Renato Alves
postado em 19/08/2010 07:00
Policiais civis buscam provas para pedir a prisão dos autores do triplo homicídio da 113 Sul. Os agentes esperam que as cinco pessoas detidas acusadas de atrapalhar as investigações revelem os detalhes do crime e apontem nomes. Os interrogatórios começam hoje. No início da noite de ontem, os advogados de Adriana Villela, 46 anos, deram entrada em habeas corpus, mas o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) só deve decidir sobre o pedido hoje (leia mais na página 32). Filha de duas das vítimas, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73, e a advogada Maria Carvalho Mendes Villela, 69, ela é citada como suspeita de planejar os assassinatos ocorridos no apartamento dos pais, em 28 de agosto do ano passado. O casal morreu ao lado da principal empregada, Francisca Nascimento da Silva, 58.Adriana está detida desde segunda-feira. Já os outros quatro foram presos na terça. Entre eles, o policial da Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) José Augusto Alves, 41 anos, e Guiomar Barbosa da Cunha, 71, ex-faxineira do casal Villela. Na manhã de ontem, desembarcaram em Brasília, algemados, a vidente Rosa Maria Jaques, 61, e o marido dela, João Tocchetto, 49. O casal estava em Porto Alegre (RS), onde mora. As razões das prisões foram reveladas com exclusividade pelo Correio, na edição de ontem, com a publicação do despacho do juiz Fábio Francisco Esteves justificando sua decisão em acatar o pedido da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), unidade da Polícia Civil do Distrito Federal.
Os investigadores acusam Adriana de tramar com Rosa Maria a fraude da suposta chave do apartamento dos Villela que incriminou três moradores de Vicente Pires(1), Alex Peterson Soares, 23 anos, e Rami Jalau Kaloult, 28,e Cláudio Cláudio José de Azevedo Brandão, 38. Em novembro, a delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP, anunciou ter encontrado a chave no lote onde o trio morava, a prisão deles e a solução do triplo homicídio. No entanto, ao assumirem as investigações, os policiais da Corvida descobriram que, na verdade, a mesma chave apreendida no imóvel dos acusados havia sido fotografada pela perícia nas dependências do apartamento das vítimas no dia em que os corpos foram encontrados. O encarregado de plantar a prova no lote dos três rapazes seria o agente Augusto Alves, segundo o juiz.
Disputa por dinheiro
Em seu despacho, o magistrado Fábio Esteves afirmou haver indícios de que o filho da faxineira Guiomar ; José Ailton Barbosa da Cunha, conhecido como Brechó ; teria indicado o nome de Cláudio para Adriana e Rosa Maria. Guiomar ainda é apontada como autora de artifícios para embaraçar as investigações. A situação de Adriana se complicou quando os agentes apreenderam duas cartas, no escritório dos Villela, em 27 de outubro do ano passado. O teor delas revela, segundo a polícia, conflito entre Adriana e sua mãe por causa do patrimônio milionário da família. ;Os indícios de envolvimento da representada Adriana Villela na morte dos pais e de Francisca assentam-se em provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro entre ela e o pai;, escreveu o magistrado.
Apesar de citar ;provas testemunhais;, ;diálogos monitorados; e impressões digitais de Adriana Villela no apartamento dos pais dela, que pouco frequentava, Fábio Esteves não revela outras provas materiais contra os suspeitos presos. Até agora, houve 10 perícias no local do crime, mas nenhum laudo do Instituto de Identificação ; responsável pela coleta e pela análise das impressões ; foi divulgado. Promotor do Tribunal do Júri de Brasília, Maurício Miranda diz não poder dar detalhes da investigação porque ela corre sob segredo de Justiça. ;Esperamos que, com os depoimentos dessas pessoas presas, avancemos bastante e cheguemos a todos os envolvidos;, afirmou. Ninguém da Polícia Civil dá entrevista. Martha Vargas acabou exonerada da chefia da 1; DP em 29 de abril. No dia seguinte, pediu afastamento da instituição por 30 dias. Ela atendeu uma ligação da reportagem ontem, mas se recusou a comentar as últimas movimentações do caso.
1 - Falta de provas
Alex Peterson e Rami Jalau acabaram presos em 3 de novembro. A partir deles, a polícia teria chegado ao nome de Cláudio Brandão, detido 10 dias depois. Apesar de sempre negarem participação no crime, os suspeitos ficaram em poder da polícia por um mês. Acabaram soltos por falta de provas. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e a Ordem dos Advogados do Brasil divulgaram nota demonstrando preocupação com a possibilidade de os rapazes terem sido torturados.
SEM MORDOMIAS
Braço direito da delegada Martha Vargas, quando trabalharam juntos na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), José Augusto Alves, 41 anos, passou o segundo dia de prisão numa cela modesta na Delegacia de Operações Especiais (DOE), onde há espaço reservado para detenção de policiais civis. O ambiente pequeno possui banheiro e uma cama, mas não tem televisão nem mordomias. José Augusto, que pode receber a visita de advogados, é acusado pela polícia e a Justiça de ter omitido a informação de que conhecia a vidente Rosa Maria e seu marido, João Tocchetto.
Incógnitas sobre o caso
Arma do crime
Segundo o Instituto de Criminalística da Polícia Civil, duas facas foram utilizadas pelos homicidas, mas elas nunca foram achadas. No dia em que a polícia encontrou os corpos, em 31 de agosto de 2009, os policiais recolheram uma faca ensanguentada na pia da cozinha, mas o sangue não era humano e o objeto acabou descartado.
Prova plantada
Quando prendeu dois suspeitos em Vicente Pires, em novembro passado, a delegada Martha Vargas, então chefe da 1; DP, afirmou ter em mão a primeira prova material do crime. Ela informou que, na casa dos suspeitos, encontrara uma chave que abria a porta de serviço do apartamento dos Villela. A Corvida, a partir de exames de peritos, verificou depois que a chave havia sido colocada lá, pois se tratava da mesma recolhida por policiais no imóvel dos Villela na ocasião da descoberta dos corpos. A polícia ainda não se pronunciou para esclarecer se houve erro grosseiro ou fraude.
Acesso ao apartamento
Não se sabe ainda como os criminosos entraram no imóvel dos Villela. Como não havia sinais de arrombamento, investiga-se se eram conhecidos de alguma das vítimas ou se tiveram o acesso facilitado por uma terceira pessoa.