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Estudante morto há 10 anos em porta de boate está vivo na memória da família

Uma década após a morte do estudante de publicidade João Cláudio Leal, 20 anos, espancado até a morte na saída de uma boate na Asa Sul, o Correio reencontrou a família e conta como os pais, o irmão e a irmã vivem depois da maior tragédia de suas vidas. Amanhã, uma missa especial irá homenagear o rapaz que fez da música poesia e, com ela, deu sentido a sua curta existência

postado em 08/08/2010 08:34
Uma década após a morte do estudante de publicidade João Cláudio Leal, 20 anos, espancado até a morte na saída de uma boate na Asa Sul, o Correio reencontrou a família e conta como os pais, o irmão e a irmã vivem depois da maior tragédia de suas vidas. Amanhã, uma missa especial irá homenagear o rapaz que fez da música poesia e, com ela, deu sentido a sua curta existênciaJoão Cláudio Leal está vivo. Nas fotos espalhadas pelos corredores da casa de cinco quartos que não conheceu. Num canto do quarto, nos comandos do teclado, que embalavam O fantasma da ópera, o musical preferido. Nas centenas de mensagens escritas pelos amigos. Nas lágrimas da irmã caçula, que se casou e queria que ele estivesse ao lado dela na igreja no dia da cerimônia. No soluço do irmão mais velho, que se casará no mês que vem e tem certeza de que ele não estará na despedida de solteiro. Nas fotos colocadas nos dois criados-mudos do quarto do pai e da mãe.

João Cláudio vive no choro abafado do pai, que, sozinho, num momento muito particular e frequente, leva flores brancas para o filho no Campo da Esperança. É como um ritual. Faz isso há 10 anos. No pranto da mãe, que ainda escuta, em algum canto da casa que ele não conheceu, seu menino tocar a música preferida. João Cláudio vive porque, na verdade, nunca morreu. Não se mata um rapaz de 20 anos, que ia se formar em publicidade (foi o primeiro colocado no vestibular de comunicação da UnB), que tocava teclado, que fazia parte da Orquestra de Órgãos e Teclados de Brasília, que gostava de cinema e babava pela atriz Angelina Jolie, que ia pular na Micarecandanga, que ensaiava o musical Evita, que tinha todos os sonhos e toda a vida para viver...

Definitivamente, João Cláudio não morreu, mesmo 10 anos depois da sua morte. Na madrugada de 9 de agosto de 2000, uma terça-feira seca e fria de Brasília, ele perguntou à irmã caçula ; e confidente ; se a roupa que usava estava legal. A moça, então com 18 anos, disse que ele ;tava um gato;. Ele gostou do que ouviu. E saiu, de calça verde, camisa escura em gola V e sapato preto. Vaidoso, ainda se olhou no espelho para ver se estava tudo bem.

Ia comemorar o aniversário de amigos na boate Music Hall, na 411 Sul. Ao sair da festa, foi espancado por dois rapazes. João Cláudio levou socos e pontapés. Muitos, incontáveis. Não se defendeu. Nunca brigara na rua. Enquanto o irmão mais velho lutava judô e taekwondo, ele tocava piano. Morreu ali mesmo. Chegou ao Hospital Santa Lúcia sem que os médicos nada mais pudessem fazer. Motivo? Ele teria cantado uma menina de vestido vermelho que saía sozinha da boate ; ponto de azaração e chope de graça em determinados dias e horas.

A menina não teria dado bola. João Cláudio não insistiu. Sem sucesso na paquera, caminhava para o estacionamento, onde entraria no carro de um amigo de faculdade, com quem havia ido à boate naquela noite. Ele não percebeu que os dois assassinos caminhavam em sua direção. Antes de começar a matar, um deles ainda lhe avisou: ;Ela tem dono;. E matou, matou e matou. Matou sonhos, projetos. Matou a música dele. Matou o futuro. Matou o sorriso de um menino de 20 anos. Matou a família dele inteira.

Mas, ainda assim, mesmo morto, João Cláudio insiste em viver. No fim da manhã da última quarta-feira, a família dele recebeu o Correio para uma entrevista exclusiva, 10 anos depois da pior madrugada de suas vidas. Há seis anos, mudaram-se do apartamento da 108 Sul para uma casa ampla na QI 1 do Lago Sul. A vida insistiu em andar.

