Helena Mader
postado em 20/08/2010 07:00
A Polícia Civil vai investigar se o fotógrafo de festas infantis Luiz Fernando Corrêa Andrade, 22 anos, fazia parte de uma rede de pedofilia. O Instituto de Criminalística vai fazer perícia no computador apreendido no estúdio do acusado para analisar os arquivos armazenados e os e-mails trocados por ele. Na máquina, havia pelo menos 120 imagens pornográficas de crianças. Luiz Fernando foi preso em flagrante na manhã da última quarta-feira, acusado de ter abusado sexualmente de uma menina de sete anos, dentro de seu estúdio. O fotógrafo continua preso na carceragem do Departamento de Polícia Especializada e responderá pela prática de três crimes(1).
A vítima prestou depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e também passou por exames no Instituto Médico Legal, onde não foram constatadas lesões. De acordo com a polícia e com a garota, Luiz Fernando fotografou e acariciou a genitália da criança durante um ensaio fotográfico na sala comercial do acusado. Pelo artigo 217 do Código Penal, atos libidinosos (como carícias) praticados contra menores de 14 anos são classificados como estupro. A pena para esse crime varia entre 8 e 15 anos de detenção. Em nenhuma das denúncias, há suspeita de conjunção carnal. Pelos relatos, o acusado acariciava a genitália das vítimas.
Ontem, o estúdio Luiz Fernando Produções Fotográficas ; que funcionava no subsolo de um prédio comercial da Quadra 303 do Sudoeste ; ficou fechado. Comerciantes que trabalham em lojas vizinhas demonstravam surpresa com a prisão do fotógrafo. ;Ele parecia uma pessoa normal, tratava todos muito bem. O estúdio vivia cheio de crianças, mas nunca desconfiamos de nada. É um choque para todo mundo;, contou a dona de um salão de beleza, que preferiu não se identificar. A notícia também causou polêmica no mercado de festas infantis, já que dezenas de empresas, algumas muito conceituadas no setor, contratavam Luiz
Fernando ou indicavam seus serviços aos clientes.Na 3; Delegacia de Polícia, onde a ocorrência foi registrada, os agentes aguardam o laudo do Instituto de Criminalística para dar prosseguimento às investigações. ;Vamos verificar todas as trocas de e-mails e arquivos para saber se ele só armazenava as fotos pornográficas ou se trocava o material pela internet;, explica o delegado-chefe da 3; DP, Aluízio Carvalho.
Esse é o terceiro processo contra Luiz Fernando. Ele já havia sido indiciado duas vezes pelo mesmo crime. Em todos os casos, os abusos ocorreram em festas infantis ou no estúdio do acusado, ou seja, ele usava a profissão para se aproximar de seus alvos.
Psicologia
Na DPCA, onde a vítima mais recente prestou depoimento, os agentes têm formação especializada em psicologia para ouvir as crianças de maneira que possam minimizar os traumas. Em uma sala especial, meninos e meninas de 3 a 11 anos são entrevistados com a ajuda de bonecos que reproduzem a anatomia do corpo humano, inclusive com órgãos sexuais. Assim, a demonstração do abuso pode se tornar uma atividade lúdica, facilitando o relato aos agentes. ;Tudo o que é dito durante essas entrevistas é incluído em um relatório. Com essa prática, é possível estabelecer uma relação de confiança com a criança, o que facilita as entrevistas;, conta a delegada-adjunta da DPCA, Alessandra Lacerda Figueiredo. ;Na maioria dos casos de abuso, a vítima conhece o abusador previamente;, acrescenta.
A delegada Alessandra explica que Luiz Fernando não foi preso anteriormente, mesmo já tendo sido indiciado, porque nunca houve flagrante. ;No inquérito anterior, a vítima contou que o fotógrafo havia acariciado seus órgãos sexuais enquanto ela brincava no escorregador de uma festa. Mas não houve flagrante e não havia requisitos para a prisão temporária ou preventiva;, explica a delegada.
