postado em 10/08/2010 07:00
Problema consolidado nacionalmente e real nas mais diferentes cidades do Distrito Federal, o tráfico e o consumo de drogas, especialmente o crack (1) (subproduto da cocaína), virou pauta para as propostas de governo dos candidatos ao Palácio do Buriti. Independentemente do partido ou da coligação, os concorrentes investem forte no discurso que prevê o fortalecimento de áreas como a educação e a segurança. Considerado uma epidemia nacional, o combate ao crack chega a ser citado de maneira formal no projeto do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo local, Agnelo Queiroz. O petista prevê a criação de um Centro Integrado de Planejamento de Ações para trabalhar em conjunto com órgãos governamentais nos territórios mais vulneráveis do DF e do Entorno.;O combate ao uso de drogas precisa ser visto fundamentalmente como uma questão de saúde pública;, diz Agnelo. Tendo em vista que o DF ocupa atualmente o último lugar no ranking brasileiro de tratamento de distúrbios psicossociais, o plano de governo do petista também prevê a ampliação do atendimento aos usuários de drogas, com destaque para a criação do Serviço Residencial Terapêutico, inexistente no DF. ;A nossa juventude não pode cair nessa armadilha. É preciso abandonar esse vício que destrói principalmente as famílias;, destaca Agnelo.
O Correio vem mostrando, desde o ano passado, como o crack se espalhou pelo DF. Reportagem publicada ontem denuncia o avanço da droga na Asa Norte. Viciados não se intimidam com a luz do dia e ocupam as quadras e também os espaços próximos ao centro do poder, como a Rodoviária do Plano Piloto. Atualmente, o DF conta com apenas seis Centros de Assistência Psicossocial (CAPs), que atendem a dependentes de álcool e drogas. Apesar de não fazer referência direta à questão do crack em seu plano de governo, Joaquim Roriz (PSC) usa como tática para o combate ao uso de drogas o incentivo ao desenvolvimento do interesse dos jovens pelo conhecimento técnico, científico e pela prática desportiva.
;Vamos criar uma Secretaria de Combate às Drogas. As drogas não são um problema policial, mas sim de saúde pública. Toda família tem uma pessoa que possui algum problema com vício e essa família acaba sofrendo mais do que a própria pessoa drogada. Temos que acabar com esse problema de forma que a pessoa não retorne às drogas;, ressalta Roriz. Para o candidato do Partido Verde (PV), Eduardo Brandão, o que falta hoje no DF é uma política de combate aos entorpecentes. ;Já fomos criticados, inclusive, pelo governo federal por causa disso;. Brandão visitou ontem o centro de tratamento para dependentes químicos Mata Meio Ambiente, em São Sebastião. Na ocasião, ele afirmou que, caso seja eleito, aproveitará iniciativas como essa para investir recursos governamentais em casas de reabilitação e na ampliação do tratamento de viciados no DF. ;É muito mais pesado e ineficiente construir uma estrutura, por isso acredito que devemos trabalhar incentivando o terceiro setor;, argumentou.
Proposta polêmica
O candidato do PSTU, Rodrigo Dantas, é mais radical ao tratar o problema. Ele defende a legalização das drogas, bem como a estatização de sua produção e distribuição (veja quadro). ;Só a legalização das drogas pode acabar com o tráfico como atividade econômica do crime organizado. Produção e distribuição estatizadas esvaziariam o poder dos criminosos, seus elos corruptos com as instituições, a violência policial e todo o espiral de barbárie desencadeado pela criminalização das drogas;, avaliou. Para Newton Lins (PSL), o problema deve ser tratado com as famílias dos dependentes químicos. ;Em nosso governo, criaremos uma clínica, na qual as famílias terão toda a atenção necessária para recuperar o dependente químico;, prometeu.
Representante do PSol na disputa pelo GDF, Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, aposta no tripé saúde, educação e lazer para tentar encarar a epidemia das drogas. ;Aos dependentes, o governo adotará políticas articuladas entre os setores de saúde, educação e assistência social, proporcionando atendimento especializado, médico e psicológico, em todas as unidades desses setores, envolvendo a família e a sociedade em programas de reinserção de dependentes em atividades produtivas;, defende.