Andrea, a irmã, completou 28 anos. Vai se formar em jornalismo. Casada há dois meses, não mora mais com os pais. Daniel, 32, o irmão, virou engenheiro mecânico. Veste terno e gravata. Mudará, depois que se casar, para a própria casa, no Sudoeste. Silvana, 53, a mãe, voltou à faculdade depois de vários anos, e se formou. Era o pedido de João Cláudio. Aposentou-se da CEB (Companhia Energética de Brasília).

Da esquerda à direita: Mariana, a cunhada, Daniel, o irmão mais velho, Silvana, a mãe, André, o pai, Andrea, a irmã caçula, e o marido, Leonardo: o teclado era a paixão de João Cláudio. Ecos da música pela casaAndré, 54 anos, o pai, ainda trabalha no Banco do Brasil. Faz cursos de imersão (no dia da entrevista, ele participava de um deles, incomunicável, em São Paulo). O Correio só falou com André na sexta-feira à noite, quando ele voltou a Brasília.

Silvana e André engajaram-se em campanhas pelas paz. Consolaram outros pais, com a mesma dor. E vivenciaram todas as fases do luto. Ela chorou horrores. Sucumbiu. Veio a depressão. O início da terapia. Nesse mesmo período, um câncer devastador matou o jovem terapeuta que ouvia sua dor e dizia para aquela mulher chorar tudo que quisesse chorar. Silvana chorou de vez. Chorou até imaginar que as lágrimas haviam secado. Nunca secarão. ;Você precisa viver o luto em todas as suas etapas;, ela diz.

Dor sem tamanho

Ao chegar à casa da família Leal, da sala principal, avista-se, no escritório ao lado, um banner gigante. É João Cláudio, numa foto enorme. Ele sorri. A imagem que virou símbolo da campanha e da dor de todos eles. Embaixo da foto, duas palavras: admiração e respeito. Para a família, João Cláudio nunca foi João Cláudio. Nasceu, morreu e ainda vive Dandão ; apelido de infância que se perpetuou. É Dandão que ri nas fotos espalhadas pela casa. É como se ele respirasse na casa onde nunca viveu. E como Dandão quis morar numa casa! ;Dois anos antes de ele morrer, a gente procurava uma casa para comprar. Ele viu muitas comigo. Sempre que entrávamos em uma, ele dizia: ;Mãe, aqui vai ficar o piano...; E imaginava como tudo ia ser;, conta Silvana.

Dandão nasceu na 414 Sul. Depois, a família se mudou para a 405 Sul. Mais tarde, para a 114. E finalmente para a 108 Sul. Ele não teve tempo de ver o piano numa casa com jardim e área verde. Mas, ainda assim, naquela casa onde nunca esteve, João Cláudio entrou. Ocupou todos os espaços. E se espalhou por cantos e esquinas muitos especiais. Ele sorri, em diferentes idades. Até na última viagem de férias, para Fortaleza e Natal, semanas antes da morte. ;Ver essas fotos acalma o meu coração;, admite Silvana, ao lado dos dois filhos, no sofá da sala.

No dia em que João Cláudio morreu, Silvana morreu junto. Prostrou-se no sofá do apartamento da 108 Sul e não conseguia mais se levantar. Nem comer. Só lembra ter chorado dias sem fim. Pensava que aquilo era pesadelo. Na madrugada em que João Cláudio morreu, Silvana estava em Aracaju (SE). Tinha ido visitar a mãe. Aos pedaços, chegou para o enterro do filho que lhe tocava Bolero de Ravel e dançava no shopping com a avó, deixando todo mundo embasbacado com a cena.

Numa manhã que antecedeu aos dias que mudariam a vida da família Leal para sempre, antes da missa do sétimo dia, Valéria Velasco ; mãe de Marco Antônio Velasco, assassinado a socos e pontapés, aos 16 anos, por uma gangue da Asa Norte, em 1993 ; entrou naquele apartamento. Eles nunca tinham se visto. ;Alguém abriu a porta, e era ela, trazendo flores. Eu sabia a história dela, mas não conhecia Valéria. Foi a primeira pessoa que lembro ter visto de verdade no meio daquela dor;, conta Silvana. A mãe de Dandão levantou-se do sofá, esfacelada. Abraçou aquela mulher que carregava flores e a mesma dor. ;Foi quando pensei: ;Se ela conseguiu ficar de pé, eu vou conseguir também;. Deus sabe dar força pra cuidar dos que ficam;, diz Silvana.

