postado em 07/08/2010 07:00
Um grupo de 90 pessoas, entre professores, artistas e antropólogos, se reuniu ontem para aprender como pode ajudar a combater agressões às obras tombadas da capital dos sonhos do ex-presidente Juscelino Kubitschek, do urbanista Lucio Costa e do arquiteto Oscar Niemeyer. Durante todo o dia, eles participaram de seminários e fizeram um passeio pelas belezas históricas de Brasília, entre elas a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na 307/308 Sul. A visita guiada passou por toda a Unidade de Vizinhança, composta pelas quadras 107, 108, 307 e 308 Sul. Tombada em 27 de abril do ano passado por meio do Decreto n; 30.303, a área reúne todos os aspectos habitacionais, culturais, educacionais, paisagísticos e de lazer imaginados à época da construção da cidade.
O objetivo da visita é introduzir a consciência de educação e preservação dos monumentos nos alunos para que eles possam repassá-los. ;É um trabalho que ajuda a comunidade a perceber o valor histórico da quadra e dos demais patrimônios para Brasília;, acredita a prefeita da 308 sul, Solange Madeira. O passeio começou pela Igrejinha(1) e, em seguida, o grupo conheceu de perto o comércio local, o posto de saúde, a Escola Parque, o espelho d;água, a biblioteca setorial, o Clube da Vizinhança e os espaços culturais. Toda a visita foi feita com a ajuda de mediadores treinados. ;É um território onde percebemos de maneira mais evidente a concepção urbanística de Lucio Costa. A visita traz uma memória calorosa de antigamente e remete ao prazer de se viver em um espaço como esse;, acredita a sócia-diretora da Tríade Patrimônio, Turismo e Educação, Lana Guimarães.
Desinformação
Para Lana, agressões ao patrimônio (como pichações ou outro tipo de depredação) ocorrem devido à falta de políticas públicas voltadas para a disseminação do conhecimento. ;A maioria das pessoas ainda não entende o que significa um bem tombado. A agressão está aliada à falta de um significado para aquela obra;, acredita. O antropólogo Marcus Vinícius Garcia, 34 anos, estava entre o grupo de alunos. Atento, ele percorreu toda a Unidade de Vizinhança e destacou a importância do desenvolvimento de uma consciência de proteção por parte de toda a população, no que se refere às áreas tombadas: ;Não é uma simples visita. É uma mobilização importante para inserir a questão da relação de patrimônio e arte na formação de todos nós, especialmente dos jovens. A preservação do patrimônio tem que ser uma ação de cidadania e política pública;.
Segundo Sônia Rampim Florêncio, técnica da Coordenação de Educação Patrimonial do Departamento de Articulação e Fomento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DAF/Iphan), a ação visa ainda garantir a articulação entre instituições e promover formas de valorização do patrimônio:;O maior desafio é o envolvimento da comunidade no processo de sensibilização. Quanto mais ações dessas houver, mas pessoas sensibilizadas nós teremos. É hipocrisia dizer que apenas isso resolve todo o problema, mas é um passo muito grande;.
O passeio começou por volta das 15h e terminou às 18h. Os alunos foram divididos em três grupos, que percorreram pontos bucólicos de toda a Unidade de Vizinhança, entre eles o Jardim de Burle Marx, no Bloco F da 308 Sul. A quadra-modelo tem, entre suas atrações, o espelho d;água, conhecido como ;laguinho;, que é um dos pontos mais frequentados pelos turistas.
Destruição de um ícone
Um incêndio na noite de 9 de janeiro do ano passado danificou parte da parede da Igreja Nossa Senhora de Fátima, a Igrejinha, o primeiro templo de alvenaria erguido na capital federal. Uma área de aproximadamente 6 metros quadrados coberta com azulejos de Athos Bulcão foi destruída. Segundo moradores da quadra, o fogo começou por volta das 20h30, provocado acidentalmente por moradores de rua que vivem nos fundos na Igrejinha. Os bombeiros não foram até lá e a ocorrência só foi registrada no dia seguinte. Roupas queimadas, papelão e alimentos chamuscados foram encontrados espalhados pelo local, inclusive dentro da caixa do ar-condicionado do templo religioso, usada pelos pedintes como depósito.
Para saber mais
Valor reconhecido
A palavra tombamento tem origem muito antiga e se refere à Torre do Tombo, em Portugal, onde estão guardados livros e documentos antigos. O tombamento é o reconhecimento oficial do valor histórico, artístico, paisagístico, ecológico, turístico, cultural ou científico de um bem, que pode ser um edifício, uma obra de arte, um núcleo urbano, uma paisagem, um sítio arqueológico, um ecossistema, uma tecnologia tradicional ou uma manifestação cultural.
A Unidade de Vizinhança foi tombada em 27 de abril do ano passado, por meio do Decreto n; 30.303, assinado pelo então governador José Roberto Arruda. A legislação prevê a proteção do GDF, mediante tombamento do conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico da Unidade de Vizinhança, formado pelas superquadras Sul 107, 108, 307 e 308, com duas edificações destinadas a habitação, educação, cultura, lazer, culto religioso e comércio.