Cidades

UnB pede mais 12 meses para regularizar situação de funcionários precarizados

UnB pede ao Ministério Público do Trabalho que seja estendido o prazo para tornar legal a situação dos funcionários que continuam contratados em desacordo com a lei

postado em 06/08/2010 08:31
A Universidade de Brasília (UnB) pediu mais 12 meses para regularizar a situação de funcionários da instituição que trabalham com contratos precarizados(1). O Ministério Público do Trabalho e a universidade firmaram um termo de conciliação judicial (TCJ) para resolver a situação trabalhista de cerca de 2,2 mil servidores, mas o prazo estipulado expirou em 31 de julho e 1.168 trabalhadores ainda atuam sem ter a carteria assinada e, em consequência, sem os direitos trabalhistas ; pagamento de 13; salário, de férias e recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Se forem demitidos, eles também não terão acesso às garantias previstas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Essa modalidade de vinculação, o contrato de pessoa física, está prevista em lei e regula os trabalhos ocasionais e descontínuos, mas tem sido usada de forma irregular, há cerca de duas décadas, para empregar pessoas que na verdade mantém vínculo contínuo com a instituição, como secretárias, técnicos de laboratório, funcionários das secretarias de cursos e até mesmo servidores do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O arranjo jurídico foi descoberto durante o escândalo da gestão do ex-reitor Timothy Mullholland. Na ocasião, o Ministério Público constatou as irregularidades nos contratos e fechou o acordo temporário com a universidade. ;Não queremos conviver com essa situação. Herdamos o problema e queremos resolvê-lo;, afirma a secretária de Recursos Humanos da UnB, Gilca Starling.

Segundo ela, as dificuldades são muitas. ;Não posso terceirizar cargos previstos no plano de carreira da UnB. Para esses casos, é preciso concurso;, explica. Antes da publicação do Decreto n; 7.232/2010, as universidade contavam com um banco de cargos vagos, mas, com a nova legislação, esses postos retornaram ao quadro do Ministério da Educação. ;Já pedimos à Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento que as vagas sejam devolvidas à instituição;, garante Starling. Se os cargos realmente forem reintegrados, ainda assim será preciso resolver a contratação de 593 pessoas. Dessas, 411 poderão ser terceirizadas, já que desempenham funções que não constam no plano. Para o restante, a única saída é o concurso público.

Outro motivo que impõe o prolongamento do prazo é a greve(2) dos servidores da instituição, que paralisa diversos setores da universidade. ;Muita coisa está estagnada. Não consigo sequer montar um processo de terceirização ou requerer um concurso, procedimentos que levam, no mínimo, cerca de seis meses para se concretizar;, detalha.

Starling esteve no Ministério Público do Trabalho na última segunda-feira e conversou com a procuradora Ludmila Reis para tratar da extensão do prazo. Segundo a representante da universidade, a procuradora percebeu que existe um esforço concreto para resolver a questão e deixou clara a possibilidade de revisão do período determinado, desde que seja apresentado um cronograma de execução das próximas ações de regularização dos contratos. ;Estamos fechando esse material e pretendemos entregá-lo ao Ministério Público até a próxima segunda-feira;, garante a secretária de Recursos Humanos da UnB.

De acordo com o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Cosmo Balbino, o processo de legalização dos funcionários já prejudicou antigos servidores. ;Muitos deram o sangue pela instituição, mas na hora da legalização foram demitidos para dar lugar a parentes e apadrinhados. Somente no Hospital Universitário, de 40 a 50 funcionários foram demitidos nessa fase. A legalização tem um preço;, afirma. Ele espera que o problema de efetivo de vagas da UnB seja resolvido por meio da realização de um concurso para que a força de trabalho seja reposta com qualidade.

1 - Em todo o Brasil
Do total de 1.168 funcionários precarizados, 459 atuam nas unidades acadêmicas, 138 no Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe/UnB). Mas o maior contingente, 571 funcionários, está no Hospital Universitário. A situação é frequente nos demais hospitais vinculados a universidade do país. De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), seria preciso contratar cerca de 7,5 mil trabalhadores para solucionar o déficit de mão de obra.

2 - Cinco meses
A greve dos servidores técnicos da UnB completará cinco meses em 16 de agosto. Eles reivindicam a manutenção da Unidade de Referência de Preços (URP), porcentagem incluída nos salários dos funcionários públicos, que equivale a 26,5% do pagamento. Por dois meses, os professores também paralisaram as atividades pelo mesmo motivo, mas o movimento foi suspenso assim que foi garantida a continuidade do pagamento do benefício. As áreas mais prejudicadas pela suspensão das atividades dos funcionários são a biblioteca, o almoxarifado, o serviço de apoio técnico e as secretarias acadêmicas. A paralisação é a mais longa ocorrida na UnB.,

RU reaberto
O Restaurante Universitário (RU) foi reaberto ontem à noite para servir o jantar aos estudantes.
A reabertura foi autorizada depois da emissão de um laudo preliminar que atesta que a caldeira do estabelecimento tem condições de operar com pequenos ajustes. Na última quarta-feira, o vazamento da tubulação que resultou no desligamento da caldeira foi consertado. A fiação do espaço também será trocada.

"Não queremos conviver com essa situação. Herdamos o problema e queremos resolvê-lo"
Gilca Starling, secretária de Recursos Humanos da UnB

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