SonhosUma década após a morte do estudante de publicidade João Cláudio Leal, 20 anos, espancado até a morte na saída de uma boate na Asa Sul, o Correio reencontrou a família e conta como os pais, o irmão e a irmã vivem depois da maior tragédia de suas vidas. Amanhã, uma missa especial irá homenagear o rapaz que fez da música poesia e, com ela, deu sentido a sua curta existência
Silvana levantou-se. Foi à missa do sétimo dia. Chorou ali. Chorou depois. Chorou sempre. Fez terapia. Voltou à faculdade. Formou-se em secretariado executivo. Chora até hoje. Às vezes, ouvindo uma música, folheando álbuns, lembrando-se de Dandão pequeno. ;Tem dia que não consigo sair do quarto. Só quero chorar a falta dele.; Mas ela reage: ;Minha vida não acabou. Nem meu filho morreu. Acredito que existe um mundo espiritual e que ele está melhor do que nós. A dor será sempre de quem fica;.

O sofrimento de Silvana é amenizado com sonhos. ;Ele sempre aparece pequeno, por volta dos 7 anos. Poucas vezes, sonhei com ele adulto. É uma visita e ele sempre tem pressa. Me diz: ;Mãe, tenho que ir embora;. Aí, eu abraço ele. Acordo bem, passo o dia bem. É uma sensação maravilhosa;.

Nesse momento, lágrimas molham o rosto de Silvana. Andrea também chora. E diz: ;Penso no que ele estaria fazendo agora. Mesmo muito ligado à família, provavelmente ele estaria fora do Brasil. O Dandão tinha uma vontade enorme de ir pro mundo, experimentar coisas novas;. E desaba: ;Além de meu irmão, ele era meu melhor amigo. Éramos muito ligados, cúmplices em tudo;. O marido, Leonardo Carvalho de Paula, 28, segura a mão da mulher. Ele não conheceu o cunhado. ;Era feliz, gostava de viver;, complementa.

Daniel chega do trabalho, para a entrevista. Senta-se no sofá. Silvana está no meio dos dois filhos. Mal começa a falar e o irmão mais velho de Dandão não esconde o choro. ;Ele nos ensinou a importância da família. São nesses laços que você se escora e leva a vida.; E continua, com a voz atropelada pela emoção, entalada na gravata do engenheiro: ;A gente se acostuma a viver sem a presença física. O tempo transforma a dor em algo mais suave, mais delicado, mas a falta dele é pra sempre;. Daniel para de falar. Silvana o consola.

Um silêncio profundo grita naquela casa. É como se o tempo, por algum motivo, parasse. Tia de João Cláudio, Renata Leal Ruas, 36 anos, lembra o dia em que o teclado chegou até ele, presente do avô paterno. E lembra também o piano que lhe deu, antes da sua morte. O presente que ele tanto queria. ;Ele tocava pra mim;, ela diz. Para suportar a dor da perda do sobrinho ; que era amigo e com quem conversava sobre música ;, ela passou a escrever. ;Era de madrugada, andando na rua, aí eu tinha que correr e colocar toda aquela emoção no papel;, conta. E Renata, então recém-formada em odontologia, escreveu como nunca havia escrito. Em setembro daquele ano terrível, ela desabafou no papel: ;Senhor, como dói abraçar e não poder beijar. Como dói conversar e não poder tocar. Como dói não poder escutar;;.

Em janeiro do ano seguinte, ela fez rima com a própria dor: ;Queria ter 20 anos. Não os 20 que muitos têm. Queria ter 20 anos, os 20 que João tem... Queria, por fim, dizer a Deus o meu muito obrigada por deixar o seu João 20 anos ao meu lado;. Renata, hoje, entende por que escreveu tanto: ;Você começa a viver quando tem certeza de que aquilo não vai passar;. Novamente, um silêncio se faz. Silvana entrelaça as mãos nas mãos dos filhos. Mariana de Lourdes Lopes, 32, noiva de Daniel, também não conheceu João Cláudio. A cunhada estudava na UnB e acompanhou pelos jornais a história da tragédia daquele agosto de 2000. Nunca pensou que um dia faria parte da família: ;A sensação é de que convivi com ele sempre;, diz. E o define, por tudo que viu, soube e intuiu: ;Ele era luz, paz, incapaz de fazer mal a alguém;.

