Hugo estão empolgados em fazer uma boa redação para ficar entre os melhores do paísO texto coletivo vai sendo escrito com outras sugestões, até que se conclui mais uma atividade da preparação para a Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. O Centro Educacional 5, em Taguatinga Norte, onde Gabriela leciona, é uma das 373 escolas do Distrito Federal inscritas no programa, que faz parte do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação, do governo federal. Em 2010, o projeto tem à disposição cerca de R$ 20 milhões, dos quais R$ 8 milhões vêm do Ministério da Educação (MEC) e o restante, da Fundação Itaú Social. Vão concorrer alunos do 5; ano do ensino fundamental ao 3; ano do ensino médio, matriculados em mais de 60 mil escolas públicas de todos os estados. Segundo a organização da olimpíada, foram inscritas 70,4% das instituições da rede pública do DF.

A professora Gabriela espera repetir o bom desempenho da última edição da Olimpíada, em 2008, quando uma estudante sob sua orientação, Suzianne Raquel do Nascimento, ficou entre os 500 semifinalistas da etapa nacional. ;A gente tem que fazer um trabalho de conscientização, mostrar para eles (os alunos) que a língua não é só a falada, nem a que usam na internet;, observa Gabriela. ;No computador, ;você; vira ;vc;, mas na hora de escrever não pode;.

O desafio é grande. Em uma das salas que margeiam o pátio adornado com retratos de Karl Marx e Nelson Mandela, Gabriela tenta evitar que a turma do 8; ano (antiga 7; série) se disperse em conversas paralelas. Ela diz que a maioria dos alunos tropeça na palavra escrita. ;O nível está bem ruim, eles não têm o hábito da leitura em casa;, reclama. Desde maio, a professora os ensina a redigir textos de memórias, gênero escolhido pela organização para os alunos dos 7; e 8; anos do ensino fundamental. Os outros gêneros da competição são poema, destinado aos 5; e 6; anos do fundamental; crônica, para o 9; ano do fundamental e o 1; do ensino médio; e artigo de opinião, para os 2; e 3; anos do médio.

A professora Gabriela de Oliveira leciona português para o 8º ano: conscientização para os alunos aprenderem algo além da linguagem da internetComo o tema da olimpíada é ;o lugar onde vivo;, cada turma guiada por Gabriela escolheu um morador antigo de Taguatinga para ser entrevistado e ter suas recordações escritas pelos alunos na primeira pessoa do singular. Com nome de escritor famoso, Victor Hugo, 13 anos, é um dos mais ambiciosos. Ele quer figurar entre os melhores do país. ;Mas ainda falta estudar acentuação e outras coisas, para o texto não ter nada errado;, ressalva. O colega Júlio Jackson, com a mesma idade, diz que nem tinha ouvido falar desse tal texto de memórias, mas também está empolgado. ;Só quero fazer uma boa redação, se ficar entre as melhores da escola está bom;, comenta.

Metodologia
O Ministério da Educação enviou a todas as escolas públicas do país a Coleção da Olimpíada, que inclui um caderno com a metodologia de ensino a ser seguida pelo professor inscrito. ;Primeiro, ele deve fazer um diagnóstico em relação ao conhecimento de seus alunos sobre o gênero textual determinado para a sua série;, explica a coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Maria Tereza Antonia Cárdia. O órgão colaborou na elaboração do programa. ;O próximo passo é fazer com que os alunos conheçam aquele gênero até ter autonomia para produzir um texto, fazer sua revisão e reescrevê-lo;, complementa Maria Tereza.

O presidente do movimento Todos pela educação, Mozart Neves Ramos, aprova o projeto e defende que ele se estenda à rede particular. ;Nossa preocupação é com o futuro cidadão brasileiro, independente de estudar em escola pública ou privada;, argumenta. Na sua avaliação, porém, os resultados das duas redes teriam que ser considerados separadamente. ;Elas possuem históricos socioeconômicos diferentes. A gente tem que considerar que nosso sistema educacional não é equitativo no quesito qualidade.;

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Certame em cinco etapas


Criada em 2002, pela Fundação Itaú Social e pelo Cenpec, a olimpíada chega à sua segunda edição desde que foi adotada pelo governo federal, em 2007. A competição terá cinco etapas, iniciadas na própria escola, que seleciona um exemplar de cada gênero textual e tem até 16 de agosto para encaminhá-los à comissão julgadora local. As triagens vão se afunilando até chegar aos 20 vencedores nacionais, anunciados em novembro, em um evento em Brasília. A cada fase, são distribuídos prêmios como medalhas, livros e aparelhos de som portáteis. No final, as escolas dos ganhadores recebem dez computadores cada uma.

A competição ocorre a cada dois anos. O programa, porém, é ininterrupto e também oferece aos professores interessados cursos de formação presenciais e à distância. Segundo o coordenador-geral de Tecnologia da Educação da Secretaria de Educação Básica do MEC, Raymundo Machado, embora o projeto seja recente, os resultados já são visíveis. ;Há uma evolução na qualidade dos trabalhos enviados a cada edição da olimpíada;, avalia. As 60.120 mil escolas inscritas estão bem abaixo das 145 mil anteriormente previstas pelo MEC. Mesmo assim, ;a mobilização dos professores tem crescido bastante;, acredita Machado.

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