Cidades

Há carros largados por todo o DF

Iniciada na semana passada em quadras da Asa Norte, Operação Calhambeque pretende recolher veículos esquecidos pelos donos nas ruas do Plano Piloto. O problema, porém, atinge todas as cidades do Distrito Federal e mobiliza moradores pela retirada dos automóveis

postado em 10/08/2010 07:00
Vidros trincados, placas antigas e muita poeira. Carros que revelam a ação do tempo e o descuido dos proprietários são praxe nos estacionamentos do Distrito Federal. Basta dar uma volta nas quadras residenciais do Plano Piloto para encontrar diversos automóveis que aparentam estar abandonados. Às margens da L2 Sul, em um estacionamento da SQS 413, um Fusca de cor clara dorme e acorda ao relento há anos, sempre na mesma vaga. Adesivos de campanhas eleitorais passadas cobrem toda a lataria do veículo. Os pneus não têm mais ar e, por isso, as rodas tocam o asfalto.

Na 107 Sul, um Maverick desperta a curiosidade de quem passa pelo local: ofertas de compraO Fusca da 413 Sul incomoda a vizinhança. A aposentada Arlete Aragão, 56 anos, mora em um bloco próximo ao estacionamento que abriga o automóvel e teme a proliferação de bichos. ;Com o início das chuvas, o carro pode acabar virando um reservatório dos mosquitos que transmitem a dengue;, alerta. Além dos riscos de doenças, o veículo compromete a beleza da superquadra. ;A estética fica comprometida. Dá uma sensação de lugar descuidado, sujo;, opina. Pelos candidatos políticos dos adesivos que estão colados nos vidros, Arlete calcula que o Fusca esteja lá, pelo menos, desde 2002.

As reclamações de moradores incomodados com a presença de carros abandonados motivou a Administração Regional de Brasília a montar a Operação Calhambeque, com apoio da Polícia Civil, da Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde, do Departamento de Trânsito (Detran) e dos conselhos comunitários das asas Sul e Norte. Juntos, os organismos iniciaram uma caça aos veículos largados pela cidade. Na semana passada, 11 automóveis deixaram as ruas da Asa Norte após notificações enviadas aos proprietários e três foram removidos pelas autoridades.

Os trabalhos de retirada chegarão à Asa Sul nas próximas semanas. Amanhã, integrantes dos órgãos que compõem a operação se reúnem para discutir como os trabalhos seguirão daqui em diante. A pauta da reunião inclui a possibilidade de estender o serviço à área central de Brasília. Há chances também de que as equipes voltem à Asa Norte. As delegacias de polícia ; 1; (Asa Sul), 2; (Asa Norte) e 5; (Setor Bancário Norte) ; e o Conselho Comunitário dos dois bairros ajudará na identificação de pontos que apresentam o problema, com base nas denúncias que recebem.

RetornoNo Riacho Fundo, um Opala parado próximo a um posto de gasolina está no local há pelo menos quatro anos: o dono morreu, mas a família não retirou o veículo
A necessidade de retorno ao local onde começou a Operação Calhambeque se justifica em razão de casos como os vistos na 312 Norte. Na quadra, é possível encontrar vários carros com os sinais do desleixo dos donos. Ao longo do meio-fio, há um automóvel sem os vidros. Não muito distante, em frente ao Bloco F, um Gol fica entregue à poeira e às folhas que caem das árvores. O acúmulo de terra só é maior embaixo de um Siena prateado, que está parado no estacionamento do Bloco E.

Outras regiões administrativas do DF também sofrem com o problema. Um Opala permanece na Área Especial 3/433 do Riacho Fundo há cerca de quatro anos, ao lado de um posto de gasolina. O gerente do estabelecimento, Josemir Amador, conta que é difícil ver os responsáveis pelo veículo na região. ;O dono morreu há dois anos. Mas, antes disso, o automóvel já estava parado aqui. A família dele morar perto. Às vezes, eles vêm aqui;, relata.

Em alguns casos, os proprietários têm uma estreita relação com os carros aparentemente largados pelas ruas. Um Maverick com placa amarela, pintura descascada e pneus baixos chama atenção de quem passa pela 107 Sul. Segundo os moradores, está lá há mais de 15 anos. Alguns tentam comprá-lo, sem sucesso. O automóvel é do pai de Andréia Pouso. Segundo ela, o Maverick virou relíquia da família. ;Meu pai deu de presente para o meu irmão mais velho quando ele passou no vestibular;, relembra. ;Pretendemos restaurá-lo e levá-lo para outro lugar.;

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