Cidades

Defesa de filha dos Villela vai à OAB contra tortura psicológica e erros

Adriana Bernardes
postado em 19/08/2010 07:00
A defesa de Adriana Villela, apontada pela Justiça como a principal suspeita do assassinato dos pais e da empregada da família, em 28 de agosto do ano passado, partiu para o ataque. Em um documento entregue à Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Distrito Federal (OAB-DF), o advogado Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro acusa a polícia de ter torturado psicologicamente a filha mais velha do casal Villela. Afirma ainda que, em vez de buscar elementos para chegar a um suspeito, a polícia elegeu Adriana como autora dos fatos e, agora, tenta, a qualquer custo, produzir provas para indiciá-la pelo triplo assassinato. Adriana Villela teve a prisão preventiva decretada e está detida desde segunda feira.

Adriana, tida pela polícia como suspeita de ser a mandante dos assassinatos, está detida desde segunda-feiraIntitulado Memorial dos filhos de José Guilherme Villela e Maria Carvalho Mendes Villela, o documento é de 16 de junho, portanto, dois meses antes de a Justiça decretar a prisão preventiva de Adriana Villela. Na época, o advogado narrou o que considera ;equívocos; da investigação e ;fragilidade das provas colhidas;, segundo ele, por meio de métodos classificados como ;questionáveis sob a ótica da dignidade da pessoa humana;. Segundo a defesa, tais provas serviram apenas para que a autoridade policial tirasse conclusões inverossímeis.

Com esses argumentos, Alencastro pede a intervenção da OAB-DF ;a fim de auxiliar na urgente elucidação de tão bárbaro crime e evitar que toda esta situação cause ainda mais sofrimento aos familiares e amigos das vítimas;. O advogado também reclama que a polícia teria mantido agentes vigiando a casa de Adriana e a estariam seguindo pelas ruas da cidade, ;enquanto os verdadeiros assassinos estão à solta, certamente satisfeitos e seguros com a impunidade e plenamente livres para, eventualmente, fazer algum mal aos familiares das vítimas;.

;Aos gritos;
No relato do advogado Rodrigo de Alencastro à OAB-DF, Adriana Villela teria sofrido tortura psicológica quando as apurações já estavam sob a responsabilidade da Coordenação de Investigação dos Crimes contra a Vida (Corvida). Logo após a busca e apreensão em sua casa, Adriana foi convidada a comparecer à unidade policial, onde teria ficado com dois agentes de polícia em uma sala. Aos gritos eles teriam começado a dizer que uma mulher de nome Regina ;já contou tudo e está jogando tudo sobre você; você não planejou a morte dos seus pais ; o que foi que deu errado, hein, Adriana?;. E continuou. ;;o seu objetivo era o closet, não era?;. O closet, segundo escreveu o advogado, é o local onde estariam guardados dinheiro e joias da família (veja quadro com principais pontos do documento).

Alencastro escreve que Adriana foi submetida ;a uma verdadeira tortura psicológica; e que passou também a ser intimidada pelos agentes que teriam dito ;Você mentiu e precisa me dizer a verdade;Você mentiu e tem de escolher se vai responder por isso em liberdade ou ficar presa aqui a partir de hoje;. A delegada Mabel Faria teria dito ao advogado que a entrevista com Adriana fora gravada em áudio. E que, apesar de o material ter sido requisitado pela defesa, a delegada alegou que não poderia entregá-lo antes de disponibilizar a gravação ao juiz e ao promotor do caso.

A OAB-DF designou o conselheiro Eduardo Toledo para acompanhar as investigações. O Correio fez contato com Toledo na tarde de ontem para falar sobre o documento entregue à entidade pela defesa de Adriana Villela, mas ele estava em audiência e não retornou as ligações. Procurada, a direção da Polícia Civil informou que ;todos os atos foram praticados pela autoridade legal, com manifestação do Ministério Público, decisão judicial autorizando, e cumpridas com as formalidades legais, com a presença de testemunhas, sendo depois tudo relatado e juntadas ao inquérito e remetido para conhecimento do judiciário e do promotor que acompanha o caso;.

;Estou absolutamente convicto da inocência dela e não vejo motivos para que se chegasse a essa conclusão lamentavelmente divulgada;, afirmou Alencastro. ;Adriana é arquiteta e artista plástica, não é pessoa com experiência na área segurança, em investigação ou procedimentos policiais que lhe permitisse atrapalhar as investigações;, completou.

