Adriana Bernardes
postado em 20/08/2010 07:00
A Polícia Civil do Distrito Federal diz ter provas suficientes para, antes do término da prisão temporária decretada pela Justiça, indiciar Adriana Villela, 46 anos, pela morte dos pais ; o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme e Maria Carvalho Mendes Villela ; e da empregada Francisca Nascimento da Silva, mortos com 73 facadas em 28 de agosto de 2009(1). O crime ocorreu no apartamento do casal, na 113 Sul, e os corpos só foram encontrados por familiares e pela polícia três dias depois. Adriana e mais quatro pessoas foram presas no início da semana sob a acusação de atrapalhar o trabalho de apuração conduzido pela Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), que em dezembro assumiu o caso. Ontem, a Justiça negou habeas corpus para soltar Adriana, que permanece detida no Presídio Feminino do Gama. No entanto, concedeu liberdade ao policial José Augusto Alves, que seria solto até a meia-noite ; Augusto havia sido preso na última terça-feira sob acusação de ajudar Adriana a atrapalhar as investigações. Além da filha dos Villela, continuam presos ; também sob a justificativa de orquestrarem ;ação para embaraçar as investigações ; a paranormal Rosa Maria Jaques e seu marido, João Tocchetto, e Guiomar Barbosa da Cunha, ex-empregada da família.
Na decisão em que negou a liberdade à filha dos Villela, o desembargador Romão Cícero, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), sustenta que as provas do inquérito demonstram que ela ;não revelou tudo o que sabe ou declara mais do que sabe a respeito dos crimes em apuração;.
Entre as provas reunidas pela polícia e apresentadas à Justiça com o pedido de prisão temporária estão depoimentos de testemunhas, impressões digitais de Adriana colhidas na casa dos pais e rastreamento de celulares. De acordo com fontes policiais, peritos encontraram digitais da filha do casal no closet do apartamento, onde eram guardadas as joias e o dinheiro roubados na noite do crime. Também havia vestígios na pia e nas toalhas de um dos banheiros do imóvel.
A defesa da acusada alega ser normal haver impressões digitais de Adriana no apartamento dos pais, mas a polícia sustenta que ela raramente frequentava a residência da família (leia mais na página 25). De acordo com a polícia, também pesa contra a filha dos Villela uma ;extrema mobilização no dia do crime, a fim de criar um álibi;. Além disso, sustenta a polícia, ;destoando de sua forma de agir costumeira, normalmente imediatista, (Adriana) retarda, ao máximo, no dia em que os corpos foram localizados (31 de agosto de 2009), sua chegada à residência das vítimas, pelas quais não procura de forma alguma, durante o final de semana e toda a segunda-feira, mesmo em face das insistências de Carolina Villela (filha de Adriana e neta dos Villela;.
Ontem, a Corvida começou a ouvir depoimentos dos cinco presos acusados de atrapalhar as investigações. Após essa fase, deve indiciar Adriana e pedir sua prisão preventiva. De acordo com o pedido de prisão temporária feito à Justiça, a filha do casal morto é apontada pela polícia como a principal suspeita do crime. Os investigadores ainda buscam esclarecer se Adriana teria sido apenas a mandante dos assassinatos ou se teria tido participação direta nas mortes. Por enquanto, as investigações indicam que pelo menos duas pessoas agiram no apartamento da 113 Sul na noite de 28 de agosto, quando os três foram mortos a facadas. No local, não havia indícios de luta corporal nem arrombamento. O apartamento foi trancado à chave pelos criminosos. A polícia já concluiu, por exemplo, que alguém conhecido da família facilitou o acesso dos assassinos ao imóvel.
Reclamações
Os advogados de Adriana Villela criticam(2) a condução das investigações do crime. De acordo com eles, a polícia primeiro elegeu um suspeito, para depois produzir as provas contra ele. Sobre o fato de o habeas corpus ter sido negado, a defesa ressaltou que a decisão é em caráter liminar. ;Nós aguardamos de forma serena o pronunciamento do Judiciário. Não quero fazer nenhuma pressão. As coisas devem seguir os cursos corretos;, afirmou Rodrigo de Alencastro, um dos advogados que representam Adriana Villela.
Em entrevista concedida na entrada do Presídio Feminino do DF, no Gama, Alencastro afirmou não haver provas contra sua cliente. ;A situação é dramática. Estamos impressionados com as conclusões da autoridade policial. Não existem provas de que ela é culpada. O fato não está consumado. Estamos em uma fase preliminar e não há sequer indiciamento.;
1 - Depois do trabalho
Segundo informações de peritos, os assassinatos foram cometidos entre as 19h30 e as 20h30 de 28 de agosto passado, uma sexta-feira. Naquele dia, tanto José Guilherme quanto Maria Carvalho haviam trabalhado normalmente no escritório de advocacia que o casal mantinha no Setor Comercial Sul. Ambos chegaram em casa no início da noite.
2 - Tortura psicológica
Há dois meses, a defesa de Adriana Villela encaminhou um documento à Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Distrito Federal (OAB-DF), pedindo a intervenção da entidade no caso. Os advogados reclamavam que Adriana havia sido vítima de uma ;verdadeira tortura psicológica; por parte de policiais, que pretendiam incriminá-la a qualquer custo.
Colaborou Luiz Calcagno
Cálculos
Completam-se hoje
354 dias
de investigação do crime da 113 Sul, que começou três
dias após José Guilherme Villela, Maria Villela e
Francisca da Silva terem sido mortos.
Eles levaram ao todo
73 facadas
Foram realizadas ao menos
10 perícias
no apartamentos dos Villela nos primeiros
dias após o triplo homicídio.
De acordo com laudo do Instituto de Criminalística,
2 bandidos
atacaram as vítimas.
O imóvel do Bloco C da SQS 113 deveria ser protegido por sistema de segurança, mas, segundo a polícia, o alarme estava desativado havia
3 meses
No período em que o caso esteve sob a responsabilidade da 1; DP, a delegada Martha Vargas informou que foram roubados do apartamento aproximadamente
R$ 700 mil
entre joias e dólares.
O objeto mais caro ; uma gargantilha
de diamantes ; estava avaliado em
US$ 28 mil
Somente o patrimônio imobiliário do casal chegaria a
R$ 12 milhões
Desde o início dos trabalhos de apuração,
10 pessoas
foram presas.
Dessas,
5 homens
chegaram a ser apontados como suspeitos de terem executado
os assassinatos, mas acabaram soltos por faltas de provas.