Diálogo
Para especialistas, é preciso muito diálogo com os filhos para evitar casos como esse. Além disso, os pais têm que recorrer a ajuda especializada em caso de abuso. Professor do mestrado em psicologia da Universidade Católica de Brasília e especialista em violência sexual contra crianças e adolescentes, Vicente Faleiros explica que é essencial tirar a culpa da criança. ;Uma das maneiras de amenizar o trauma é bastante que o abusador é o culpado, já que muitas vezes eles usam o discurso de que a criança se insinuou. O abusador é um enganador, usa estratégias de sedução junto com ameaças;, afirma o especialista.
Faleiros afirma que uma das principais estratégias desses homens é ganhar a confiança de suas vítimas. ;O discurso, as atitudes, tudo é pensado para aliciar a criança e conseguir ficar a sós com a vítima. Os pais devem ficar alertas quando alguém pede para tomar banho sozinho com a criança, quer ficar embaixo do cobertor, ou passeando a sós. É importante ter uma atitude preventiva, conversando com os filhos e alertando sobre como agir;, finaliza.
1 - Indiciamentos
Além de responder por estupro de vulnerável, o fotógrafo também será indiciado por armazenar imagens pornográficas de crianças, crime que prevê pena de 1 a 4 anos de detenção; e lesão corporal simples, já que Luiz Fernando agrediu o pai da vítima. Por isso, a pena prevista é de até um ano de prisão.
"No inquérito anterior, a vítima contou que o fotógrafo havia acariciado seus órgãos sexuais enquanto ela brincava no escorregador de uma festa. Mas não houve flagrante e não havia requisitos para a prisão temporária ou preventiva;
Alessandra Lacerda Figueiredo, delegada-adjunta da DPCA
Opinião do internauta
Leitores comentam reportagem sobre fotógrafo preso após abusar de menina de sete anos em seu estúdio:
Dario Ramirez
;O que mais me intriga é que esse cara, mesmo com acusações anteriores, trabalhava em parceria com várias empresas organizadoras de eventos. É um absurdo!”
Marta Morais
;É revoltante. O bandido que abusou de uma criança da minha família, o que foi confirmado por psicólogos da vara da infância, também está solto. É isso aí, quem fica preso hoje é a vítima, é a família. Esse caso poderia ter sido evitado se esse marginal estivesse preso.;
Paulo Amorim
;A inocência das mães é incrível. Deixar um indivíduo se trancar com uma criança é, no mínimo, uma atitude displicente. Como é que, nos dias atuais, não se pesquisa o histórico de uma pessoa e se permite que ele se tranque com a própria filha?;
Cássia Lopes
;A mãe já deve estar sofrendo demais para ser culpada por isso. Ninguém busca ficha criminal do fotógrafo da festinha do filho. Tenho um filho e imagino o que essa mãe está sentindo e tenho certeza que o pior de tudo é a culpa. Acho que não se deve julgar e condenar a mãe e, sim, esse monstro.;
Roberto bt
;Triste é saber que precisou do terceiro caso para que fosse tomada uma providencia sobre esse indecente. Que não fique impune para depois praticar mais atos imorais.;
Raquel Almeida
;É o fim da picada que esses profissionais que lidam com festas infantis não façam uma pesquisa na ficha de seus prestadores de serviço. Não importa se o cara não foi pego em flagrante. Ele já tinha duas acusações.;
Leonardo Silva
;Agora vem o ;será;. Será que foram somente três crianças? Será que vai responder ao crime em liberdade? Será... Será... O pior é, ainda por cima, ter agredido o pai da criança! Será que fica preso?;
José Alencar
;A lei da Ficha Limpa deveria ser estendida a todos os profissionais que trabalham com crianças como fotógrafos, professores, etc. Deixar alguém acusado de pedofilia continuar trabalhando com crianças é uma vergonha.;