Apoio familiarAdvogados Rodrigo de Alencastro (E) e José Eduardo Alckmin pediram a intervenção da Ordem no caso
Adriana Vilela está detida no Presídio Feminino do DF (localizado no Gama) separada das outras presas, em um ambiente que, segundo Alencastro, teria sido improvisado para recebê-la. Mas o local, de acordo com o advogado, não é apropriado. Ele contou que esteve com Adriana ontem, quando conversaram no parlatório ; onde as presas recebem visitas. ;Ela está abaladíssima e, principalmente, indignada com essa acusação cruel de ter participado do crime quando, em todos os momentos, sua intenção e seus atos foram no sentido de contribuir com a investigação;, relatou.

Ainda segundo o advogado de defesa, tanto o irmão de Adriana, Augusto Villela, quanto a filha dela, Carolina, apoiam integralmente as ações da defesa no sentido de conseguir a liberdade para Adriana Villela. ;Eles estão traumatizados com a exposição no primeiro momento e ainda se sentem pouco à vontade para tratar disso publicamente. Mas acompanham e apoiam a defesa da irmã e da mãe;, garantiu Alencastro.

Habeas corpus deve ser apreciado hoje
>> Ary Filgueira

Os advogados de Adriana Villela, 46 anos, acreditam que a passagem da cliente pela prisão será curta. A confiança de José Eduardo Alckmin e Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro está, segundo eles, na fragilidade da investigação. ;Os fatos que incriminam nossa cliente são inconsistentes;, explicou Alckmin. Na tarde de ontem, eles entraram com o pedido de habeas corpus no TJDFT requerendo a liberdade da única filha do casal assassinado.

A defesa alega que única prova contra Adriana é o depoimento de uma funcionária do Edifício Summer Park. A mulher teria reconhecido a filha do casal por meio de uma fotografia mostrada pela polícia. Ela afirma que Adriana esteve no local onde a paranormal Rosa Maria Jaques ficou hospedada por 30 dias, em 2009. ;O rosto de Adriana apareceu em muitos jornais e a moça pode ter se confundido;, disse Alencastro.

O relator do caso é o desembargador Romão Cícero. Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, ele levou os documentos para casa e deve decidir hoje à tarde se acata o pedido da defesa. Adriana Villela está presa desde a segunda-feira e é apontada pela polícia como a principal suspeita do crime.


Principais alegações

Trechos do memorial que a defesa de Adriana Villela entregou à OAB-DF pedindo a intervenção da entidade para a elucidação rápida do triplo homicídio:

Tortura psicológica repulsiva
;;foi convidada (Adriana Villela) a comparecer à unidade da Corvida, colocada em uma sala com dois agentes de polícia, os quais aos gritos passaram a dizer que Regina ;(;já contou tudo e está jogando tudo sobre você;, que ;você não planejou a morte dos seus pais; o que foi que deu errado, hein, Adriana?;, além de que ;o seu objetivo era o closet, não era?; ; local em que estariam guardados o dinheiro e as joias. Vale dizer, a requerente foi submetida a uma verdadeira tortura psicológica.;

Polícia elege suspeitos
;Ao que tudo indica, está-se diante de hipótese de absoluta inversão da ordem natural no andamento de uma investigação policial: em lugar dos responsáveis pelo andamento do inquérito buscarem elementos de prova e de convicção para chegar a um suspeito, elegeram Adriana como autora dos fatos com base em meras ilações e conjecturas, visto que ausentes elementos concretos a justificar tal suspeita e agora tentam, a todo custo, produzir as provas necessárias a buscar o seu indiciamento. Vale dizer: primeiro um suspeito, depois as provas contra ele.;

Suposições infundadas
;As suspeitas da autoridade policial estão baseadas em eventuais e isolados desentendimentos entre a requerente e a sua falecida mãe, comuns em qualquer família e justificados pelos fortes traços de personalidade que trazem como características marcantes. O choque de gerações, a diversidade de conceitos e a forma diametralmente oposta de encarar os fatos da vida faziam com que, pontualmente, tivessem algumas discussões. Tais informações foram trazidas aos autos pela própria Adriana, como reconhece a autoridade policial.;

Irregularidades e competição entre delegacias
;Tal circunstância tem colocado em lados opostos duas unidades da Polícia Civil do Distrito Federal: a 1; Delegacia de Polícia, que teve a sua delegada-chefe recentemente afastada de suas funções, e a Corvida que, agora, tenta provar que os colegas cometeram irregulares, o que, sem pretender emitir qualquer juízo de valor, coloca Adriana no meio de uma acirrada disputa interna da instituição.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação