Luiz Calcagno
postado em 20/08/2010 07:00
Em seu terceiro dia na Penitenciária Feminina do Distrito Federal(1), popularmente conhecida como Colmeia, Adriana Villela, 46 anos, recebeu as primeiras visitas na manhã de ontem. Adriana é acusada de obstruir as investigações policiais do homicídio dos próprios pais e da empregada deles. Estiveram na prisão a filha de Adriana, a advogada Carolina Villela, 25 anos, o irmão Augusto Villela, a tia de Adriana, a professora Célia Mendes, e um primo da mulher, o juiz Marcus Menezes Barberino Mendes.
O encontro com os parentes ocorreu no dia de visitação(2) da penitenciária, localizada no Gama. Familiares de vários presos estavam no local. Os quatro chegaram por volta das 11h20. Eles pararam o carro no estacionamento reservado a advogados. Por volta das 11h40, Augusto e Carolina entraram para ver Adriana. Ficaram lá por uma hora e saíram às 12h20. Quando Célia e Marcus Menezes entraram, Carolina e o tio foram embora. Por volta das 13h25, retornaram para buscar os parentes. Trouxeram uma sacola que levava, aparentemente, roupas e cobertores e outra com duas garrafas.
Tamanho
O irmão de Adriana não quis conversar com a reportagem. Carolina falou brevemente sobre o sofrimento da família. ;A nossa dor é muito grande. Estamos preferindo não conversar com a imprensa, deixamos isso para os nossos advogados;, afirmou a neta do casal Villela.
Quando a tia e o primo de Adriana saíram, fizeram questão de se identificar. ;Viemos ver Adriana. Não há nada de errado nisso;, disse Célia, que é irmã de Maria Villela. Em seguida, entraram no carro e foram embora com Carolina e Augusto.
As celas do presídio feminino têm um tamanho padrão, de 6m por 4m. Há uma ala para presas comuns e outra para detentas de nível superior. É nela que Adriana Villela, formada em arquitetura, está detida. Além disso, segundo determina a lei, qualquer pessoa em prisão preventiva deve permanecer em ambiente separado das demais. Nessa ala, o número de presas por cela também é menor ; média de seis, enquanto na área de detidas comuns sobe para 20 por unidade. No entanto, segundo o advogado da acusada, Rodrigo Otávio Barbosa de Alencastro, Adriana está sozinha na cela.
1 - Capacidade
A Penitenciária Feminina do DF fica no Setor de Chácaras do Gama. O lugar recebe as presidiárias em regime aberto, semiaberto e detidas provisoriamente. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do DF, o presídio trabalha, atualmente, com sua capacidade máxima, com cerca de 480 mulheres.
2 - Horários
A visita às mulheres presas na Colmeia é autorizada todas as quintas-feiras, das 9h às 15h. Entram duas pessoas por vez, mas elas não podem levar comida, somente frutas. Já os advogados das detentas têm a prerrogativa de ir em qualquer dia, em qualquer horário, inclusive à noite.
Situação ;surreal;
Alencastro, que chegou ao presídio por volta das 16h25 de ontem, disse que Adriana está abalada e inconformada com a situação, que ele classificou de ;surreal;. Além disso, ele garantiu que Adriana é tratada igual a todas as outras detentas. Ele também falou da família de Adriana. ;Mantenho contato com eles. Estão todos muito abalados, e nenhum deles acredita que minha cliente possa ser culpada de alguma coisa. A situação é dramática;, disse.
A reportagem também conversou com um advogado que atende presas da Penitenciária Feminina do DF. De acordo com ele, independentemente da ala onde se encontram, as mulheres sofrem uma série de restrições. Elas só podem ter quatro peças de roupa íntima por semana, dois sabonetes de cor clara, seis frutas, um desodorante, um xampu e um condicionador, todos transparentes.
Funcionários de prédio comentam rotina
>> Noelle Oliveira
Uma mulher sem horários fixos e reservada com desconhecidos. É essa a impressão que Adriana Villela, 46 anos ; considerada pela polícia a principal suspeita da morte de seus pais, o casal José Guilherme Villela e Maria Carvalho Villela ; passa para quem a conhece. Amigos próximos à filha de Adriana, Carolina Villela, 25 anos, afirmam que a arquiteta e artista plástica era uma mãe um pouco distante, porém simpática ao conviver com o grupo de colegas da filha.
