Ana Maria Campos
postado em 01/08/2010 08:09
Durou pouco a trégua entre o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e o deputado Alberto Fraga (DEM). A união eleitoral dos adversários chegou ao fim. Parte da base rorizista não aceita o secretário de Transportes do governo Arruda. Fraga, por sua vez, decidiu decretar o distanciamento. Em entrevista exclusiva ao Correio, ele anunciou que não vai mais participar de comícios e do corpo a corpo eleitoral ao lado de Roriz. Mantém a candidatura ao Senado, mas em campanha independente. O estopim do racha foram as vaias a Fraga em eventos públicos conduzidas por donos de vans, taxistas e cabos eleitorais de candidatos a deputados distritais ao longo da semana.
Fraga afirma que não concorda com a campanha de Roriz porque o ex-governador estaria propondo a volta da ilegalidade. "Não tenho ido aos comícios porque discordo radicalmente das coisas que o (ex) governador vem prometendo. Por exemplo, a volta das vans, das invasões. Estou ouvindo promessas de loteamento até em áreas de preservação ambiental, a volta dos camelôs no centro de Ceilândia, o fim da padronização dos táxis", afirmou. "Não sou o candidato da bagunça", acrescentou. Nos últimos dias, o rompimento foi sendo construído aos poucos.
Roriz passou a se sentir constrangido com a presença de Fraga em eventos públicos por causa da reação de parte de sua base que não aprova a aliança. Durante a semana, o ex-governador conversou com integrantes do DEM sobre uma possível troca do candidato do partido ao Senado. Uma possibilidade seria substituir Fraga pelo senador Adelmir Santana (DEM-DF), que concorrerá a uma vaga de deputado federal. Fraga, no entanto, tem força nacional, com o apoio do presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), para permanecer no páreo. O ex-secretário de Transportes soube da movimentação e diz acreditar que Roriz pede votos apenas para a outra candidata ao Senado, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB). "Isso é uma traição", afirmou.
A agenda dos dois candidatos previa um encontro no Recanto das Emas às 18h. Roriz prestigiaria o evento de lançamento de um comitê de Fraga. O ex-governador pretendia comparecer, mas voltou atrás quando soube das declarações do democrata ao Correio. Segundo a assessoria de Roriz, ele não foi ao encontro porque o compromisso foi cancelado. Fraga não pretendia participar. Planejou deixar o companheiro de coligação no local esperando. "A população não tem nada a ver com isso. Mas não quero ir", disse ao Correio no início da tarde de ontem.
O coordenador da campanha de Roriz, Paulo Fona, afirma que nunca partiu do ex-governador qualquer incentivo a hostilidades praticadas contra Fraga. "O (ex) governador respeita a indicação do DEM para o Senado. Por isso, estranhamos essa atitude", sustentou Fona. Roriz, por sua vez, não quis comentar. Disse desconhecer as críticas do parlamentar. Incomodado com as vaias nos eventos de campanha, Fraga conta ter investigado quem são os responsáveis pelo coro desfavorável. "Mandei filmar todos eles, identifiquei todos. São motoristas de vans que trabalham nas coordenações de candidatos a deputado distrital", disse. A apuração teria sido conduzida por policiais militares ligados ao deputado federal. "É uma ação orquestrada", avalia. "Não vou abrir mão das minhas convicções para receber aplausos", disse.
Coligação proporcional
As divergências políticas entre Fraga e Roriz são públicas, mas a expectativa era de que ambos seguiriam juntos até as eleições, mesmo em conflito. O candidato ao Senado, no entanto, explicita agora os desentendimentos. Entre rorizistas, há uma avaliação de que foi tudo premeditado e o ex-secretário agiria sob orientação do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido). Fraga nega. "Ele está fora do debate eleitoral", garante.
