postado em 09/08/2010 07:00
A dificuldade para conseguir uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública do Distrito Federal se agrava a cada dia. Somente ontem, pelo menos seis pessoas recorreram ao Ministério Público para conseguir o tratamento adequado para um familiar.Uma delas é uma psicóloga de 32 anos, que tentou em vão encontrar um leito para a irmã, vítima de uma intoxicação com veneno, na tarde de sábado. Após receber atendimento no hospital da cidade onde mora, Santo Antônio do Descoberto (GO), a mulher de 41 anos foi transferida para a o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) e instalada em um box de emergência. Ontem de manhã, seu estado de saúde piorou e o médico responsável pediu a internação imediata na UTI, mas não havia leitos disponíveis.
Após a ingestão do produto, a moradora de Santo Antônio sentiu um mal estar súbito e foi socorrida pela mãe, com quem mora. Chegou ao hospital agitada, com a pupila dilatada e vomitando. Após uma lavagem estomacal, seguiu de ambulância para o HRC, com dificuldade para respirar. Ela foi medicada e sedada até passar por uma nova análise, de madrugada. ;Na primeira avaliação feita pela médica, minha irmã estava em estado grave, porém estável;, revelou a psicóloga.
No meio da manhã de ontem, as secreções acumuladas no organismo começaram a impedir que a paciente respirasse e, por isso, ela foi entubada. Segundo o relatório médico, a paciente precisava de cuidados de uma UTI e corria risco de morte iminente. ;Mas a equipe do hospital afirmou que, em toda a rede pública, só havia duas vagas para crianças, neste tipo de internação;, protestou a irmã dela.
Rede privada
Munida do laudo médico, a irmã da paciente foi ao Ministério Público do DF, na tentativa de garantir um leito hospitalar em um hospital privado. O órgão costuma intervir em casos graves, mas o procedimento(1) não é simples. Ela foi atendida por volta de 14h e logo ouviu de funcionários do Ministério Público que não havia vagas nem sequer nas instituições privadas. ;Só saio daqui com um leito de UTI garantido para a minha irmã, nem que tenha que dormir na porta;, afirmou.
Ainda no MP, ela conversou com mais três familiares de doentes que enfrentavam o mesmo problema de falta de vagas em diferentes UTIs. Após as 18h, a família conseguiu garantir a internação no Hospital Prontonorte, localizado no fim da Asa Norte.
A Secretaria de Saúde alegou que, apesar de não haver leitos disponíveis no HRC, a paciente está sendo assistida pelos médicos de plantão e será transferida assim que possível. O órgão reconheceu que os leitos ofertados pelo Sistema Único de Saúde não comportam a crescente demanda.
Violência
O drama da internação para casos graves não é o único enfrentado pelos pacientes que recorrem ao HRC. As sucessivas horas de espera e o atendimento precário são frequentes. Constantemente faltam funcionários e itens básicos até para os curativos mais simples. Nem mesmo os funcionários se livram da precariedade da estrutura.
Em 21 de junho, a chefe de enfermagem do HRC, Vilma Lobo, 47 anos, foi atacada por um travesti portador do vírus da Aids. Como forma de protesto pela demora no atendimento, Osmair Miliano Pinto, ou Maíra, 28 anos, coletou o próprio sangue e injetou na mão da funcionária. No dia 16 de julho, ela fez o primeiro exame de sangue para saber se havia contraído a doença, e o resultado foi negativo. Novos exames serão realizados entre três e seis meses.
1 - GDF paga custos
É preciso ter um relatório médico descrevendo o estado de saúde e as necessidades do paciente, além da explicação de que não há vagas na unidade em que o profissional atua. O cidadão deve procurar a Defensoria Pública e entregar este documento, que será repassado a um juiz. O órgão também entra em contato com a Central de Regulação de Leitos (órgão da Secretaria de Saúde), para verificar se há vagas em outros hospitais públicos, ou, se for preciso, em uma unidade particular. O Governo do Distrito Federal custeia o tratamento neses casos.