1 - Destruição
Levantamento realizado pelo Centro de Assistência Psicossocial para Usuários de Álcool e outras Drogas (CAPSad) no Guará revela o avanço da droga na capital do país em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, maconha, cocaína, merla e drogas sintéticas. Dos 1.485 prontuários de pacientes em tratamento em 2010, 21,61% (321) se referem a dependentes das pedras. Índice preocupante, se comparado ao de 2008, quando, de 940 procedimentos em aberto, 0,22% (2) eram por conta de crack.
Fique por dentro
Veja as principais propostas dos candidatos ao Buriti para solucionar o problema do uso e do tráfico de drogas na capital
Agnelo Queiroz (PT)
; Aumentar o número de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e criar o Serviço Residencial Terapêutico (SRT) para pessoas com transtornos mentais e dependências químicas
; Ampliar a cobertura ambulatorial, priorizando as políticas de prevenção e tratamento aos usuários de drogas lícitas e ilícitas
; Criar uma política especial para juventude, que passa pela educação e lazer.
; Criar um Centro Integrado de Planejamento de Ações, bem como uma política de articulação de órgãos governamentais nos territórios mais vulneráveis.
; Intensificar a repressão ao tráfico, principalmente no que diz respeito ao crack. Proporcionar mais recursos e reestruturação das unidades especializadas de investigação e de combate às drogas da Polícia Civil, desenvolvendo um trabalho em conjunto com a Polícia Militar e a Polícia Federal.
Joaquim Roriz (PSC)
; Fomentar o interesse pelo conhecimento técnico ou científico e pela prática desportiva para superação da criminalidade e das drogas.
; Intensificar o combate ao tráfico de drogas e assistir os dependentes.
; Desenvolver projetos por intermédio dos segmentos da segurança pública destinados aos alunos do ensino fundamental, com foco na proteção contra o consumo de drogas e contra a violência.
; Fomentar programas voltados para ações socioeducativas intersetoriais direcionadas à prevenção e redução de danos relacionados ao uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas.
Eduardo Brandão (PV)
; Fortalecer o ensino integral para que o tempo dos estudantes seja ocupado de forma produtiva.
; Aplicar a inteligência nas áreas de segurança para que a repressão funcione ao uso e tráfico de drogas.
; Ampliar as políticas de reabilitação aos viciados, por meio de apoio governamental às iniciativas do Terceiro Setor.
; Desenvolver políticas de combate ao uso e tráfico de drogas integradas com o Entorno.
Rodrigo Dantas (PSTU)
; Legalizar as drogas e estatizar sua produção e distribuição.
; Tratar a questão das drogas como um problema de saúde publica e não de repressão policial.
; Investir na educação em tempo integral e fazer das escolas públicas centros de cultura, esporte e lazer.
Toninho do PSol
; Investir prioritariamente na saúde, na educação, no esporte e no lazer como meio de estimular práticas saudáveis entre a juventude em todas as cidadesl, atuando preventivamente no combate ao uso e consumo de drogas, lícitas e ilícitas.
; Adotar políticas articuladas entre os setores de saúde, educação e assistência social, proporcionando atendimento especializado, médico e psicológico, em todas as unidades desses setores.
; Envolver a família e a sociedade em programas de reinserção de dependentes em atividades produtivas.
; Adotar políticas articuladas entre a Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal (Civil e Militar) no combate a esses crimes.
Ricardo Machado (PCO)
; Defender o acesso do povo à cultura e ao lazer, possibilitando aos filhos da classe trabalhadora desenvolverem suas habilidades artísticas e afastando-os, assim, das drogas.
Frank Svensson (PCB)
; Não há na proposta de governo do candidato, apresentada ao TSE, nenhuma colocação relativa a questão das drogas no DF.
Newton Lins (PSL)
; Criar uma clínica, na qual as famílias terão toda atenção necessária para recuperar o dependente químico.
; Estabelecer um quadro permanente de assistentes sociais, terapeutas, médicos, psicólogos e psiquiatras que proporcionarão um tratamento integrado ao dependente bem como à sua família.
; Criar programas e projetos de esclarecimentos quanto aos malefícios das drogas também nas escolas.