Cidades

Amparados no sobrenome, filhos e sobrinhos de antigos políticos do DF ensaiam os primeiros passos

Já em 2014, eles pretendem concorrer a uma vaga de deputado distrital

Juliana Boechat
postado em 01/08/2010 08:21
Eleitor, não estranhe se, nas eleições de 2014, você se deparar com políticos de traços e sobrenomes familiares e com discursos de continuidade. Vem aí uma leva de jovens com bagagem teórica para disputar os próximos cargos públicos do Distrito Federal. Essas pessoas estão envolvidas com os bastidores do poder desde os primeiros anos de vida, seja na conversa do jantar, na campanha eleitoral de algum familiar ou na hora de escolher uma carreira profissional. São filhos, netos e sobrinhos de políticos que hoje se preparam para lutar por uma cadeira no alto escalão do Poder Legislativo. Dedé, Renato, Alisson e Flávio (da esquerda para a direita): o DNA político está no sobrenome de cada umCom uma média de 27 anos, todos são filiados aos partidos e envolveram-se com a juventude política voltada ao jovem conectado à internet. Mas, para o próximo pleito, prometem continuar - e modernizar - os projetos criados pelas gerações anteriores. Ao longo da última semana, o Correio conversou com quatro herdeiros políticos de conhecidas figuras do DF. Nenhum concorre a um cargo este ano, mas dedicarão os três meses de campanha para eleger os familiares. Alisson Domingos, 27 anos, neto do candidato a reeleição na Câmara Legislativa Benedito Domingos (PP), pretende assumir a posição do avô daqui a quatro anos. "Ele quer se dedicar à igreja", disse. André Roriz, mais conhecido como Dedé, sobrinho do candidato a governador Joaquim Roriz (PSC), chegou a registrar a candidatura nestas eleições. Mas, com o fantasma da impugnação, o tio pediu para ele abandonar a disputa. Flávio dos Santos, filho do candidato a deputado distrital Chico Vigilante (PT), preferiu ficar nos bastidores "para amadurecer". O herdeiro do candidato a deputado federal Izalci Lucas, Renato Ferreira, 26 anos, ainda não sabe se será político no futuro. Mas poderá aceitar a proposta para dar continuidade ao trabalho do pai. Não tinha como Dedé Roriz ficar longe da política. Desde pequeno, está acostumado a ouvir o assunto nas reuniões de família. Ainda adolescente, era o representante de turma e presidente dos departamentos estudantis da faculdade. Aos 18 anos, assumiu o primeiro emprego político como assessor de um senador. Hoje, aos 33, almeja o primeiro cargo público. "Lembro-me da primeira campanha da qual participei, em 1988, de Gilmar Roriz, para vereador de Luziânia", contou. A família cresceu no município vizinho do Distrito Federal. Com o sobrenome do ex-governador do DF por quatro vezes, Dedé conta com certa resistência de eleitores das classes sociais A e B. Mas já começa a ganhar apoio de pessoas que moram nas regiões carentes ao redor de Brasília, redutos do tio Joaquim. "Esse é o perfil do nosso eleitor. E eu vou apostar neles no futuro. Em alguns lugares, já sou conhecido. As pessoas sabem meu nome e querem tirar foto. Hoje, estou cultivando o futuro", disse. Dois lados Alisson Domingos sentiu de perto o lado bom e o ruim de ter parentesco político. O avô foi um dos suspeitos de envolvimento no escândalo de corrupção deflagrado pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), em novembro do ano passado. "É uma faca de dois gumes. Às vezes você leva a culpa pelo que não fez e tem que provar a inocência. Mas defendo meu avô na rua com orgulho", afirmou. Mas ele acredita que a proximidade com Benedito também lhe rendeu respeito e conhecimento de aliados políticos. O jovem ingressou na política aos 18 anos, sempre no PP. Hoje, é vice-presidente do partido em âmbito nacional. "Não quis concorrer a nada nessas eleições para não prejudicar o Benedito. Quero seguir os passos dele", explicou. Segundo Alisson, a ideia é repetir os acertos e corrigir erros cometidos pelo avô. "Ele faz questão de dizer que sou o sucessor dele. E, trabalhando com ele agora, posso conquistar votos para o meu futuro." Filho do petista Chico Vigilante, Flávio, 27 anos, já ganhou até apelido político: Flavinho PT, partido pelo qual é filiado. Em 2014, quer lutar por uma vaga na Câmara Legislativa. E, para isso, tentará buscar apoio das pessoas que hoje são aliadas do pai. "Não vou deixar acabar esse legado do meu pai. Ele tem o projeto de combater a corrupção. E isso nunca sai de moda", defendeu. Nascido e criado em meio político, Flávio e outros dois irmãos entraram de cabeça no assunto. "Quando você admira alguém, você tenta ser igual a essa pessoa." Apaixonado pelo que faz, Flávio acredita só haver benefícios em ter a política gravada no DNA. "A vantagem de ter um pai conhecido é ele me apresentar como candidato e ter me ensinado o que é certo e o que é errado. Não vejo nenhuma desvantagem", explicou. Quando Izalci Lucas entrou na política, em 1998, Renato tinha 15 anos. "Eu não tinha uma boa imagem da política. Cursei jornalismo e tenho outras especializações. Mas acabei me envolvendo porque sempre gostei dos bastidores", contou. Quando passou a acompanhar o pai, ganhou gosto pela política. "Os projetos dele (pai) viraram os meus também. Gosto da área social. De ir para a rua, ouvir histórias das pessoas e ajudar", explicou. Apesar de ser filiado ao PR e ocupar a cadeira de presidente de honra da juventude do partido, Renato não almeja cargos políticos. "Pretendo continuar nas empresas do meu pai, como faço hoje. Mas, se eu perceber que a minha contribuição pode ajudar, quem sabe", brincou. Ele está acompanhando de perto a campanha do pai neste ano. Cantou o jingle de Izalci e o substitui nas reuniões.

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