postado em 11/08/2010 07:00
A polícia deve pedir ajuda ao Instituto de Criminalística (IC) para tentar esclarecer se o tiro que atingiu a coluna do menino de 11 anos foi mesmo acidental, conforme alegou o policial militar do 13; Batalhão de Polícia Militar, em Sobradinho, autor do disparo. A necessidade de contar com o serviço dos peritos surgiu depois da contradição entre o depoimento dos policiais e o da vítima, do irmão dela e dos dois amigos que estavam no dia do episódio, no domingo passado. Os quatro conversavam em frente a uma casa, na Quadra 12 da Fercal, quando um grupo de policiais se aproximou. Um dos PMs assumiu ter efetuado o disparo que atingiu o menor.Os jovens rebatem a versão do soldado Wander Martins de Souza, 38 anos. ;A gente estava em frente à minha casa, juntando dinheiro para comprar cachorro-quente. Ele (a vítima) tinha acabado de pegar a grana, quando alguém gritou: mão na cabeça! É a polícia;, disse um jovem de 19 anos ao Correio. ;E já chegaram atirando;, completou. Segundo ele, os policiais estavam a pé e teriam saído de um beco. ;Nós não sabíamos se eram policiais mesmo;, informou.
A testemunha afirma ter visto o homem que atirou se agachar com a arma apontada para a direção deles. ;Os outros saíram correndo. Eu fiquei parado. Vi quando o Ricardo* caiu no chão. Achei que ele estava exagerando. Quando o homem se aproximou, vi que era policial. Ele ordenou que Ricardo levantasse, mas ele não se mexeu. Então, o policial virou o Ricardo, que estava cheio de sangue. O policial se desesperou. Disse: ;Vamos embora;. Colocou o Ricardo no banco de trás e eu fui no corró (compartimento atrás do carro, onde se transportam presos);, afirmou o jovem. À polícia, o mesmo rapaz disse que ouviu o policial que atirou no colega gritando: ;Meu Deus! O menino está baleado;.
Intencional ou acidental
As declarações do jovem coincidiram com as de outra testemunha ; colega do grupo do qual fazia parte a vítima ; que prestou depoimento ontem na 35; Delegacia de Polícia (Sobradinho II), responsável pela investigação do caso. O rapaz, de 20 anos, disse também que ele e o irmão de 18 anos do garoto ferido correram porque ficaram com medo por não saberem que os homens eram policiais. Já Ricardo afirmou, em depoimento colhido pelos policiais civis no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), ontem, que não teve tempo nem de se virar. Ele lembra que ouviu um barulho e caiu, desmaiado. ;A grande questão é saber se o tiro foi intencional ou acidental;, questiona o delegado-chefe da 35; Delegacia de Polícia (Sobradinho II), Wellerson Gontijo Vasconcelos.
Wellerson espera que o fato seja esclarecido com o resultado do laudo de local. ;Os peritos fizeram uma varredura no lugar para ver se há outras cápsulas de bala do mesmo calibre da arma do PM ; uma pistola .40 ;, pois a quantidade de tiros dados é importante para o processo;, disse Wellerson. Caso não fique claro o que teria motivado o disparo contra o garoto, o policial pensa em pedir uma reprodução simulada dos fatos. ;Vamos reproduzir as declarações dos policiais e dos garotos acompanhadas da presença dos peritos;, explicou.
Na parte da tarde, o menino foi levado à seção de raios X, que fica no térreo do Pronto-Socorro do HBDF, para nova avaliação. Três médicos faziam o acompanhamento dele do quarto andar, onde fica a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até o térreo. A bala continua alojada na coluna do garoto. Segundo os parentes, os médicos disseram que ele está fora de perigo. ;A polícia já chegou atirando no meu filho;, desabafou a mãe do menino, de 39 anos. Ela estava acompanhada do ex-marido, 38. Por enquanto, eles não quiseram falar em processo contra o policial. ;Esperamos apenas que ele (Ricardo) fique bem;, disse o pai.
*Nome fictício