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Eduardo Brandão aposta na popularidade da presidenciável do PV para conquistar eleitores

postado em 08/08/2010 08:20
A corrida ao Palácio do Buriti conta com oito candidatos. Os dois mais bem colocados nas pesquisas travam uma disputa histórica. Joaquim Roriz (PSC) foi governador por quatro vezes. O Partido dos Trabalhadores ocupou o cargo por quatro anos, mas sempre esteve vivo nas disputas eleitorais. Neste ano, outros concorrentes tentam quebrar a hegemonia azul versus vermelho.

Eduardo Brandão, do Partido Verde, já esteve com o PT e integrou o governo de José Roberto Arruda por um ano, mas resolveu não fazer alianças para as próximas eleições. ;Após o sofrimento político do último ano, entendemos que era hora de nos posicionarmos e colocarmos uma candidatura alternativa para o Distrito Federal;, diz. O trunfo da legenda é a disputa de Marina Silva à Presidência da República, que garante mais visibilidade aos candidatos do PV.

Durante a campanha, Brandão promete ser propositivo, mas sem deixar de apontar as falhas dos adversários. Para ele, Roriz traz uma instabilidade jurídica para o DF ; uma vez que tem a candidatura sub judice. ;Se por acaso ele obtiver sucesso, quem garante que ele vai ser diplomado, que vai assumir?;, pondera. Já Agnelo tem problemas internos na coligação para resolver. ;Eles vão ter muita dificuldade nesse processo. Tanto internamente, como no relacionamento com o PMDB.;

Por que o PV resolveu lançar o senhor como candidato a governador do Distrito Federal?
Eu nasci em 14 de fevereiro de 1960 e com um mês de idade já estava em Brasília. Vi essa cidade crescer de uma forma interessante nos primeiros anos e depois de uma forma muito cruel. Estou no Partido Verde há 20 anos, fui presidente em Brasília por 10 e atual secretário-nacional. Com a vinda da Marina para o PV, o partido mudou de patamar. Passamos a ter outro tipo de visibilidade. Temos hoje uma candidata a presidente da República que destruiu a polarização nacional entre PT e PSDB e, em Brasília, tem uma intenção de voto de 20%. Após o sofrimento político do último ano, entendemos que era hora de nos posicionarmos e colocarmos uma candidatura alternativa para o Distrito Federal. Existe uma hegemonia do Roriz, em 18 anos de governo, e nunca tivemos opções. Não lançamos uma candidatura para marcar posição, mas para disputar.

Para chegar ao segundo turno, será preciso tirar Roriz ou Agnelo. Quem é o alvo do PV?
Não existe um alvo específico. De um lado, tem a hegemonia do Roriz. Ele sempre escolheu ganhar do PT. Agora, a candidatura do Roriz só serve para aumentar o sofrimento do brasiliense, porque vamos continuar na mesma incerteza jurídica que estamos vivendo há quase um ano. Se, por acaso, ele obtiver sucesso na candidatura, quem garante que ele vai ser diplomado, que vai assumir? E o povo de Brasília fica como? Por outro lado, o PT, historicamente, não consegue a reeleição. Em todos os lugares, guardadas as exceções, o PT não consegue outro mandato por problemas de gestão.

Se forem confirmadas as expectativas de dar os dois no segundo turno, quem o PV apoiaria?
Não espero que isso aconteça. Hoje, as pesquisas medem o nível de conhecimento. Roriz já foi governador. Agnelo foi deputado distrital, federal, ministro (do Esporte). Na medida em que a gente conseguir mostrar a candidatura do Partido Verde, as nossas propostas e a ligação forte com o projeto nacional, esse quadro vai mudar rapidamente. A campanha começa realmente agora, quando as pessoas começam a parar para pensar sobre isso. Elas estão voltadas para as eleições para presidente e ainda não se voltaram para as disputas regionais.

Mas o senhor tem potencial para roubar o eleitor de quem?
Podemos tirar votos dos dois lados. Até por conta de alguns processos, como as confusões que existem nas outras campanhas. O Fraga (Alberto Fraga, candidato ao Senado pelo DEM) decidiu fazer campanha independente, sem o Roriz. Do lado do PT, existe uma dificuldade muito grande dentro da aliança. Eles fizeram uma vitamina de muitas frutas. Essas duas candidaturas fizeram dois copos de vitamina pensando exclusivamente no tempo de televisão. Agora, não podemos esquecer que nossa história sempre foi mais à esquerda. Nunca fizemos parte do grupo do Roriz.

