postado em 30/07/2010 07:00
Rivalidades à parte, o certo é que em um passado não muito distante o morador da Asa Norte precisava atravessar a cidade para tomar um chope, fazer um lanche ou jantar com a família. A vida era basicamente na Asa Sul, a primeira das Asas a ser desenhada. Bares e restaurantes, salvo um ou outro ponto tradicional, concentravam-se do outro lado do Buraco do Tatu. Até que, na última década, empresários do setor se atentaram ao potencial da ala mais nova de Brasília. De 2005 para cá, o boom se concretizou e a Asa Norte ganhou suas entrequadras de referência.O preço do metro quadrado de um ponto comercial varia muito nas duas regiões, dependendo da quadra, da localização no prédio e da tradição da rua. Na Asa Norte, o preço custa, em média, entre R$ 9 mil e R$ 12 mil, nos melhores pontos. Na Asa Sul (1), a variação fica entre R$ 10,5 mil e R$ 13 mil. ;Por ser mais nova, a Asa Norte tem mais opções de espaço, o que faz o preço ser mais baixo. Mas esses valores têm se aproximado cada vez mais. Não vai demorar muito para essa diferença deixar de existir;, prevê Pedro Fernandes, diretor da Beiramar Imóveis.
Entrequadras da Asa Norte têm se transformado em novos polos gastronômicos da capital federal, quase sempre com a presença de um ou mais estabelecimentos âncora. Capitaneada pela Valentina Pizzaria, a área comercial das residenciais 213/214, as mais novas do Plano Piloto, atraiu redes de franquias como a Yogobbery, do Rio de Janeiro, e a Chopp Time, de Ribeirão Preto (SP). A Valentina começou com três lojas e hoje divide todo o térreo do bloco apenas com uma farmácia e um salão de beleza. Do outro lado da rua, um ponto de esquina foi vendido recentemente por quase R$ 400 mil.
Depois de três meses à procura de um lugar para abrir o segundo Chopp Time de Brasília, o empresário Luiz Carlos Brandão optou, com o sócio, pelo fim da Asa Norte. ;O espaço não é tão grande como outros que vimos na Asa Sul, mas apostamos no potencial da vizinhança;, conta. Além dos moradores das quadras ao lado, a proximidade com o Parque
Olhos D;Água garante movimento na choperia, aberta em dezembro do ano passado. ;Em dias bons, passam por aqui de 250 a 300 pessoas;, calcula Brandão, que coordena uma equipe de 20 funcionários.
Nas residenciais 412/413, o prédio ocupado pelo Bendito Suco e pelo Café com Vinil deu vida à entrequadra. Na mesma rua, o norte-americano Steve Hogg ; famoso pelos lanches servidos em festas nas embaixadas ; abriu sua hamburgueria. Está prevista para daqui a duas semanas a chegada do Dona Lenha, que vai ocupar o térreo inteiro de um dos blocos da comercial. Será a nova unidade do restaurante na Asa Norte, que hoje ocupa uma loja de fundo na 210. ;Vamos mudar para um espaço maior. Estávamos tímidos para o crescimento que a Asa Norte teve;, diz Rafael Benevides, um dos sócios.
O consagrado Beirute, após 41 anos na 109 Sul, decidiu, três anos atrás, chegar à Asa Norte, de onde partia a maioria dos pedidos de entrega do bar. Uma pesquisa de mercado encomendada pelos donos apenas confirmou a sensação de que valeria a pena estar presente do lado oposto da matriz, cartão-postal da capital. ;Era claro que existia uma carência naquela região, mas o movimento superou nossas expectativas;, diz Francisco Emílio, o Chiquinho, um dos proprietários. Na avaliação dele, depois da lei seca (2), as pessoas querem ainda mais opções para comer e beber perto de casa.
Encontrar vaga para estacionar o carro nas quadras 109/110 Norte é tão difícil como em comerciais badaladas da Asa Sul. São pelo menos oito bares, restaurantes e lanchonetes nobres. A temakeria Nanbei, marca brasiliense, abriu as portas em 2007 e forçou a chegada de concorrentes. ;Decidimos começar pela Asa Norte e hoje percebemos que demos um tiro certo;, afirma o sócio proprietário Fernando Martinazzo. No ano passado, o empresário inaugurou a unidade da Asa Sul, cuja receita é menor do que a da primeira. ;Na Asa Norte, temos clientes o dia inteiro;, diferencia.
Do outro lado do Eixão, a entrequadra das residenciais 209/210 também ferve, principalmente à noite. Há quase uma dezena de bares, como o Acarajé da Rosa, o Mont Sion e o Armazém do Mineiro, espalhados pelos blocos comerciais. Em alguns casos, um colado no outro. Para matar a fome dos boêmios, chegou recentemente à rua o Subway e surgiram pizzarias para fazerem companhia ao Giraffas. Na 408/409 Norte, outra referência da Asa Norte, servem como âncoras o Café da Rua 8, o Godofredo e o boteco Pôr do Sol, tradicional reduto de universitários.
1 - Aluguéis
Em maio deste ano, o Correio mostrou em reportagem que a carência de pontos comerciais inflacionou o mercado de aluguel nas entrequadras do Plano Piloto, principalmente na Asa Sul. Nos últimos dois anos, os preços dobraram. Um ponto na 409 Sul, às margens da Avenida L2, chega a valer R$ 1,2 milhão de luva, mais R$ 50 mil mensais.
2 - Trânsito sem álcool
A Lei Federal n;11.705/08, conhecida como lei seca, entrou em vigor em 20 de junho de 2008. A legislação que altera o Código de Trânsito Brasileiro proíbe o consumo de praticamente qualquer quantidade de bebida alcoólica por condutores de veículos. Motoristas flagrados excedendo o limite de 0,2 grama de álcool por litro de sangue pagam multa de R$ 957, perdem a carteira de motorista por um ano e ainda têm o carro apreendido.