postado em 10/08/2010 07:32
O preço do álcool e da gasolina na maioria dos postos do Distrito Federal caiu no último fim de semana. As primeiras tabelas foram alteradas na noite de sexta-feira. No sábado, havia fila de carros para abastecer em alguns estabelecimentos. O litro da gasolina recuou até R$ 0,32, chegando a R$ 2,37. O do álcool podia ser encontrado, ontem, a R$ 1,67 ; uma redução de R$ 0,22. Os novos valores, no entanto, não devem se sustentar por muito tempo. Para decepção dos consumidores, empresários do setor dizem que não se trata de queda de preço, mas sim de mais uma promoção relâmpago.No mês passado, segundo o presidente da Rede Gasol, Antônio Matias, o movimento nos postos foi menor. ;Para chamar de volta os clientes, precisamos mexer na tabela. Mas é promoção. Até quarta (amanhã), os preços devem voltar ao normal;, adiantou Matias. Com 91 unidades, a Gasol detém cerca de um terço dos postos da capital do país. ;Temos que vender combustível por um valor que compense. O mercado é livre, não sofre interferência de ninguém;, completou. Nos postos do DF, mesmo em época de promoção, os preços costumam ser quase idênticos.
Na manhã de ontem, um posto no Eixinho Sul mantinha o preço do álcool e da gasolina a R$ 1,87 e R$ 2,66, respectivamente. Rafael Amaral, filho do dono, explicou que ainda negociava algum desconto com a distribuidora para que pudesse baixar os preços à tarde. ;Se não conseguirmos, vai ser difícil acompanhar os grandes. E o problema é que se a gente não acompanha, os clientes somem;, reclamou. Os pequenos revendedores têm menos margem para trabalhar com descontos.
Já grupos grandes conseguem comprar combustível à vista. Dessa maneira, fogem dos juros e, com mais facilidade, baixam o preço final ao consumidor. Os pequenos, sustentam seus representantes, precisam se esforçar para acompanhar os preços e não perder clientes. ;Não podemos ficar fora do mercado. Se baixaram do outro lado da rua, temos que baixar aqui também;, comenta Jair Tedeschi, dos postos Jarjour, na Asa Norte e em Taguatinga. Há estabelecimentos que, inclusive, têm funcionários que, periodicamente, fazem rondas pelo DF anotando os preços e monitorando a concorrência.
Economia
Ao ver o litro do álcool mais barato no letreiro às margens da pista, a professora Mara Barros, 54 anos, parou em um posto da Asa Norte para encher o tanque. Mesmo satisfeita com a economia de pouco mais de R$ 10, ela se queixou da estratégia adotada pelos postos. ;Tem alguma coisa estranha por trás disso. É, no mínimo, muita coincidência todos eles baixarem e subirem os preços ao mesmo tempo;, disse Mara, que gasta cerca de R$ 250 por mês para abastecer. O brasiliense é um dos que mais compromete seu orçamento com combustível.
Na Asa Sul, o supervisor de manutenção elétrica Giordano Moreira, 33 anos, também aproveitou a promoção para tirar o ponteiro de combustível da reserva. ;Não sabia que tinha baixado, mas daqui a pouco sobe de novo;, previu. ;O pior é que a maioria aqui em Brasília pode pagar esse preço absurdo. Só quem reclama é trabalhador como eu mesmo;, desabafou Moreira, morador de Valparaíso de Goiás.
Ele diz desembolsar R$ 800 por mês para poder ir trabalhar de carro no Plano Piloto. Para o professor do Ibmec em Brasília Erik Franklin Bezerra, os postos só conseguem baixar o preço da noite para o dia porque trabalham com uma margem de lucro muito alta. ;Quando o movimento cai um pouco, os donos podem usar essa estratégia. Mas usam porque têm ganhos altos;, comenta Bezerra, especialista em defesa da concorrência. ;Como o mercado é dominado por poucos agentes, são eles que ditam os preços;, acrescenta. Desde o fim do ano passado, Ministério Público do DF e Territórios e Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, investigam denúncias de cartel e preço abusivo em Brasília.
Empresários do setor negam margem de lucro abusiva. Alegam que os impostos cobrados no DF ajudam a encarecer o preço nas bombas. ;O imposto é alto mesmo, mas eles trabalham com lucro acima da média;, acusa Wilian Carvalho, gerente de um posto em Engenho das Lajes, na divisa com Goiás, onde a gasolina custa R$ 2,40 e o álcool, R$ 1,40. Segundo ele, quem conhece a planilha de custos de um posto de combustível sabe que em Brasília a margem de lucro é maior. ;Mas o povo também é culpado. Se aumentarem amanhã de novo, as vendas continuam do mesmo jeito.;
ÁLCOOL SEM VANTAGEM
Mesmo com a redução nos preços na maior parte dos postos, o motorista de Brasília continua sem ter vantagem em abastecer seu veículo com álcool. De acordo com os especialistas, o derivado da cana-de-açúcar tem que custar no máximo 70% da gasolina para valer a pena ; isso porque sua combustão é maior, o que rende ao carro uma autonomia menor com uma mesma quantidade de combustível. Com o derivado de petróleo custando R$ 2,37, o litro do álcool deveria sair por no máximo R$ 1,65, mas está sendo vendido a R$ 1,67.