Uma década após a morte do estudante de publicidade João Cláudio Leal, 20 anos, espancado até a morte na saída de uma boate na Asa Sul, o Correio reencontrou a família e conta como os pais, o irmão e a irmã vivem depois da maior tragédia de suas vidas. Amanhã, uma missa especial irá homenagear o rapaz que fez da música poesia e, com ela, deu sentido a sua curta existênciaNo fim da tarde de sexta-feira, André Leal chegou de São Paulo. Falar da morte do seu Dandão, até hoje, lhe dói como tatuagem que se tenta arrancar. Só que a dor de André é para sempre. Grudou na alma. Levar os assassinos do filho para a cadeia foi a grande luta dele, da família e dos amigos. E André não poupou esforços. Chorou sem vergonha de chorar. Pediu, correu atrás das provas, testemunhas. Entendeu de direito como se advogado fosse. Conseguiu. Viu, cara a cara, em 2004, em julgamentos separados, os dois. Ambos foram condenados.

Apesar da dor, André decidiu que viveria. Viaja de férias com a mulher. Eles passeiam, dançam e fazem planos de ver os netos nascerem. ;Nos casamos muito novos. Com 25 anos, já tínhamos três filhos. Agora, a gente namora.; E admite: ;Estou procurando cada vez mais ser feliz, renascer;. Sobre a perda brutal, a reflexão: ;A saudade é grande, tem que chorar, sentir, mas tem que seguir. Não há um só dia em que não pense nele. De tempos em tempos, levo rosas brancas pra ele e canto Segura na mão de Deus. Faço minha oração e vou embora. Isso me faz bem;.

O pai agradece pelos 20 anos com Dandão: ;Ele foi um presente na vida da gente, todo dia sinto orgulho dele. Como Deus sabia o que ia acontecer isso aqui na minha casa, Ele nos amparou e amenizou o nosso sofrimento;.

Dez anos depois, o rapaz que encantava com o som que saía dos seus dedos mágicos continua mais vivo do que nunca. Como a música, que é eterna. Como a vida que viveu ; curta, mas intensa.

Homenagem
Amanhã, às 20h, na Igreja São Pedro de Alcantâra, na QI 5 do Lago Sul, será realizada uma missa especial pelos 10 anos da morte de João Cláudio. Endereço da comunidade de Dandão na internet: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=700286


"Penso no que ele estaria fazendo agora. Mesmo muito ligado à família, provavelmente ele estaria fora do Brasil. O Dandão tinha uma vontade enorme de ir pro mundo, experimentar coisas novas"
Andrea Leal, a irmã


"Não há um só dia em que não pense nele. De tempos em tempos, levo rosas brancas pra ele e canto Segura na mão de Deus. Faço minha oração e vou embora. Isso me faz bem"
André Leal, o pai



Vida dos agressores segue sem tropeços
Renata Ruas, ao piano, lembra como o sobrinho gostava de música. Na sequência, foto de Dandão, como era chamado, ainda criança, e depois um rapaz, cheio de planos : saudade eterna, futuro interrompido

>> Naira Trindade

O futuro de João Cláudio Leal foi interrompido muito cedo, na saída de uma boate, depois de uma briga animalesca. Os seus agressores, que bateram até matar, parecem seguir seus dias tranquilos, sem interrupções. Um deles até voltou a praticar crimes.

Marcelo Gustavo Soares de Souza, hoje com 33 anos, e José Quirino Alves Júnior, 37, estão livres. Ambos cumpriram parte das penas de 12 e 8 anos, respectivamente, por terem assassinado João Cláudio, e deixaram a prisão. Ganharam a liberdade e vão poder comemorar hoje, em casa, o Dia dos Pais. Sentimento tão sonhado pelo pai de João Cláudio, André Leal.

