postado em 11/08/2010 07:00
O coração de Brasília transformou-se em um reduto de criminalidade. Tráfico de drogas, furtos e roubos acontecem a qualquer hora. Nas últimas semanas, áreas centrais da cidade foram cenários de filmes de bangue-bangue. Em plena luz do dia, um tiroteio entre traficantes(1) assustou quem passava no Setor Bancário Sul, por volta das 12h de 6 de julho. No fim da tarde da última segunda-feira, trabalhadores do Setor Comercial Sul (SCS) presenciaram cenas de perseguição policial. Uma dupla de assaltantes tentou furtar um veículo, mas foi impedida por PMs. A polícia disparou contra os bandidos, que tentaram fugir. Os dois foram presos. Do início do ano até ontem, a 5; DP realizou 246 flagrantes na área central de Brasília. O número de ocorrências supera o de cidades como Ceilândia , Planaltina e São Sebastião (veja o quadro).As práticas criminosas mais recorrentes são de tráfico de drogas, furtos a veículos e a pedestres, e de roubo a comércio. Cerca de 500 mil pessoas circulam no centro de Brasília todos os dias. Movimentação que atrai criminosos de cidades periféricas e do Entorno do DF, segundo o tenente coronel e comandante do 1; Batalhão de Polícia Militar do DF, Eduardo de Lima e Silva. ;Esses bandidos sabem que a riqueza está no Plano Piloto;, diz. No últimos 10 dias, a PM prendeu 20 suspeitos, sendo 4 menores, de praticarem crimes na região central. Uma média de dois flagrantes por dia.
O SCS é um dos pontos preferidos dos criminosos. Cerca de 80 mil pessoas circulam diariamente nas quadras do setor. Empresas e comerciantes adotam medidas de segurança por conta própria. A contratação de vigilantes é prática comum. Assim como a implantação de sistemas de filmagens e alarmes. Para garantir a proteção de seus funcionários, uma empresa oferece escolta armada aos trabalhadores. Há16 anos no SCS, o comerciante Luiz José Barbosa, 69 anos, decidiu morar em seu restaurante para impedir, com as próprias mãos, a ação de bandidos. ;Já tentaram me assaltar seis vezes. Nunca levaram nada porque todas as vezes eu estava no interior do estabelecimento com uma arma na mão. Se insistirem, eu meto bala. Já quebraram vidro, arrombaram grades. A coisa só tem piorado;, reclama.
Não é difícil encontrar comerciantes que foram alvo de bandidos no SCS. ;Os caras aproveitam o movimento durante o dia e roubam as coisas dentro da loja. Uma vez, levei uma pedrada porque tirei um morador de rua de dentro da loja que insistia em pedir dinheiro a uma cliente. É constrangedor;, avalia Eliene Silva, 35 anos, gerente de um estabelecimento de cosméticos. O maior prejuízo contabilizado pela gerente ocorreu em 2007, quando bandidos arrombaram a loja durante a noite e levaram R$ 11 mil em produtos.
Trabalhadores se viram para evitar situações de perigo. ;Quando saio do serviço, às 19h, só desço para a parada no Eixinho quando há outros colegas para ir comigo. Se não, prefiro pegar o ônibus na W3 Sul, que é mais perto. Mesmo que eu tenha que esperar uma hora a mais pelo ônibus. Dá muito medo de atravessar a região sozinha;, relata Thais Rodrigues Silva, 17 anos, caixa de uma farmácia no Setor Comercial Sul e moradora de Sobradinho
Soluções
Para a polícia, a grande quantidade de flagrantes mostra que a repressão à criminalidade está mais intensa. ;O número de ocorrências é considerável, mas houve uma redução de 46,7% no número de roubos. Só no Setor Comercial Sul, dobramos a quantidade de policias. De cinco para 10. Temos à disposição do efetivo dois carros e duas motocicletas para fazer ronda;, afirma o tenente coronel Eduardo de Lima e Silva.
Investimento em investigações e mapeamento das áreas de riscos têm sido ferramentas usadas pelos agentes da 5; Delegacia de Polícia para enfrentar os criminosos. ;Nós estamos fazendo um trabalho de integração com a PM para aplicar a tolerância zero, além de deixarmos os inquéritos mais robustos de informações para que esses criminosos sejam julgados e condenados pela Justiça para não voltarem mais às ruas. Os nossos policiais estão mais presentes na área central de Brasília;, afirmou o delegado Laércio Rosseto, titular da 5; DP. Ele também adiantou as operações que serão adotadas. Uma, intitulada de DHL(Dia, hora e local) vai consistir em alocar equipes a paisana para atuar regularmente nas áreas de maior concentração de crimes identificadas pela polícia. Outra, mais extrema, consiste em abordar qualquer pessoa que transite na área central de Brasília durante a madrugada. ;É constrangedor. Mas é um constrangimento em prol da sociedade;, justifica.
1 - Disputa do tráfico
O tiroteiro ocorreu na Quadra 2, próximo ao prédio sede do Banco do Brasil, por volta das 12h20. Uma pessoa ficou ferida e três carros danificados. O flanelinha Raimundo Gomes Pereira, conhecido como Magal, foi atingido de raspão na cintura por uma bala perdida. Os disparos acertaram também uma árvore e três carros: um Palio prata, um Ford Fiesta preto, e um Chrysler PT Cruiser, de cor prata. O motivo do tiroteiro seria a disputa por ponto de tráfico de drogas no local. A 5; Delegacia de Polícia (área central) prendeu três dos envolvidos. Uma quarta pessoa ainda é procurada
Crimes no DF
Número total de flagrantes no período de 1; de janeiro a 10 de agosto de 2010 nas 31 delegacias de polícia circunscricionais do DF : 4.509
Delegacia/ número de registros/ Percentual
1; 33; DP (Santa Maria)/ 296/ 6,56%
2- 5; DP (Área central de Brasília)/ 246/ 5,46%
3- 27;DP (Recanto das Emas)/ 245/ 5,43%
4- 15; DP (Ceilândia Centro)/ 243/ 5,39%
5- 30; DP (São Sebastião)/ 213/ 4,72%
Dicas para se proteger da violência
Veículos
; Após estacionar, verificar se portas e janelas estão fechadas;
; Não deixar bens no interior do carro, objetos à vista chamam a atenção de criminosos que circulam em estacionamentos à procura de alvos fáceis e lucrativos;
; Optar por dispositivos de segurança, como alarme ou tranca carneiro;
; Ao deixar o estacionamento, entrar rapidamente no veículo.
Pedestres
; Evitar andar sozinho em locais ermos e escuros;
; Preferir transitar em grupos, de preferência com mais de três pessoas;
; Não dar conversa a estranhos;
; Não ostentar celulares, relógios e joias;
; Redobrar a vigilância em portas de bancos e lotéricas, principalmente na época de pagamentos;
; Transitar menos tempo possível nas áreas inseguras.
Fonte: Polícias militar e civil.