postado em 17/08/2010 07:00
Aos poucos, o Distrito Federal começa a ganhar uma nova cor em sua paisagem rebuscada por concreto. É o amarelo, que em tempos de seca atrai e encanta olhares com o início do florescer de ipês por toda a capital. Em meio à baixa umidade que tanto incomoda os brasilienses, o árido ganha coloração. De julho até setembro, as flores dos ipês-amarelos surgem e se mostram resistentes à secura do período. O que para os moradores da cidade representa um momento anual de beleza e contemplação, para a espécie é época de reproduzir: é quando essas árvores florescem. As flores, por sua exuberância, atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores, que são importantes agentes polinizadores. A frutificação ocorre entre setembro e outubro. Apesar da expectativa dos habitantes da cidade, já no início da segunda quinzena de agosto, este ano as flores ainda estão escassas. Mesmo assim, o despertar da vibração de tons já é suficiente para trazer mais vida à paisagem.;Faz parte do desenvolvimento da planta florescer nesta época do ano, então ela não sente tanta falta da água no período seco;, explica Carmen Regina Correia, professora de engenharia florestal da UnB. Há várias espécies de ipês-amarelos na capital. Elas pouco se diferenciam umas das outras, e podem ser vistas nos eixos rodoviários Norte e Sul, no Eixo Monumental, na Esplanada dos Ministérios, no Setor Militar Urbano (SMU) e no Parque da Cidade. Algumas cidades mais distantes do centro de poder, como o Gama, também são contempladas com a beleza natural. Ao todo, estão registradas 14 espécies de ipê em todo o Brasil, das quais sete são da variedade amarela. O cerrado abriga três dessas maravilhas: Tabebuia serratifolia, Tabebuia aurea e Tabebuia ochracea, todas da família Bignoniaceae. Os estranhos nomes ganham versões populares. Ipê-amarelo-do-cerrado, ipê-caraíba e pau-d;arco são algumas das denominações das árvores, que, apesar de peculiaridades, guardam características semelhantes ; como as flores em tons de amarelo e o tronco tortuoso, típico de espécies de cerrado.
O grupo da serratifolia é o mais utilizado na arborização da cidade. Nos últimos quatro anos, foram plantados 32 mil exemplares da árvore no DF. A espécie aurea, por sua vez, é conhecida pela sua boa adaptação ao solo. ;Em qualquer lugar do Brasil que você visitar nesta época, encontrará algum ipê florido. O ipê-amarelo é a árvore símbolo do Brasil, exatamente porque ocorre em todos os biomas do país. Encontramos espécies de ipê da Amazônia à caatinga;, destaca a professora.
Admiração
O espetáculo mal começou e já atrai espectadores. A empregada doméstica Cristina Maia, 42 anos, aproveita o tempo em que espera por transporte coletivo, em uma parada de ônibus no Eixo Monumental, próximo ao Teatro Nacional, para observar o desabrochar das flores em uma árvore em frente. ;Esses dias mesmo eram só umas duas flores; agora já tem quase um galho. Acho lindo, acabo me distraindo e nem vejo o tempo passar;, comemora. A secretária Amanda Amaral, 31, nem sequer tinha reparado nas flores, mas, alertada por Cristina, logo passou a observar o espetáculo da natureza. ;Nessa correria do dia a dia, parar e observar o florescer de uma árvore é uma terapia. Agora vou procurar por uma dessas em todo lugar em que eu for;, brinca.
Na L2 Norte, um dos milhares de exemplares de ipê-amarelo do DF se antecipou na temporada de flores e já está completamente carregado. O advogado Leonardo Mourão, que passa de bicicleta pelo local, próximo ao Minas Tênis Clube, todos os dias, admira-se com a árvore: ;Passo sempre rápido por aqui, mas de um dia para o outro floresceu e eu tive que parar. No dia seguinte, tirei até uma foto. Já no fim de semana, estive aqui com a minha mulher, paramos e mostramos as flores para nossa filha. É mais uma das vantagens de viver em Brasília;.
Valor
Além da beleza natural, o ipê é cultuado no mercado. A madeira, de alta densidade, é dura e pesada e vastamente empregada na construção civil e na confecção de mobiliário. O maior valor comercial é encontrado na marcenaria e na carpintaria. O preço médio do metro cúbico de pranchas de ipê é de R$ 1,5 mil. O material também é utilizado para fabricação de pontes, eixos de roda, varais de carroça e moendas de cana.
Já na medicina popular, acredita-se que as folhas, as flores e a casca de algumas espécies de ipê-amarelo têm propriedades curativas. Segundo pesquisas, a entrecasca do ipê-amarelo possui propriedades terapêuticas, atuando como adstringente e podendo ser usada no tratamento de garganta e das estomatites. É também utilizada como diurético. O ipê-amarelo ainda possui flores que, maduras, podem ser utilizadas na alimentação humana.
1 - O cultivo
Os ipês produzem uma grande quantidade de sementes leves, aladas, e que perdem a viabilidade em poucos dias após a sua coleta. Para o cultivo de ipês, as sementes devem ser expostas ao sol por cerca de seis horas e semeadas diretamente nos saquinhos. Em cerca de 80% dos casos, a germinação ocorre após 30 dias. A muda atinge cerca de 30cm em nove meses, apresentando tolerância ao sol três semanas após a germinação. Os ipês, assim como todas as árvores, não devem ser podados, a não ser em caso de medidas extremas, já que a poda afeta a arquitetura da planta.