postado em 31/07/2010 09:48
Dá para relaxar em um dia normal de trabalho, em uma grande cidade? A resposta é sim, graças a um fenômeno dos anos 2000, os spas urbanos. Escondidos em cantos insuspeitos, eles são ilhas de tranquilidade em meio ao caos do cotidiano. No Distrito Federal, eles ainda são poucos ; os mais famosos não chegam a 10 ; mas atraem público grande e fiel. Fazem de 30 a 40 atendimentos diários, o que significa até 1,2 mil clientes por mês. Classe média e classe média alta constituem a maior parcela que procura esse tipo de serviço. Tratamentos desestressantes e estéticos são os mais requisitados, e há opções para todos os bolsos. Massagens, por exemplo, custam de R$ 45 a R$ 150. Pacotes completos podem custar de R$ 900 a R$ 2,9 mil, mas sempre dá para parcelar, aproveitar promoções em datas comemorativas, conseguir um desconto. O importante é cuidar do bem-estar, e há muita gente interessada nisso na capital federal. Para especialistas, o mercado local, embrionário, tem espaço de sobra para crescer.Dados da Associação Brasileira de Clínicas e Spas (ABC-Spas) revelam que o mercado de spas vive um movimento de expansão em nível nacional, com destaque para as unidades urbanas. No início de 2008, existiam 643 spas em todo o país. Hoje, são cerca de mil. O faturamento anual deles, que, há dois anos, ficou em R$ 511 milhões, no ano passado chegou a R$ 720 milhões. De acordo com o presidente da entidade, Gustavo Albanesi, 70% das unidades em funcionamento ficam dentro de cidades.
;Com o crescimento da economia e a da urbanização, as pessoas foram tendo cada vez menos tempo para sair da cidade, viajar, mesmo nos finais de semana. Nos spas urbanos, há a mesma qualidade daqueles com serviço de hospedagem(1), mas em endereços acessíveis;, afirma Albanesi. De acordo com ele, o número de spas urbanos tende a crescer nos próximos anos em todos os grandes centros urbanos. ;O mercado mais desenvolvido é o de São Paulo, seguido pelo do Rio de Janeiro. Mas Brasília, Curitiba, Porto Alegre são focos de expansão. É um filão extremamente inexplorado e com muito potencial;, afirma.
Para Daniel Fernandes, contador e professor do curso de economia da Universidade Católica de Brasília (UCB), a alta renda per capita da população de Brasília torna a praça local especialmente atraente para quem deseja oferecer serviços de bem-estar, cuidados estéticos e com a saúde.
1 - Anos 1980
Os primeiros spas que surgiram no mercado brasileiro foram os chamados spas de destino, ou seja, estabelecimentos com estrutura de hospedagem e alimentação e preparados para receber as pessoas para tratamentos de vários dias ou semanas. Esse tipo de serviço começou a ser oferecido no país nos anos 1980. Atualmente, o crescimento em número desses spas pelo Brasil ainda é acentuado, mas bem menor do que o dos spas urbanos.
Aposta no bem-estar
A empresária Sandra Tanabe Yu entrou no negócio de spas há apenas três meses. Ela e o casal de amigos Vera e Paulo Pecoits, esse último médico dermatologista, adquiriram o Acqua Day Spa, antes nas mãos de outros donos. A marca tem unidades na 114 Sul e na 107 Norte. Sandra explica que os três sócios enxergaram um nicho promissor na atividade, e esse foi um dos motivos que os levou a investir. ;O mercado de Brasília está longe de estar saturado. Além disso havia o interesse do Paulo, um cirurgião antienvelhecimento, em investir nessa área de bem-estar;, relata a empresária.
De acordo com Sandra Yu, o Acqua Day Spa tem desde clientes que fazem tratamento contínuo, até aqueles que aparecem sem marcar hora, pedindo um momento de relaxamento em meio a um dia estressante. ;Há uma proporção bastante balanceada entre esses dois tipos de cliente;, afirma. A margem de gasto médio mensal da clientela é bastante ampla. Os frequentadores desembolsam de R$ 300 a R$ 5 mil.
A empresa investe em alguns diferenciais. Todas as massagistas são fisioterapeutas. A unidade da Asa Sul abriga uma miní-academia com personal-trainer. Em geral, ela é utilizada por clientes que estão em um programa de emagrecimento de dois meses e meio de duração, que conta com acompanhamento de um nutricionista. A massagem mais barata do lugar sai a R$ 50. A mais cara, a R$ 150. O serviço mais dispendioso é o programa de atendimento, que custa R$ 2,9 mil.
Proprietária do New Look Day Spa, que funciona no Brasília Shopping, Ângela Luiza Xavier está no mercado há mais tempo do que Sandra. O estabelecimento funciona há sete anos com características de spa urbano. Antes, Ângela tinha uma clínica de estética na Asa Norte. ;Todo mundo hoje está cansado, trabalha mais do que suporta. Existe gente que vem nos procurar em um pico de estresse, não aguentando mais uma determinada situação de tensão. Tornou-se até frequente, em ocasiões festivas, as pessoas darem bem-estar de presente umas às outras;, comenta.
No New Look Day Spa, a massagem mais barata custa R$ 45, e a mais cara, R$ 120. O tratamento mais completo, batizado de Dia de Rainha, inclui técnicas relaxantes, estéticas, de saúde e almoço, e sai a R$ 900. ;A pessoa sai daqui flutuando;, garante Ângela Xavier. De acordo com ela, o gasto médio mensal de clientes fiéis é de R$ 1 mil. ;Mas temos um público muito variado. Atendemos desde juízes até aos funcionários aqui do shopping;, diz.(MB)
Palavra de especialista
;Aqui não existe crise;
Sem sombra de dúvida existe potencial para o mercado dos spas urbanos se desenvolver em Brasília. Estamos em uma cidade que tem a renda per capita mais alta do país. Além disso, temos a maior parte das pessoas trabalhando no serviço público, que dá bons ganhos. Outra grande parcela dos habitantes é composta de empresários. Aqui na capital não existe crise. As pessoas que recebem salário do governo, em dia, e consomem produtos e serviços. Por isso, quem explora esses dois segmentos consegue obter excelente margem de luxo. Existe ainda uma parcela da população que é muito exigente e sofisticada. Viajam, visitam várias cidades, e nelas tomam contato com serviços de altíssima qualidade, como os oferecidos por esses spas. Quando não há a possibilidade de viajar, de relaxar na praia ou no campo, eles são uma ótima opção.
Daniel Fernandes é contador e professor do curso de economia da Universidade Católica de Brasília