Cidades

Morador do DF perde a vida após pular de paraquedas em Goiânia

Equipamento principal se soltou e o reserva não abriu

Renato Alves
postado em 17/08/2010 07:00
Equipamento principal se soltou e o reserva não abriuUma falha no paraquedas pode ter causado a morte do webdesigner Paulo Henrique de Farias Borges, 26 anos. Morador do Guará, ele perdeu a vida ao saltar nos arredores de Goiânia, na tarde de domingo. Peritos da Polícia Civil de Goiás constataram, em análise preliminar, que o equipamento reserva chegou a ser acionado após o principal se desprender da mochila do rapaz. No entanto, como o material não abriu a tempo, o paraquedista despencou até atingir o solo e morrer.

Após ser analisado no local do acidente pelos técnicos goianos, todo o equipamento usado por Paulo Henrique seguiu para o Grupo Especial de Paraquedismo do Exército, em Goiânia. Peritos militares apontarão a causa da queda. Não há prazo para o laudo. No entanto, um dos peritos da Polícia Civil revelou ao Correio que um dos três dispositivos para abertura do material reserva chegou a ser acionado. Mas não havia mais altura suficiente para sua abertura.

Testemunhas divergem sobre essa hipótese. Elas são unâmines apenas quanto ao início e meio do salto (veja infografia). Paulo Henrique pulou do avião Cessna 182 por volta das 15h, a uma altura de cerca de 1,5km, quando estava sobre o Aeroclube de Goiânia, às margens da GO-070, no entorno da capital goiana. Ele acionou o paraquedas ao deixar a aeronave, conforme treinamento realizado pela manhã e orientação via rádio dos dois instrutores ; um estava no monomotor e outro, no solo.

No Cessna, além do piloto, Paulo Henrique e um dos instrutores, iam outros quatro alunos de paraquedismo, todos moradores do Distrito Federal. Cada um faria dois saltos. Paulo Henrique foi o primeiro a pular. ;Ele vinha fazendo tudo direitinho. Quando falei que ele estava na altura ideal e poderia completar a descida, o paraquedas principal se soltou;, contou o instrutor de paraquedismo Augusto Ribeiro, de 58 anos, que estava no solo.

O rapaz estava entre 400m e 300m do solo quando perdeu o paraquedas principal. ;Ele não poderia se soltar involuntariamente. E não havia mais altura suficiente para abertura do reserva. Sabia disso, pois era um aluno aplicado, muito equilibrado emocionalmente, não tinha vício, nem Coca-Cola bebia;, ressaltou Ribeiro. O instrutor descartou qualquer falha no equipamento. ;Só vamos saber o que realmente ocorreu quando um de nós reencontrar o Paulo Henrique, onde ele estiver;, completou.

Divergências
O outro instrutor, que estava no avião, também duvida de falha material. ;Não há como jogar o paraquedas principal fora involuntariamente, porque é preciso levar a mão e puxar a ferramenta que desconecta;, afirmou Gilvan Barbosa, diretor técnico da Federação Goiana de Paraquedismo. Foi ele quem alugou a aeronave ao grupo brasiliense. Cada aluno pagou R$ 440 (R$ 220 por salto).

Diferentemente dos instrutores, moradores das proximidades do aeródromo afirmaram que a vítima tentou abrir o paraquedas reserva após ter aparente problema com o principal. O delegado responsável pelo caso, Ailton Ligório, da Delegacia de Homicídios de Goiânia, prefere esperar o laudo da perícia para ouvir testemunhas e, depois, concluir o inquérito.

Vítima com pouca prática na modalidade

O corpo de Paulo Henrique de Faria Borges será sepultado somente na tarde de hoje, no cemitério Campo da Esperança. A família preferiu esperar a chegada da mãe dele, que mora na África e deveria desembarcar em Brasília na manhã desta terça-feira. O rapaz vivia sozinho em um apartamento do Lucio Costa, condomínio residencial do Guará.

Paulo Henrique começou a praticar paraquedismo há três meses. Com quatro saltos, era o menos experiente do grupo que deixou a capital do país na manhã de domingo para ter aulas práticas e teóricas no Centro Avançado de Paraquedismo de Goiânia, no aeroclube da cidade a 210km do DF. Para ser considerado um paraquedista autônomo, em condições de dispensar instrutor, são necessários ao menos 26 saltos.

Os quatro eram aprendizes do Clube de Paraquedismo da Asbac. Apesar do nome e de ter uma sala na Associação de Servidores do Banco Central (Asbac), no Setor de Clubes Sul, o Clube de Paraquedismo não tem vínculo legal com a associação. ;Usamos esse nome fantasia porque o clube, fundado em 1982, tinha muitos alunos e instrutores frequentadores da Asbac;, explica Augusto Ribeiro, técnico aposentado do Banco Central.

Em 40 anos de paraquedismo, Ribeiro saltou mais de 7,5 mil vezes. Grande parte no Aeroclube de Goiânia, para onde leva os alunos. ;As aulas teóricas ocorrem em Brasília, mas aqui não temos um local aprovado para as aulas práticas. As opções mais próximas são os aeroclubes de Anápolis e Goiânia;, conta. O equipamento usado por Paulo Henrique pertencia ao Clube de Paraquedismo da Asbac.

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