Em 2006, vocês foram vices do PT, mas recentemente fizeram parte do governo Arruda;
Nós fomos para o governo em dezembro de 2008. Também foi o PDT, o PPS já estava desde o começo, o PT sempre vai de alguma forma, o PSB. Naquele momento, o governo tinha 80% de aprovação. Não somos antigoverno. Não temos um projeto para não governar. À medida que as nossas propostas são valorizadas, a gente quer contribuir. Fizemos projetos importantes no governo. A primeira bandeira foi a questão do aterro sanitário. Brasília tem um lixão a céu aberto a poucos quilômetros do Congresso Nacional. Isso não é possível. Desenvolvemos projetos de vivência, como os parques perimetrais. O conceito é fazer uma área no entorno do parque como uma área de transição, delimitando o parque não por cerca, mas com uma ciclovia, um calçadão para atividades de lazer e esporte. Esses projetos foram muito interessantes. Mas fomos o primeiro partido a sair do governo quando estourou o problema (da Caixa de Pandora).

O PV não tem deputado em Brasília para dar sustentação a um possível governo. Como conseguir governar sem repetir a prática denunciada pela Caixa de Pandora?
A gente não vai ter um número pequeno na Câmara. A experiência nos mostra que com Marina vamos ser muito mais fortes. Em São Paulo, tivemos 500 mil votos de legenda. Mesmo assim, não vamos ter maioria na Casa. Mas qualquer que seja o governador, ele terá que mudar essa relação com a Câmara. A vocação de Brasília é sair das páginas policiais e ir para as de política. Isso vai ser reformulado de qualquer maneira, porque não existe mais essa possibilidade de relações promíscuas. Vamos governar com os deputados que vamos eleger e com o apoio de muitos partidos, como o PDT e o PSB, com quem sempre trabalhamos juntos. A nossa base de apoio vai ser em cima de propostas.

O senhor acredita que vai ter uma resposta do eleitor para fazer uma faxina na Câmara?
De uma grande dor surgem as mudanças. A gente vai ter uma renovação muito maior do que o normal. Esse é o primeiro passo. Depois será preciso mobilizar a população para fazer a reforma política. O Partido Verde está mobilizado para isso.

O líder das pesquisas já governou Brasília por vários anos. Você acha que o eleitor vai comprar a ideia de renovação?
Se fosse para me pautar por pesquisa, não estaria enfrentando esse projeto. A gente tem muita esperança em Brasília, que dá exemplos fantásticos. O Distrito Federal é a única unidade da Federação com faixa de pedestres. No nosso plano de governo, por exemplo, está a implantação da bicicleta pública para pequenos trajetos, como da Rodoviária do Plano Piloto à Esplanada dos Ministérios. A pessoa chega de metrô, se identifica no bicicletário, pega uma bicicleta, vai ao Ministério e volta. Isso vai dar certo. Vamos mostrar que temos capacidade para isso, porque Brasília é uma cidade politizada.

Em um minuto e três segundos de televisão no horário eleitoral, o que dá para mostrar?
Dá para mostrar nosso trabalho. Os outros dois candidatos têm tempo para falar muita besteira e errar bastante. Vamos trabalhar propositivamente. Vamos apontar os erros, como o grande erro ambiental de Brasília, o desmando e a grilagem de terras. Hoje, 25% da população moram em condomínios. Quantos estão regularizados? O que fizeram com a Colônia Agrícola Vicente Pires, com o córrego, com a área de proteção e com as matas ciliares é um horror. Fica em frente à residência oficial do governador. Quem estava lá não viu? É o desmando. Também tem a parte legalizada, como a área do Catetinho. Não deve ter adensamento urbano lá. É um erro muito grande do Estado.

O que o senhor acha do PDOT (Plano Diretor de Ordenamento Territorial)?
Nós precisávamos do PDOT há muito tempo. O primeiro documento foi técnico e poderia ter tido alguns pontos de correção. Mas quando foi para a Câmara, ele virou um documento político. Agora precisa ser reestudado e revisado. Tem uma série de pequenas cirurgias encomendadas por interesses pessoais. Brasília tem o metro quadrado mais valorizado do Brasil. Aí se pega uma residência com gabarito de oito metros de altura e transforma em área para posto de gasolina ou para prédio de 20 andares. Isso não pode existir. O processo de adensamento é necessário. Mas você tem de saber escolher o que fazer.