O candidato ao Senado do DEM tem quase três minutos na propaganda eleitoral para defender seu ponto de vista e apresentar realizações. Esse tempo é utilizado duas vezes ao dia, três vezes por semana. Mas ele garante que não fará campanha para outro candidato ao governo. Mas se cala quando o assunto é pedir votos para Roriz.
O isolamento de Fraga não é o único no DEM. Os candidatos a deputado distrital estão correndo atrás de votos sem uma coligação com outra legenda que dê mais tranquilidade para obtenção do coeficiente eleitoral. A expectativa é de que a bancada do DEM, com três distritais eleitos em 2006, seja reduzida. Havia uma aposta entre os democratas que a aliança com Roriz representaria uma dobradinha com um pequeno partido, como o PRTB. Mas na última hora não funcionou. A legenda que já foi de Arruda e Paulo Octávio está sozinha nas eleições.
Todos iguais
A padronização dos táxis do DF virou lei em outubro do ano passado. O objetivo da medida é facilitar a identificação desse tipo de transporte, já que os táxis na cidade podem ter as cores cinza, branca e prata. De acordo com o governo, essa é também uma medida de segurança, tanto para taxistas como para os usuários. Os motoristas devem colocar o número da permissão na porta do veículo, o que facilita a visualização.
Cronologia
2003 a 2006
» O deputado Alberto Fraga era um dos principais aliados do então deputado federal José Roberto Arruda, que se preparava para se candidatar ao GDF. Na disputa interna do PFL entre Arruda e Paulo Octávio sobre quem seria o representante do partido na corrida ao Executivo, Fraga defendia o primeiro. Com a língua solta, sempre apareceu em público como porta-voz do amigo que se elegeu no último pleito.
2007 a novembro de 2009
» No governo Arruda, Fraga assumiu um cargo estratégico, a secretaria de Transportes. Coronel da reserva da Polícia Militar, até então ele não tinha qualquer experiência na área de infraestrutura. Mas foi escolhido por dois motivos: a lealdade e o pulso. Na sua gestão, Arruda trombou com donos de vans - que tiveram de sair de circulação - empresários de ônibus e taxistas, quando decidiu padronizar os carros com adesivos. Ganhou notoriedade como gestor do Programa Brasília Integrada, que prevê obras do sistema viário em todo o DF, com um orçamento milionário financiado com organismos internacionais. Trabalhava, assim, para viabilizar a sua candidatura ao Senado.
Novembro de 2009 a junho de 2010
» Excluído das denúncias da Operação Caixa de Pandora feitas por Durval Barbosa, de quem é amigo, Fraga tornou-se um dos únicos aliados de Arruda a mostrar a cara para defendê-lo publicamente. Quando o então governador esteve na prisão, por dois meses, Fraga lhe fazia visitas regulares na Polícia Federal e deu entrevistas reclamando das condições oferecidas a ele. A relação se mantém até hoje. Os dois se falam com frequência. Nesse período, Fraga fazia ataques públicos a Joaquim Roriz (PSC) e juntou munição contra o ex-governador do DF.
Junho de 2010
» Com a confusão provocada pela crise da Pandora, que abateu politicamente Arruda e Paulo Octávio, Alberto Fraga começou a trabalhar para se candidatar ao GDF. Ele, no entanto, não conseguiu apoio de outros partidos para fechar uma coligação que beneficiasse os candidatos do DEM nas disputas proporcionais. A direção regional do DEM acabou seguindo o mesmo caminho do PSDB e aceitou uma aliança com o PSC de Joaquim Roriz. Partiu do grupo rorizista a escolha de Fraga, em detrimento do senador Adelmir Santana, como candidato da coligação para o Senado. A avaliação é de que seria melhor tê-lo como aliado do que como adversário na campanha.
Julho de 2010
» Fraga começa a fazer campanha ao lado de Roriz, mas um grupo de apoiadores da coligação rorizista, formada por donos de vans e taxistas, passou a hostilizá-lo em eventos, com vaias.