Marcelo Gustavo e José Quirino não convivem mais. Não saem juntos. Nem sequer são amigos. A ação impensada naquela madrugada de 9 de agosto de 2000, na Music Hall Café, da 411 Sul, se reflete por toda a vida. Marcelo e Juninho ; como Quirino é conhecido ; seguiram em frente depois de terem destruído uma família inteira. E descobriram que acabaram também com as próprias vidas, depois daquela trágica briga.

À época comerciante, Juninho lutou até a última instância na Justiça para tentar provar que não tinha culpa na ação que vitimou o estudante João Cláudio. Tentou anulação, sob o argumento de que a decisão foi contrária à prova dos autos, tanto no que diz respeito à participação dele no homicídio quanto à inclusão da qualificadora do motivo fútil. Seus advogados sustentaram ter havido cerceamento de defesa e a nulidade do quesito que menciona sua participação no homicídio. Juninho alegou não haver provas contra ele. Perdeu o recurso. Ficou preso cinco anos em regime fechado ; apesar de julgado em 2004, já estava preso desde 2000. Saiu em 9 de outubro de 2005 sob condição de dormir na cadeia. Assim fez até 2008.

Reincidência
Trocou o antigo endereço, na QNL 2 de Taguatinga, há dois anos. O pai, José Quirino Alves, se separou e casou-se de novo, mudando-se para Águas Claras. Juninho abriu uma oficina, onde trabalha atualmente. Para os vizinhos que o viram crescer, a vida dele se ajeitou. Todos se recusaram a informar o endereço da nova casa do mecânico, que, depois de sair da prisão, não voltou a praticar crime.

Marcelo, ao contrário de Juninho, escolheu outro caminho. Mesmo depois de passar seis anos e seis meses em regime fechado por causa das agressões a João Cláudio e Gilson Elmokdisi (hoje com 30 anos, publicitário, casado, dois filhos, o amigo de faculdade com quem foi à boate),voltou às páginas policiais, em 2008. Acabou novamente detido por se envolver em clonagem de cartões bancários. Foi a julgamento, mas a Justiça o considerou réu primário. Ele teve os benefícios concedidos. A pena de dois anos por aplicar golpes em clientes bancários acabou num regime semiaberto. Durante o dia, ficava livre. À noite, ele dormia na prisão.

Não bastassem as punições, meses depois, Marcelo Gustavo, então dono de uma lan house em Ceilândia, voltou a ser notícia ao apresentar uma Carteira de Motorista falsa a oficiais de trânsito da Polícia Militar. Ironicamente, o documento falsificado de maneira tosca ; conforme relatos da sentença no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (MPTDFT) ; trazia o nome de João (o sobrenome inventado era Neto). Na mesma época, Marcelo ainda teve que responder pelo furto de um notebook, escondido por ele num guarda-roupas na casa da mãe. Daí, somam-se mais 14 meses de reclusão pelos crimes.

Marcelo ganhou as ruas há mais de um ano. Neste domingo, vai poder receber abraços dos dois filhos, um de 11 anos e um recém-nascido. Está no segundo casamento. Trabalha com o irmão mais velho numa loja de autopeças. Ainda frequenta diariamente o endereço da mãe, na QNL 12. Para a vizinhança, Marcelo é um jovem ainda desajuizado. ;A vida dele não foi fácil. Ele não encontra emprego. Ninguém quer assinar a Carteira de Trabalho dele. Mas, na verdade, parece que ele não gosta muito de trabalhar, pois sempre foi criado pela mãe;, comentou, discretamente, uma vizinha que não se identificou.

Na última sexta-feira, o Correio bateu na porta do agressor de João Cláudio. Familiares receberam a reportagem com ironia, dizendo não terem conhecimento do que se tratava o assunto. Nada quiseram informar. Ao atender o telefone da empresa do irmão, Marcelo emendou, na mesma linha: ;Não sei do que se trata. Não tenho nada a dizer sobre isso;. Mesmo após o irmão dele confirmar que Marcelo foi quem atendeu à ligação.

Por telefone, Gilson disse ao Correio que o trabalho o ajudou a superar a cicatriz aberta após a morte do amigo. E acredita: ;Se João Cláudio não tivesse morrido, nossa amizade seria pra sempre;.

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