A previsão de gastos da sua campanha é de R$ 20 milhões. Por que é tão cara e de onde vem o financiamento?
A lei eleitoral é rígida. Se o candidato passar R$ 1 da previsão, é impugnado. Como desde o início um estudo aponta que vamos estar no segundo turno, o partido entendeu melhor colocar uma margem de folga. Hoje, a gente trabalha com doações de amigos. Não temos pacto com nenhum desses projetos de estruturas organizadas nos serviços prestados ao governo. Nossa possibilidade de arrecadação é pequena. A previsão real do primeiro turno é de 15% do que a gente calculou.

Muitos candidatos estão reclamando da falta de dinheiro. No PV a situação é semelhante?
A gente já esperava não aparecer dinheiro. A diferença que sinto nas campanhas está na aceitação no corpo a corpo. A experiência da outra vez (em 2006) foi muito triste. Na primeira caminhada no Setor Comercial Sul, gritaram: ;Vai cuecão de dólar;. Isso porque a gente estava no auge do mensalão do PT. Era ruim abordar as pessoas nas ruas e falar sobre candidatura.

Vocês estiveram em duas situações delicadas: com o PT logo após o mensalão em nível nacional e com o DEM, em Brasília, na época das denúncias de corrupção.
A opção de estar na última eleição com o PT foi resultado de uma história de atuação em Brasília. Sempre estivemos no bloco de oposição ao governo Roriz. Além disso, a contribuição do PV ao governo (Arruda) foi muito boa para a sociedade.

Sobre a Lei da Ficha Limpa: o senhor foi condenado por falência fraudulenta da empresa da qual era sócio. Quase foi enquadrado na lei, mas, como a pena prescreveu, foi liberado. O que acha disso?
Primeiro, sou absolutamente ficha limpa. Todos os meus documentos mostram o nada consta. A Lei da Ficha Limpa é para pegar o político corrupto. O meu caso foi de uma empresa familiar, ocorrido há 20 anos. A empresa foi atingida pelo Plano Collor. A Ficha Limpa não é para isso. Como toda lei nova, ela carece de regulamentações e discussões.

Um administrador que participou da falência do próprio negócio tem condições de ser governador?
Eu era o responsável técnico da empresa. Nunca fui o gestor. Se hoje você pegar o currículo de obras das quais fui responsável pela área técnica, vai ver que tenho centenas de milhares de metros quadrados construídos, tudo funcionando corretamente. Agora, naquela época, com 30 anos, eu teria alguma dificuldade para administrar. Não porque o jovem não tenha capacidade, mas porque é necessário passar por percalços para aprender sobre gestão. Hoje, estou preparado.

Quem o senhor prefere enfrentar no segundo turno?
Estou mais acostumado a enfrentar o Roriz. A eleição dele seria um atraso e ocasionaria uma instabilidade jurídica. O DF tem duas grandes vertentes orçamentárias: a arrecadação fiscal e o fundo constitucional. Com a Copa de 2014, temos de preparar a cidade para um crescimento sustentável. Mas os empréstimos estão parados. Enquanto houver essa instabilidade, não vai ser possível fechar os contratos e fazer a cidade crescer. Uma coisa é trabalhar em cima do populismo, outra é sentar com credibilidade perante os órgãos internacionais.

E sobre uma eventual eleição do Agnelo?
A grande dificuldade vai ser no entendimento entre eles. A experiência com o Cristovam Buarque foi essa. Tudo o que tinha de resolver eles montavam um grupo de trabalho. O Executivo não pode ser um grupo de trabalho, tem de ter linhas. Temos um projeto para blindar o GDF. Vamos acabar com essa farra de cargos comissionados. Existem 30 mil cargos, a maioria ocupada não por técnicos, mas por cabos eleitorais. Eles vão ter muita dificuldade nesse processo. Tanto internamente quanto no relacionamento com o PMDB.


"Existe uma hegemonia do Roriz, em 18 anos de governo, e nunca tivemos opções. Não lançamos uma candidatura para marcar posição, mas para disputar"


"A gente não vai ter um número pequeno na Câmara. A experiência nos mostra que com Marina vamos ser muito mais fortes. Em São Paulo, tivemos 500 mil votos
de legenda"


"A campanha começa realmente agora, quando as pessoas começam a parar para pensar sobre isso. Elas estão voltadas para as eleições para presidente e ainda não se voltaram para as disputas regionais"

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