Adriana engravidou aos 21 anos de um relacionamento não oficializado, mas o companheiro morreu antes mesmo que a criança nascesse. Mãe e filha viveram por aproximadamente 10 anos na mesma quadra de José Guilherme e Maria, a 113 Sul, mas em um prédio vizinho ao C. Dividiam um apartamento de três quartos no quarto andar do Bloco F. Segundo os funcionários desse edifício, Adriana raramente se dirigia à casa dos pais(1). Maria, porém, visitava inúmeras vezes a residência da filha e era bastante ligada à neta. Sempre que ocorria uma reforma no apartamento do Bloco F, por exemplo, a matriarca Villela comandava o processo.
O apartamento em que Adriana morava, aliás, está no nome de Maria Villela, a quem cabia pagar o condomínio do imóvel. A cobrança era encaminhada pelos empregados do Bloco F ao apartamento do Bloco C. Também era Maria quem organizava as festas de aniversário da neta e sempre a buscava no colégio. Adriana chegou a viver alguns anos em Alto Paraíso (GO), onde tem uma casa, enquanto a filha permaneceu na capital, com os avós.
O pai de Adriana, por sua vez, nunca visitava a casa da filha. ;Só víamos ele aqui embaixo quando ele ia caminhar;, afirma um funcionário de um bloco próximo. Augusto Villela, irmão mais novo de Adriana, também visitava pouco os pais. ;A única vez que o vi aqui foi quando a polícia veio devolver as chaves do imóvel, depois do fim das perícias;, afirma um morador do Bloco C.
Defensora do meio ambiente, sempre que fazia festas em casa, a arquiteta Adriana guardava as garrafas de vidro que iriam para o lixo. Também artista plástica, resolveu transformar a sucata em painéis. Passou ainda a trabalhar com produtos como vidro reciclado e cartões artesanais.
Quando Carolina Villela completou 18 anos e ganhou dos avós um apartamento, no Bloco K da SQS 113, para onde se mudou, Adriana resolveu também trocar de endereço. Foi morar em uma casa no Lago Sul, de propriedade dos pais. Após a morte do casal Villela, no entanto, a herdeira mudou-se novamente, para um apartamento na 309 Norte.
Conflitos
De acordo com o Ministério Público e a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), unidade da Polícia Civil do Distrito Federal que assumiu a investigação do caso em dezembro do ano passado, Adriana teria tentado confundir o trabalho de investigação dos policiais e impedir que sejam descobertos os assassinos de seus pais. No começo das investigações ela chegou a prestar depoimento na condição de colaboradora. Foi Adriana, inclusive, quem fez os desenhos das joias da família levadas do apartamento provavelmente no dia do crime.
A filha dos Villela teria interesse no patrimônio milionário dos pais, destacou em sua decisão o juiz Fábio Francisco Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília. Duas cartas de Adriana para a mãe, apreendidas no escritório dos Villela em 27 de outubro passado, revelariam um conflito com o casal, por questões financeiras. De acordo com testemunhas, a herdeira vinha se desentendendo principalmente com a mãe, ;administradora das finanças do casal;.
Assim como o irmão Augusto e a filha Carolina, Adriana sempre evitou dar entrevistas(2) sobre o triplo assassinato. O último fim de semana que passou em liberdade, Adriana usou para fazer programas comuns. No sábado, foi a uma loja de eletrodomésticos, no Conjunto Nacional, onde comprou um aparelho de televisão. Já no domingo, jantou com alguns amigos. Adriana foi presa em casa, na última segunda-feira.
1 - Dinheiro
De acordo com o juiz que decretou a prisão temporária de Adriana Villela, o suposto envolvimento no crime se baseia em ;provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro entre ela e os pais; e em provas materiais. Uma delas seria justamente o fato de terem sido encontradas ;impressões digitais no apartamento das vítimas, local que (Adriana) pouco frequentava;. Além disso, a Justiça aponta sua ;extrema mobilização (da acusada) no dia do crime, a fim de criar um álibi;.
2 - Emoção contida
Em um dos poucos momentos em que se pronunciou publicamente sobre a morte dos pais, na missa que marcou o primeiro mês da morte do casal Vilella, em setembro do ano passado, Adriana foi contida nas palavras. ;Agradeço aos amigos que estão orando para que nossos pais descansem em paz e que a gente tenha força para perdoar tanta violência e viva em harmonia;, disse na ocasião.